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    “Da mesma maneira que respeito, exijo respeito”, diz estilista Patrícia Viera
    “Da mesma maneira que respeito, exijo respeito”, diz estilista Patrícia Viera
    POR Augusto Mariotti

    Por Raisa Carlos de Andrade, em colaboração para o FFW

    Patrícia Vieira no backstage de seu desfile no Fashion Rio Inverno 2014 ©Felipe Abe

    Concentrada em todos os detalhes, Patrícia Viera se incomoda com o mínimo fora do lugar em seu backstage. Ao mesmo tempo em que se mostra ansiosa para que sua criação seja exposta da melhor maneira, abre um sorriso e confere todas as peças. “É um negócio. Eu vivo disso, se parar de pedalar, eu caio”, explica. De acordo com ela, a organização é o contraponto da ebulição de seu processo criativo, sempre privilegiando a matéria-prima brasileira, sobretudo o couro. Para a estilista, não existe deslumbre nesse mundo, nem a presença de Victoria Beckham, com quem já dividiu o banco do carro como convidada do cunhado, o incorporador inglês Guy Dellal.

    + Veja a coleção completa de Patrícia Vieira no Fashion Rio Inverno 2014

    Essa organização toda é quase um T.O.C., não?

    Sim, é algo sério. Já fui para psiquiatra. Trabalho com criação para várias marcas. Tenho uma indústria. Eu trato das minhas coisas como trato da minha casa. Tenho pouquíssimo tempo, se não for uma pessoa organizada, minha vida vira uma loucura. Como sou muito bagunçada por dentro, minha parte de fora tem que ser impecável. Quem trabalha comigo me conhece, sabe que sou muito organizada. As araras têm que estar impecáveis. Tudo tem que estar impecável!

    Seu trabalho em couro é elogiado em todo o mundo…

    Minha equipe é muito boa. Como estou sempre no momento de criação, de desenvolvimento, tenho que ter uma equipe como uma infantaria de guerra medieval. Há trinta anos eu trabalho em fábrica. É tudo para ontem, não posso perder tempo. Tenho meta a alcançar por hora, por dia. O faturamento que você não alcança você nunca recupera. A gente tem esse timing de fábrica. Eu sempre tenho que alinhar. Falam que eu faço um trabalho maravilhoso. E eu não tenho nenhum assistente… O assistente que eu tenho é minha produção. Quem trabalha comigo trabalha muito tempo.

    ©Felipe Abe

    Acha que a moda brasileira se reafirmar na própria matéria-prima é um caminho para alcançar êxito no mercado internacional?

    Eu comecei internacional. Quando comecei, fiquei quatro anos vendendo lá fora. Com toda humildade, falo para você que sou referência fora do Brasil. Já ganhei três prêmios fora do Brasil. Acho que isso é uma questão de saber como olhar a moda. Eu sempre olhei como business, sempre quis fazer uma coisa que me gerasse dinheiro. Da mesma maneira que existe a arquiteta, a dentista, a publicitária, tem a estilista. Você, trabalhando com indústria, tem uma realidade muito real. Você tem que faturar, a matéria-prima tem que chegar, seu pedido tem que ser preciso. Quando você tem fábrica, tem que ficar muito afiado. Você tem vários concorrentes. Antes eu tinha muito orgulho de falar que era industrial. Hoje sou quase uma idiota ao falar isso. Ainda mais trabalhando com couro no Rio de Janeiro; os curtumes ficam todos no sul. Lá seria tudo perto, aqui é tudo longe… Tenho fábrica há 28 anos, trabalho com couro há 31. Isso me deu uma experiência muito boa.

    Você passa a imagem de uma pessoa pé no chão…

    Fábrica é outra realidade, é uma realidade mais backstage. É muito mais legal, muito mais real. Meus funcionários estão trabalhando há seis semanas e cada hora eu falo uma língua. Para trabalhar comigo, no início, sou cruel, faço viver no limite. Falo pela metade e exijo a frase inteira. Como venho de fábrica, começo às sete e meia. Se chegam às sete e quarenta e cinco, olho torto. Fábrica deixa muito afiado. É um exercício muito bom.

    ©Felipe Abe

    Como é o processo criativo da sua coleção?

