Quando você compra algum objeto do qual você tem muito apreço, ou então se apaixona por um look estampado, já parou para pensar em quem são os profissionais por trás da criação das nossas ilustrações e desenhos preferidos? Que estampam dos nossos objetos cotidianos preferidos às nossas roupas?
O designer de superfícies é responsável pela criação das ilustrações, desenhos e padronagens que estampam diversos objetos – normalmente chamado de designer de estampas, se focado apenas na moda. Para entender um pouco mais sobre a profissão, conversamos com Gabriel Azevedo, ilustrador e designer de superfícies, que acaba de lançar uma coleção em parceria com a Tok&Stok, denominada Herança.
Como você começou no design de superfícies e qual o seu background na área?
Eu tenho 33 anos, sou nascido em Recife, moro há 11 anos em São Paulo. Sempre fui aquela criança que desenhava o tempo inteiro, então naturalmente, fui fazer design, em um campus novo da federal que tinha em Caruaru, onde acabei passando 4 anos da minha vida. Lá, fui chamado para um estágio em um estúdio de branding em São Paulo, nessa época já tinha trabalhado com design editorial, branding, ilustração e moda. Aí acabei fazendo minha primeira exposição em Olinda e depois fui para Buenos Aires.
Nesse tempo a Adriana Barra me chamou para trabalhar com ela, onde eu fazia as estampas e posteriormente acabei fazendo embalagens para produtos nacionais e internacionais de diversos tipos e também fiz alguns trabalhos para a Farm. Já faz uns 6 anos em que sou freelancer e minha experiência acabou se voltando para esse ramo.
Como é trabalhar com estilistas e marcas? Como é essa troca?
Eu acredito que a superfície faz parte do trabalho do estilista, mas acredito mais no ponto de partida contrário, que é onde surge o trabalho a partir da estampa criada. Às vezes o estilista me passa uma ideia e as vezes, quando são colaborações, eu trago as minhas ideias e referências, eu acredito mais na troca em qualquer processo de criação.
Acredito no desenho como uma linguagem que fala diversos idiomas. Muitas vezes as pessoas vem com a ideia e essas ideias vão se diluindo a partir do momento da troca. Gosto de quando vou fazer uma colaboração com alguém aquilo seja uma estética nova a partir de algo que já fiz.
Como é o seu processo criativo?
Tudo surge de uma base de trocas, mas eu tenho algumas referências contínuas no meu trabalho: gosto mais do design japonês dos anos 60, Art Nouveau, Art Decó, gosto mais do Francis Bacon. Então são referências que eu sempre tenho mas são adaptadas a partir do trabalho.
Isso também inclui o traço, tanto posso fazer algo completamente manual, ou uma colagem ou algo completamente digital, depende da superfície ou do tipo de roupa, tecido, modelagem e a história que estamos contando vai mudando a partir disso.
Qual conselho você daria para alguém que quer investir na área?
Eu indicaria para as pessoas começarem é acessar pessoas próximas, como sua tia que tem uma loja, ou fazer suas próprias camisetas. Eu aconselho mais que as pessoas criem um portfólio, as pessoas precisam ver o que está na sua cabeça, a minha dica é: encontrar alguma forma de realizar processos seus para que o mundo possa conhecer as ideias que você tem.
Quais os principais desafios?
Acho que um dos maiores desafios da área é que as pessoas não valorizam mais esse trabalho e as pessoas também acabam querendo tudo mais parecido e se torna uma cópia da cópia da cópia. O desafio é mostrar que algo que você faz pode tanto ser interessante esteticamente quanto comercialmente, porque no fim, estamos criando um produto. Além disso, um dos maiores desafios é encontrar sua própria linguagem.
Conta um pouco sobre a parceria com a Tok&Stok, como foi o convite e o processo?
Essa coleção da Tok&Stok era um sonho que eu tinha desde sempre. É minha segunda coleção, a primeira foi uma collab junto com a Casa Juisi e a partir dessa coleção eles me convidaram para apresentar uma proposta desse projeto.
Essa pesquisa surge da vontade de representar o Brasil de uma forma não caricata. As representações do Brasil – muitas vezes o tucano, a onça – são feitas com traços europeus das Belas Artes, então é uma visão do colonizador sobre a gente. Então a minha vontade é que nesse projeto essa linguagem seja através do trabalho manual das pessoas no Brasil e de uma forma que o Brasil se veja e se identifique.
Então relaciono várias partes que fazem parte da memória afetiva e herança cultural brasileira. Herança é tanto aquilo que já chegou até aqui quanto o que estamos construindo para deixar para os próximos. Nessa coleção, minha vontade é falar sobre o Brasil inteiro e lembrar de onde viemos para refletir para onde podemos ir, apesar dos caminhos difíceis que estamos passando.
@gabriel_az