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    Ponto de Vista: Surrealismo Para Tempos Surreais
    criação da schiaparell por daniel roseberry verão 20
    Ponto de Vista: Surrealismo Para Tempos Surreais
    POR Redação

    Por Dimas Henkes

    Sempre me fascinei por surrealismo, utopias, delírios e sonhos, mas foi com o movimento de grandes peões da moda, da música e de criadores de imagens do entretenimento que comecei a perceber que esses temas estão pipocando por todos os lados novamente. E, relendo alguns estudos que estava fazendo sobre estes mesmos temas, pude combinar algumas teorias interessantes sobre o que estamos vivendo.

    Em uma entrevista na televisão, Eduardo Galeano conta que seu colega, Fernando Birri, explica a função da utopia. Ele conta que “ela está no horizonte. Nunca alcançaremos ela. Se eu der dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto eu mais a procure, menos a encontrarei, porque ela vai se distanciando quanto mais me aproximo. E a utopia serve pra isso: pra caminhar.”. Em seguida, o escritor recita seu texto “El Derecho al Delírio”, a chave inspiradora a assentar esse texto, que viveu brevemente em meus sonhos.

    “Mesmo que não possamos adivinhar o tempo que virá, temos ao menos o direito de imaginar o que queremos que seja.” Eduardo Galeano

    O movimento do Surrealismo nasceu em Paris, na década de 1920 (pós-Primeira Guerra Mundial e Dadaísmo), com o intuito de enfatizar a necessidade de luta contra a razão e salvar a imaginação, recusando-se a aceitar a realidade ordinária do senso comum. O objetivo era despertar do inconsciente o que as relações sociais e a vida civilizada reprimem no ser humano, criando liberdade material e espiritual. E questionar, afinal, “o que é o certo?”. Uma Guerra Mundial? Ou sonhar?

    "the lovers" de rene magritte, 1928

    “the lovers” de Rene Magritte, 1928

    Ferreira Gullar já dizia que “a arte existe porque a vida não basta” e, por isso, é interessante ver quantas marcas estão voltando para o lugar mais fértil criativamente para criar suas coleções: os sonhos.

    Em algum momento desse ano você com certeza deve ter visto pelo menos uma peça da Schiaparelli na mídia. Lady Gaga usou um vestido azul e vermelho com uma grande pomba dourada no peito na cerimônia de posse do presidente Joe Biden (surreal esse momento, né?). Beyoncé usou um look todo preto junto de luvas com unhas e maxi brinco e colares dourados na cerimônia do Grammy desse ano.

    Beyonçe e Lady Gaga de Schiaparelli

    Beyonçe e Lady Gaga de Schiaparelli

    Ou até as imagens meméticas do abdômen da Kim Kardashian ou o vestido da Noah Cyrus, as duas também assinadas pelo Daniel Roseberry, diretor driativo da maison atualmente.

    Kim Kardashian e Noah Cyrus de Schiaparelli

    Kim Kardashian e Noah Cyrus de Schiaparelli

    Tudo parece ter saído de um sonho. E não é a toa. As roupas de Elsa Schiaparelli eram feitas para valorizar e modificar o olhar sobre as mulheres nos anos 30s, que passavam por uma revolução de seus direitos. Suas criações sempre foram ousadas, vanguardistas e extravagantes, pois não se limitavam à silhueta e a simplicidade do contexto da época, mas adicionava elementos surreais de forma divertida e inusitada. O quão surreal era uma mulher ter direitos nessa época? Inclusive, a grande colaboração da marca, na época, foi com o próprio Salvador Dalí, protagonista do movimento do surrealismo que pintava e esculpia seus próprios sonhos.

    E, falando em sonhos, é importante mencionar que, no Brasil, as marcas também estão bebendo da fonte do surrealismo. A marca paulistana MNISIS lançou a coleção “CAMA”, que conta com orelhas, mãos, narizes e pés para usar como brincos, anéis e pingentes, além de roupas com materiais reutilizados e uma paleta de cores que nos remetem aos nossos sonhos mais doces. O próprio nome da coleção menciona o lugar mais seguro e confortável para sonhar: nossa cama.

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    peças da MNISIS

    E não é só na moda que o assunto está em pauta. Na música, o surrealismo também já conquistou o mainstream. Billie Eilish, que recebeu o prêmio de Melhor Álbum do Grammy de 2020, trabalha com um elemento musical peculiar, vamos pegar o exemplo da música Bad Guy: o refrão passa ao ouvinte uma rima discreta, meio sussurrada, como num fluxo de consciência de um sonho (ou pesadelo).

    Bad Bunny, o artista mais tocado no Spotify no ano de 2020, cria videoclipes extremamente surreais, ligando a cultura latina, o reggaeton e o surrealismo à Cultura Pop.

    E, voltando para a Lady Gaga. A cantora surpreendeu todos os seus fãs com um curta e uma enchurrada de referências de filmes de diretores que trabalham com surrealismo e sonhos.

    Em “911”, Lady Gaga diretamente referenciou Alejandro Jodorowky (com “El Topo” e “The Holy Mountain“), Sergei Parajanov (com “The Color of Pomegranates“) e Fellini (com “8½”). Todos esses diretores trabalham diretamente com os seus sonhos, às vezes até reproduzindo cenas idênticas com o que sonharam. Não é a toa que a cantora fez isso em um momento pandêmico e com a política em colapso. É a arte dos sonhadores que nos salvam. E ela nos entregou uma lição de casa para ser feita, pois a realidade é sufocante. Sonhar é necessário!

    Na literatura brasileira, fomos agraciados pelo novo instantâneo clássico contemporâneo brasileiro, “Torto Arado”. O livro, escrito pelo baiano Itamar Vieira Junior, conta a história das irmãs Bibiana e Belonísia, marcadas por um acidente de infância, e que vivem em condições de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina.

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    A escrita de Itamar é extremamente realista e é no realismo das relações humanas que mergulhamos no surrealismo do outro. As ações e escolhas que fazemos na vida podem respingar ou até encharcar a vida de outras pessoas. O próprio escritor foi o primeiro aluno a integrar o programa de bolsas de estudo do professor Milton Santos na Universidade Federal da Bahia, que entrou para estudar geografia e acabou se tornando a revelação da literatura brasileira. Surreal.

    Por isso, como disse o uruguaio Eduardo Galeano citado no início do texto: Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?

    Dimas Henkes é curador musical e cultural, consultor de conteúdo e diretor do programa Bumbum na rádio Veneno.

    OS ARTIGOS sobre pontos de vista SÃO DE EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES E NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DESTE SITE.

     

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