    Sempre começo a minha coleção pelo couro. É uma coisa muito gostosa, porque quando vou fazer Patrícia Viera, pesquiso em viagens com o Felipe Veloso e a Andrea, minha filha. Aí pesquiso qual será o artista, que sempre faço parcerias nas coleções. Sempre quero um artista do meu lado. Nessa está a Klaucia Badaró, que conheci pelo Instagram. Ela é uma louca como eu. Ela faz peças pintadas. Também tem os totens em grafite que o Bruno Bogossian começou e a Klaucia finalizou. Eu não me meto no trabalho da minha equipe, porque o que eles fazem, fazem melhor do que eu. Eu apresento a coleção e delego. Mas não é qualquer um que entra não, tem que bater. No caso da Klaucia, quando olhei o Instagram, bateu. Isso faz com que seja easy, que as coisas andem. Sou difícil de delegar, mas quando delego, sei que tenho uma equipe que não me dá limites. As pessoas que trabalham com a marca, primeiro são loucas, trabalhadeiras. Segundo, são muito talentosas. Quando chamo alguém para trabalhar comigo, quero que saiba o que não sei. É a interseção do todo, que em vez de ficar com 50% para cada, faz com que você fique com 150%.

    Existe alguma vaidade nisso tudo?

    Morro de ciúmes do que crio. É um negócio. Eu vivo disso, se parar de pedalar, eu caio. Rico é só o cunhado, mas dizem que cunhado não é parente, né? (risos)

    Seu cunhado, Guy Dellal, te faz viver histórias engraçadas, como o dia em que você deu carona para a Victoria Beckham sem saber quem era. Como foi isso?

    O Guy era presidente da Virgin e eu tinha que ir para o ensaio do Lenny Kravitz, mas estava na piscina, jogando vôlei com as crianças. Adorei que minha irmã não estava em casa, porque ela fica mandando eu me arrumar… Aí falaram que eu teria que ir ao ensaio, lembro que o motorista era muito gente fina. No meio do caminho, minha irmã me disse que teríamos que buscar uma menina. Ela me disse o nome, mas não sei o nome nem de modelo, nem de nada. Aí paramos e entrou uma menina tão magra que fiquei nervosa. Eu estava com um crachá enorme e fiquei perguntando a ela onde estava o dela. Fiquei muito preocupada, porque se alguém encostasse nela, iria quebrar. E ela me falando que ia encontrar alguém da música. Eu notei que quando ela entrou o motorista parou de falar, subiu o vidro. Ele falou “Patrícia, você vai aqui” e eu “E a menininha?”. Fiquei com o coração na mão, falando que tinha uma menininha muito magrinha que tinha ficado. E ela me puxou no canto e explicou que era um das Spice. Queria ter pedido um autógrafo, mas eu nem sabia…

    ©Felipe Abe

    O que você e Andrea têm de parecidas, afinal?

    A loucura da arrumação. Nisso a família inteira herdou da minha mãe. Mas eu sou mais low profile. Mas trabalho na Penha, né? Digo que moro na Penha e durmo no Leblon. Na Penha eu tenho refeitório, tenho tudo. Mas minha irmã também é muito simples, muito na dela.

    Sua sobrinha, Alice Dellal, não vai desfilar novamente para a sua marca?

    Graças a Deus embarquei a Alice na sexta-feira. Essas crianças dão muito trabalho. Querem sair, ir para São Paulo, mas eu tranco. São Paulo eu não conheço. Quando ela está aqui, fica no Fasano, mas tranco ela. Mando fazer duas chaves, uma pra mim, outra pra ela. Mas ela é na dela.

    Te incomoda a repercussão quando ela vem ao Brasil?

    Acho que é o momento dela. A gente tem uma coisa na família de respeitar muito o outro. A família é muito grudada, mas cada um é cada um. Sou mineira de pai e mãe. Mineiro tem uma coisa presa de família…

    Você ainda fica nervosa antes de um desfile?

    Chacrinha, até o último programa, tinha dor de estômago. Acho que se ele podia, eu também posso. Sabe por quê? Ninguém tem ideia das noites que passei sem dormir, quanto amor, quanto choro, quantos animais, quantas peles, quanto dedo furado… Não sou eu, é uma equipe.

    ONGs protetoras de animais costumam te atacar?

    Eles me respeitam muito. Só uso couro abatido por conta da carne, a maioria das minhas peças é bioleather. Peço respeito. Da mesma maneira que respeito, exijo respeito.

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