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    Prodígio nos anos 90 e morto aos 22 anos, fotografia de Davide Sorrenti reaparece com documentário e perfil no Instagram
    Davide Sorrenti e Jamie King / Reprodução
    Prodígio nos anos 90 e morto aos 22 anos, fotografia de Davide Sorrenti reaparece com documentário e perfil no Instagram
    POR Camila Yahn

    Hoje em dia pouca gente sabe ou lembra que o fotógrafo Mario Sorrenti teve um irmão, também fotógrafo, que morreu aos 21 anos deixando precocemente uma marca na história da moda nos anos 90. Davide Sorrenti sofria de thalassemia, uma doença no sangue que gerava no corpo anemia, fadiga e falta de ar. A doença também fazia com que ele parecesse bem mais jovem do que era de fato.

    Agora, o trabalho fotográfico de Davide e sua importância na fotografia da época estão na mira do diretor Charlie Curran, que foi profundamente tocado pelo trabalho do jovem fotógrafo. Há anos ele está trabalhando no documentário See Know Evil, um retrato íntimo de Sorrenti através de entrevistas com as pessoas mais próximas dele – a campanha no Kickstarter começou em 2012.

    Neste mês, ele abriu um perfil no Instagram quando viu que muita gente do círculo de Davide celebrou nas redes sociais o dia que seria seu aniversário (9 de julho). “Ao ver essa demonstração de amor por ele por parte dos amigos, familiares e até estranhos, achei que deveria fazer algo, mesmo que fosse só compartilhar imagens e ideias, coisas que eu aprendi com ele ao longo do caminho, só para manter a chama acesa”, disse à Dazed.

    O Instagram tem imagens de bastidores do documentário e fotos de arquivo de Sorrenti, com modelos que ele fotografou bastante na época, como Milla Jovovich e a namorada Jamie King, além de retratos do próprio fotógrafo. Não tem sido fácil compilar imagens para postar, já que tudo era feito com câmera analógica. Mesmo editoriais que ele fez para revistas como Dazed e i-D exigiram muitas viagens a bibliotecas e sebos com um scanner na mão. “É o oposto do Pinterest”, brinca Curran.

    Para entender o buzz em torno de Davide Sorrenti, precisamos voltar para os anos 90. Cinco anos mais jovem que seu irmão Mario, eles se mudaram de Nápoles para Nova York ainda crianças porque lá o tratamento para sua doença era melhor. Em 1994, quando tinha apenas 18 anos, influenciado por seu irmão e sua mãe, ambos fotógrafos, Davide começou a documentar seus amigos no dia a dia e tudo o que eles faziam, pegando gosto por essa estética mais nua e crua à la Nan Goldin. Mesmo que o ambiente retratado fosse mais pesado, ainda assim havia um glamour em suas fotos e foi essa mistura que seduziu revistas de arte e comportamento jovem, como Interview e i-D, que logo passaram a publicar essas imagens. Em 1996 a Interview publica uma série que ele fez de seus amigos em um apartamento bagunçado, vendo TV e fumando maconha. Davide conheceu o sabor do sucesso crítico e comercial com 20 anos de idade.

    Em menos de dois anos, ele era a aposta da cena em Nova York, propagando e vivendo o lifestyle que ficou conhecido por heroin chic (estética que revelou Kate Moss). Modelos super magras eram retratadas em poses e feições que remetiam à experiências com drogas. Foi a fase em que a moda glamourizou mais do que nunca o uso de drogas, muitas vezes usando modelos de 14, 15 anos nos shootings.

    Davide Sorrenti e Jamie King / Reprodução

    Davide Sorrenti e Jamie King / Reprodução

    Uma dessas modelos era Jamie King, por quem Davide se apaixonou. Eles fizeram muitos trabalhos juntos, juntos também se divertiram e usavam heroína. Seis meses após começarem a namorar, Davide foi encontrado morto no apartamento de um amigo. Segundo textos que lemos em sites como BBC, uma autópsia não foi feita, mas a morte é ligada à mistura das drogas com a thalassemia, que deixava sua saúde bem vulnerável. Ele morreu no dia 4 de fevereiro de 1997, aos 22 anos. Jamie foi para reabilitação e hoje está saudável.

    Em reação à morte, sua mãe começou uma campanha contra a glamourização do uso de drogas, especialmente entre jovens modelos, exigindo que os editores das revistas se responsabilizassem. “Heroin Chic não é o que estamos projetando, é o que nós somos. Nossa indústria se tornou heroin chic. Alguém que tira fotos dessa magnitude certamente teve experiência com drogas pesadas”, disse ao New York Times.

    A morte de Davide fez com que a moda logo declarasse o look heroin chic ultrapassado e impróprio e, no verão seguinte, uma nova estética – mais saudável – apareceu nas revistas, abrindo espaço para Gisele Bundchen, que surgiu justamente nessa época. Sua primeira capa para Vogue americana foi em 99 com a frase the return of the sexy model, mas isso é outra história.

    Veja abaixo algumas imagens que retratam o universo de Davide Sorrenti:

    Milla Jovovich por Davide Sorrenti / Reprodução

    Milla Jovovich por Davide Sorrenti / Reprodução

    Fotos de Davide para i-D em 1996 / Reprodução

    Fotos de Davide para i-D em 1996 / Reprodução

    Jamie King por David Sorrenti para Dune Magazine / Reprodução

    Jamie King por David Sorrenti para Dune Magazine / Reprodução

    Jamie king por Davide Sorrenti / Reprodução

    Jamie king por Davide Sorrenti / Reprodução

    Davide com Kate Moss e Rey em foto de Mario Sorrenti em 1992 / Reprodução

    Davide com Kate Moss e Rey em foto de Mario Sorrenti em 1992 / Reprodução

    Jamie King por Davide Sorrenti, em foto que causou polêmica por mostrar a modelo em volta a posters de artistas que morreram jovens, como Kurt Cobain e Sid Vicious / Reprodução

    Jamie King por Davide Sorrenti, em foto que causou polêmica por mostrar a modelo em volta a posters de artistas que morreram jovens, como Kurt Cobain e Sid Vicious / Reprodução

    O livro The Machine, de Mario Sorrenti, é forte, comovente e silencioso e mostra a doença delicada de Davide, que o obrigava a dormir conectado a uma bomba de transfusão, aparelho que a família chamava apenas por The Machine. O livro documenta suas medicações noturnas quando ele tinha 16 anos / Reprodução

    O livro The Machine, de Mario Sorrenti, é forte, comovente e silencioso e mostra a doença delicada de Davide, que o obrigava a dormir conectado a uma bomba de transfusão, aparelho que a família chamava apenas por The Machine. O livro documenta suas medicações noturnas em uma noite quando ele tinha 16 anos / Reprodução

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