Porque amamos ‘We Are Who We Are’, serie da HBO que não terá segunda temporada
Porque amamos ‘We Are Who We Are’, serie da HBO que não terá segunda temporada
POR Redação

Por Luiz Henrique Costa

Uma aguardada segunda temporada da série We Are Who We Are foi descartada pela HBO deixando espectadores frustrados pelo mundo. Mas não fique triste, nada pode apagar os oito episódios sensacionais dirigidos pelo mesmo diretor do tão falado “Me Chame pelo seu nome” a um play de distância.

Já é costumeiro, vira e mexe, seja por motivos de orçamento, baixa audiência ou disponibilidade de equipe, uma produtora anunciar o ponto final de uma série ou a franquia de um filme promissor. Os fãs sofrem, lamentam, esperneiam, se jogam pelo chão. Ás vezes a indignação gera resultados como aconteceu em “Sense8” da Netflix, que deixava uma dezena de pontas soltas e sem dúvida merecia, se não uma temporada final, ao menos um episódio em que esclarecesse tantas dúvidas que pairavam sob os seus curiosos expectadores.

Nessa semana foi a vez da HBO anunciar que “We Are Who We Are” não terá uma segunda temporada. A diferença neste caso é que a primeira  – e agora sabemos que única –  temporada da série tem início, meio e fim e do ponto de vista narrativo pouco ou nada se perde com a produção de uma sequência.   

Claro que quando dedicamos tantas horas do nosso precioso tempo acompanhando uma série se torna impossível não criar laços com os personagens e com isso queremos saber como seguirá a vida deles. Mas… c’est fini. Acabou.

Por essa razão, resolvemos elencar aqui alguns motivos pra você que ainda não maratonou  “We Are Who We Are” dar uma chance para acompanhar a rotina dos nossos descolados adolescentes vida loka.

Por que assistir We Are Who We Are

Se você acompanha o FFW adora moda…

…E poderá acompanhar diálogos muito contemporâneos sobre o tema na série:

Porque você lê poesia?

– Pela mesma razão que odeio a sua roupa. É fast-fashion. Você compra o que acha que gosta e joga no lixo em dois meses. Procuro coisas que tem significados.

A frase acima não foi dita pelo belga Raf Simons e sim pelo protagonista, Fraser, com ar meio blasé e dando um xoxo na coleguinha enquanto tomam sol em um típico dia de verão na Itália. O sonho de Fraser é se tornar estilista e ele dá evidentes sinais desse desejo com seus looks criativos, cabelo descolorido, unha esmaltada e gosto por acompanhar vídeos de Karl Largerfeld no Youtube.

O diretor e criador Luca Guadagnino

luca guadagnino dá instruções ao elenco de We Are Who We Are
luca guadagnino dá instruções ao elenco

O italiano dirige os oitos episódios da série e se esforça na árdua tarefa de superar o próprio hype que criou para si após o seu trabalho mais relevante “Me chame pelo seu nome”, uma adaptação quase cirúrgica do livro homônimo do André Aciman e vencedor do cobiçado Oscar de melhor roteiro adaptado na época. Luca já disse publicamente que quando ouve o termo “estilo” a respeito do seu trabalho tem vontade de sacar uma arma do bolso. Tomara que ele não ande armado, porque a sua mão na direção é evidente em todas as cenas. Ao lado dos roteiristas Francesa Manieri e Paolo Giodano eles criaram ‘Um microcosmos que recria os EUA fora de suas fronteiras”  passando por temas diversos e relevantes como fluidez de gênero até o clima geral que pairava no ar durante o processo eleitoral de Donald Trump em 2016, os preconceitos que acercam o Islamismo e uma simpática inspiração na infância da atriz Amy Adams que cresceu em uma base militar de forma muito semelhante a do personagem principal.

A Itália de Guadagnino começa ensolarada, com muita luz natural e vai se tornando cinza a medida que nos aproximamos do arrastado sétimo episódio. Com um olhar fresh, ele se joga sem medo em cenas com frames congelados, câmeras invertidas, lentas, brincando com a arte do texto nas aberturas. Além disso, e o que mais gosto em especial, é como o tempo passa de um jeito muito particular na direção de Luca. Ele pode ficar por minutos seguindo um personagem que caminha pela calçada, em uma cena absolutamente trivial ou na turminha agitada compartilhando um pacote de Ruffles no ônibus na volta da praia. Pouco importa como os personagens efetivamente se aproximaram, mas sim os detalhes e visões que os unem. O diretor nunca é previsível no tom de rotina meio caótica da série.

Observem com atenção o enquadramento em que duas personagens compartilham um bolo, comendo-o com as mãos. O bolo está posicionado entre elas em um banco na rua, e o desenrolar desse gesto no episódio seguinte é o símbolo de uma quebra de formalidade, dando lugar a um desfecho de intimidade entre elas.

E de novo, não importa como. ‘Nós somos o que somos’ como o próprio título da série define.

Jack Dylan Grazer

Frazer, em uma das cenas com camiseta de Raf Simons
Frazer, em uma das cenas com camiseta de Raf Simons

Você vai se recordar dele fazendo o papel do menino hipocondríaco no grupo aterrorizado do filme “It: a Coisa”. Ele deu vida ao personagem mais interessante entre os sete porque era talvez o mais covarde entre eles. O que é totalmente natural quando se tem um palhaço demoníaco te seguindo no banheiro, né, não?

Jack agora interpreta o complexo Fraser, o adolescente que ama moda e poesia na mesma proporção que ama encher a cara e berrar com a mãe, a maravilhosa Chloë Sevigny. O adolescente acaba de se mudar para uma base militar americana perto de Veneza e está em voltas com crises típicas da incompreendida fase de transição entre a infância e a idade adulta, além de sofrer todo tipo de rejeição como um estranho nada bem-vindo na nova roda de amigos locais.

Felizmente ele logo se encanta pela figura de Harper (Jordan Kristine Seámon) que, assim como ele, também está descobrindo o próprio corpo, desejos, gênero e sexualidade e eles tem aquele tipo de choque eletromagnético inexplicável à primeira vista que só almas muita parecidas possuem. Juntos tomam seus pileques (e há uma preocupante relação com uso abusivo de álcool na adolescência), saem nadando, invadindo casas, paquerando e ao mesmo tempo passam vinte e cinco horas por dias mexendo no celular. Fraser e Harper são absolutamente comuns ao mesmo tempo em que são absolutamente únicos e complexos.

A brasileira Alice Bragacaptura-de-tela-2021-02-18-as-23-30-25

Sim, esse é um motivo. Indiscutivelmente porque segue linda e é puro talento. E porque como mulher, brasileiríssima, deve ralar muito para se firmar cada vez mais no concorrido cenário de produções internacionais e isso merece sempre o nosso aplauso.

Na série ela interpreta Maggie, uma das mães de Fraser e tem um arco dramático muito interessante ao lado da atriz Faith Alabi, que vive a sua vizinha de origem nigeriana e é uma espécie de hostess da base militar.

Trilha sonora

David Bowie, Prince, Radiohead e Blood Orange. Precisa de mais? Tem uma playlist mara, disponível no Spotify.

Por isso, vamos ver (ou rever) o que já existe e levantemos nossa coroa. Vida que segue.

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