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    O que você precisa saber sobre a parceria da Gucci com o fotógrafo Martin Parr
    O que você precisa saber sobre a parceria da Gucci com o fotógrafo Martin Parr
    POR Camila Yahn

    A Gucci acaba de lançar o look book masculino da linha Cruise 2019. Os mais de 70 looks foram registrados pelo fotógrafo britânico Martin Parr em várias locações em Cannes, como o InterContinental Carlton Cannes Hotel e o Carlton Beach Club. Poucas semanas antes, a marca havia liberado no Instagram sua campanha de relógios, também fotografada por Parr em cidades ao redor do mundo (Hong Kong, Tóquio, Las Vegas).

    + Veja todas as fotos do Cruise 2019 masculino por Martin Parr

    Desde sempre, as campanhas são ferramentas cruciais de comunicação e na moda elas são feitas, na maior parte das vezes, por fotógrafos de moda. Mas desta vez, a Gucci escolheu um profissional com uma estética bem particular – Parr é um cronista da vida moderna que usa a fotografia como plataforma. Suas fotos enxergam o mundo sob uma perspectiva única, que às vezes pode soar como grotesca ou exagerada.

    Martin Parr ficou conhecido por suas séries que documentam as classes sociais na Inglaterra (e mais tarde por outros temas fotografados em diversos países), colocando as pessoas em um microscópio dentro de seu próprio ambiente, expondo suas vidas e valores, às vezes com um humor imprudente. “A coisa fundamental que estou constantemente explorando é a diferença entre o mito de um lugar e sua realidade. Lembre-se que eu faço fotografia de verdade disfarçada de entretenimento. Faço as imagens de forma aceitável para poder ter audiência, mas no fundo há muita coisa acontecendo que não está escrito na sua cara, mas se você quiser ler, você consegue”, diz.

    Muitas vezes, essa técnica deixa o espectador com emoções cruzadas: apreciam a imagem, mas não a forma como ele expõe as pessoas. “Parr foi atacado por alguns críticos por seu escrutínio das classes trabalhadoras, mas olhando seu trabalho, vemos meramente seu olhar inflexível capturando a verdade de uma classe social abraçando o lazer da forma que lhes é possível”, diz Karen Wright, do The Independent. 

    GB. England. Wedding preparations. From 'The Cost of Living'. 1986-89 / Reprodução

    GB. England. Wedding preparations. From ‘The Cost of Living’. 1986-89 / Reprodução

    GB. England. Aerobics class. From 'The Cost of Living'. 1986-89 / Reprodução

    GB. England. Aerobics class. From ‘The Cost of Living’. 1986-89 / Reprodução

    SWITZERLAND. St Moritz. Snow Polo World Cup. From 'Luxury'. 2011 / Reprodução

    SWITZERLAND. St Moritz. Snow Polo World Cup. From ‘Luxury’. 2011 / Reprodução

    PERU. Machu Picchu / Reprodução

    PERU. Machu Picchu / Reprodução

    GB. England. Dorset. From 'West Bay' and From 'Common Sense'. 1996 / Reprodução

    GB. England. Dorset. From ‘West Bay’ and From ‘Common Sense’. 1996 / Reprodução

    Por que a Gucci contratou Martin Parr, um fotógrafo que expõe os exageros e as cafonices dos milionários com a mesma severidade que o faz com as classes média e trabalhadora? Primeiramente, porque Alessandro Michele é uma pessoa aberta, que gosta de arte e fotografia e não vê distinção entre o artista de rua e o de museu. Para ele, e para esse novo momento da Gucci, fotos de modelos em estúdio ou locações convencionais já não bastam mais.

    A Gucci sabe com quem está falando e é com um público (aka millennials) que está chegando livre dessas referências e valores. Mudar o fotógrafo, mas não mudar o processo não adianta nada. Parr chega com um universo particular e parte de sua estratégia é fazer o mesmo tipo de foto para todos os meios, seja uma exposição, um livro de arte ou um anúncio. Assim, ele transcende a separação tradicional que os fotógrafos aplicam em seus trabalhos.

    As imagens para a Gucci não chegam a ser tão interessantes como seu trabalho mais autoral (as melhores são as que preservam mais as suas características, como ângulos que parecem acidentais e a inclusão de “pessoas reais”), mas já servem como antídoto contra a forma antiga de fotografar campanha, em que tudo é fortemente controlado e (re)construído. Se a foto em si não ficou boa, você pega as partes boas das outras imagens e cola, montando um quebra cabeça até que tudo fique nada menos do que perfeito.

    Vale destacar uma foto específica na campanha dos relógios, a do casal turista tirando uma selfie em frente a um castelo. O difícil nesse trabalho foi ajustar a sua fotografia à necessidade da Gucci de mostrar os relógios de forma bem nítida. “Levou um tempo pra gente descobrir como fazer uma foto interessante, uma vez que tem que fotografar bem de perto para mostrar todos os detalhes. Mas eu gosto de resolver problemas, pra mim essa é a parte divertida: como tirar uma foto interessante dada as restrições com as quais está trabalhando?”, disse à Dazed.

    Campanha #TimeToParr da Gucci / Cortesia

    Campanha #TimetoParr da Gucci / Cortesia

    Martin Parr mal conhecida a Gucci antes de receber o convite. “Eu já tinha ouvido falar, mas só isso. Achei uma marca bem interessante, as roupas são divertidas e você que tem muita criatividade ali. E claro, trabalhar com uma empresa como a Gucci significa que eu posso investir no meu trabalho pessoal e ajudar a minha fundação, que é muito importante pra mim”. Segundo disse ao site Complex, ele enxerga muitas conexões entre seu trabalho e a estética da Gucci, como a excentricidade, o uso das cores e a ousadia.

    Esse não é seu primeiro trabalho com moda (pelo jeito, tampouco o último). Em 1999, a revista italiana Amica o chamou para fotografar um editorial e hoje ele faz cerca de quatro shootings por ano. “Estou explorando a ideia de fazer uma imagem de moda ser mais crível. Tento fazer com que a moda não pareça moda”.

    Por conta da busca incessante da moda por um novo olhar, ele tem sido bastante requisitado pela moda. “Acho que estou me tornando um fotógrafo de moda, as pessoas não param de me encomendar coisas”, brinca.

    Martin Parr para a revista Amica, 1999 / Reprodução

    Martin Parr para a revista Amica, 1999 / Reprodução

    Para quem ainda o acusa de explorador, ele já tem uma resposta preparada e fácil de encontrar na área de FAQ de seu site: “Acho que toda fotografia que envolve pessoas tem um elemento de exploração, então eu não sou uma exceção. No entanto, o mundo seria um lugar muito triste se os fotógrafos não tivessem permissão para fotografar em lugares públicos. Penso na minha fotografia como uma novela em que espero o casting perfeito aparecer no lugar certo. Mais recentemente, tenho fotografado de forma mais próxima, focando em detalhes das personagens ou da comida e a vantagem disso é que as pessoas são menos reconhecíveis”.

    Para chegar tão próximo assim de um desconhecido que normalmente se encontra em uma situação de laser ou rotina, ele diz que aprendeu a entender a linguagem corporal.  E quando percebe que a pessoa não quer,  vai embora e segue para a próxima. Sua obra vai muito além da arte, é pura antropologia disfarçada de foto acidental.

    Atualmente, Martin Parr está preparando uma exposição na National Portrait Gallery, em Londres, com abertura prevista para março de 2019.

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