Lady Gaga iniciou sua performance no intervalo do Super Bowl, o maior evento esportivo do mundo, em cima de um telhado a bordo de um bodysuit e bota de cano alto Atelier Versace, entoando as tradicionais canções americanas God Bless America e This Land Is Your Land, essa última, na verdade, um hino de protesto composto por Woody Guthrie, bastante cantado em manifestações nas ruas dos Estados Unidos nos últimos meses. Antes de saltar do telhado para o palco, presa por um cabo de aço, para cantar seus grandes hits, citou ainda o juramento à bandeira: “Uma Nação, sob Deus, indivisível, com liberdade e justiça para todos”, com clara ênfase na palavra “todos”.
Desde o lançamento do último disco, Joanne, a extravagância tão característica de Gaga foi deixada um pouco de lado para dar espaço a sua versão mais vulnerável. Nas letras, na estética, no estilo. De monumentais looks Alexander McQueen e Hussein Chalayan, Gaga passou a vestir terninhos e chapéus e até mesmo básicos shorts jeans com camiseta – obviamente, com um pizazz bem próprio a ela, mas básicos ainda assim. Na noite de ontem, entretanto, seu look parecia celebrar o melhor dessas duas fases, fazendo referência ao passado extravagante, mas sem alienar um público que talvez não conseguisse compreender a excentricidade desse período da carreira da cantora. Além do bodysuit, curinga no guarda-roupa das divas pop – essa vez em versão estruturada, todo coberto por cristais Swarovski -, Gaga vestiu uma jaqueta dourada cheia de aplicações em metal e finalizou seu set com hotpants com cristais incrustados e um top branco com ombreiras que lembram a dos jogadores de futebol americano, tudo assinado pelo Atelier Versace.
Durante a semana, já havia dicas apontando a marca italiana como a responsável pelos looks da cantora, que vestiu Versace na coletiva de imprensa e também em uma foto para divulgar o evento. “A Versace é uma parte muito importante do histórico de moda dela, então foi uma escolha natural trabalhar com eles para fazer esse figurino”, explicou o stylist de Gaga desde 2010, Brandon Maxwell, à Vogue. “Eles não apenas sabem fazer designs funcionais como também comunicam visualmente o espetáculo e empolgação que o palco do intervalo do Super Bowl merece”. Glamorosos e sexy, os looks não deixaram nada a desejar a suas antecessoras Katy Perry, que teve a consultoria e looks de Jeremy Scott, em 2015; Beyoncé, que vestiu Rubin Singer, em 2013; e Madonna com figurino Givenchy, sob o comando de Riccardo Tisci, em 2012.
Cantando os hits que a tornaram uma das rainhas do pop contemporâneo como Poker Face, Telephone, Just Dance e Bad Romance, Gaga fez uma performance visualmente simples, bem apoiada no seus poderosos vocais e presença de palco, mas que tinha total força nessa simplicidade e sinceridade. Teve um momento mais íntimo em A Million Reasons e seu ápice em Born This Way, seu hino de celebração à individualidade e diversidade.
“Eu acredito na paixão pela inclusão. Acredito num espírito de igualdade e que o espírito deste país é de amor e compaixão e bondade, então, minha performance vai defender essas filosofias”, afirmou na semana passada, em coletiva em Houston, Texas, onde também a final do campeonato de futebol americano aconteceu ontem.
É verdade que, face à atual cena política americana, a expectativa para o show era de uma performance bastante carregada politicamente, possivelmente chocante ou controversa – afinal, estamos falando da mulher que usou um vestido feito de peças de carne para uma premiação e fez videoclipes que foram censurados. Mas Gaga fez um show divertido, com uma dose de engajamento e confronto que sempre esteve presente em sua música, se comunicando com seus fãs que veneram sua peculiaridade e tudo o que a cantora defende tanto quanto com famílias tradicionais (ou até com o vice-presidente Mike Pence, presente no estádio) que talvez nunca tenham entendido seu appeal. E num momento de tanta divisão nos EUA, o que poderia ser mais político do que invocar união?
https://www.youtube.com/watch?v=KrfZlktLZ78