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    “Eu odeio fashionistas” e sábias palavras da mítica editora Franca Sozzani
    “Eu odeio fashionistas” e sábias palavras da mítica editora Franca Sozzani
    POR Redação

    franca_abreFranca ©Reprodução

    Franca Sozzani é uma dessas figuras meio míticas da moda. Editora chefe da “Vogue” Itália há mais de 23 anos, Franca já falou com o FFW em uma entrevista exclusiva, e assim como seu nome diz, e sem nenhuma intenção de trocadilho, é extremamente franca.

    E praticamente toda vez que Franca dá alguma declaração, vira polêmica, seja em seu twitter, blog, ou à imprensa, como quando disse à revista semanal “Newsweek” que a Dior deveria recontratar John Galliano, ou quando falou à “Time” que Silvio Berlusconi dá a impressão de que toda a Itália é um cassino gigante. Suas edições não são menos provocativas, e não raro Franca coloca na capa da “Vogue” italiana algum tema polêmico – para a moda, ao menos. Fez isso em uma edição de 2008, que tinha apenas modelos negras, ou uma edição com modelos curvilíneas, este ano.

    Porém o mais recente bafafá em torno de Franca não é devido as suas declarações, e sim que na segunda-feira (19.09) ela foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade da ONU, para o projeto “Fashion 4 Development” (Moda para o Desenvolvimento), que está em busca de maneiras da indústria da moda promover o crescimento econômico nos países em desenvolvimento.

    A editora de moda falou sobre o assunto ao jornalista Eric Wilson, do “The New York Times”, e contou sobre seu desejo de ajudar a melhorar as habilidades de produção nesses países, possivelmente trazendo artesãos italianos para ensinar algumas técnicas. Confira abaixo os highlights da entrevista:

    Qual o papel de uma embaixadora da boa vontade da moda?

    Eu nunca fui uma pessoa política. Eu apenas digo o que penso. Através das pessoas que conheço acho que podemos fazer um projeto que possa ser adaptado aos outros países. Se nós apenas formos a algum lugar e prometermos fazer algo, nunca faremos coisa alguma. Basicamente, meu projeto é começar com um pequeno número de pessoas que possam aprender um trabalho. Devemos fazer um pequeno laboratório, e depois disso nós podemos encontrar alguma maneira de produzir.

    Devemos pensar sobre onde fazer a distribuição, e o passo a passo sobre dar a eles dignidade no trabalho, mas também o respeito ao ser humano. Caso contrário, se eles não têm um salário justo, as coisas só mudam para as pessoas que podem fazer negócios.

    Onde você vai começar?

    Vou começar agora com a África, mas primeiro preciso ir pra Coreia, provavelmente no meio de novembro, para falar sobre moda e ver o que está acontecendo. Eu quero aprender como eles começaram. Através deles vou entrar em contato com outros governos, provavelmente na África.

    Isso simboliza também o que você tem tentado fazer na revista, fazer com que a indústria mude de maneira positiva?

    Não, para ser honesta, essas duas coisas são diferentes. Mas poderiam se tornar conectadas. Por exemplo, para a “L’Uomo Vogue”, eu fiz uma edição na África, e toda a renda que veio da edição foi para organizações diferentes.

    Você acha que a indústria mudou como um todo como resultado das questões que você tem colocado em sua revista?

    Não totalmente. Nós fizemos uma edição sobre extremos em cirurgia plástica, e eu ainda fico mais e mais chocada com o quanto as pessoas mudaram. Desde então, eu não acho que tenha visto tanto Botox pelo mundo. Nós não paramos nada.

    Onde eu acho que nós provavelmente fizemos um bom trabalho foi com a edição negra. Não imediatamente, não como se todo mundo dissesse após a edição “Agora eu quero ter garotas negras”. Mas eu vejo, pouco a pouco, há mais e mais garotas negras na passarela.

    Parte do problema é das agências. Nós não temos muitas garotas americanas, você não têm italianas, você não têm francesas. Os olheiros só vão para a Europa oriental agora. É possível que todos os outros países não tenham garotas bonitas? Eu não posso acreditar nisso. Eu estava tão entediada de ver todos aqueles rostos. Todos pareciam iguais. Ao fazer todas as garotas iguais – loiras, olhos azuis, pernas longas – ao final, todas as roupas parecem iguais.

    Eu não estou tentando provocar. Todo mundo está olhando as coleções, e imediatamente depois você fica entediado. Moda é experimentação; é sempre excêntrica. É quebrar regras. Nós tentamos achar uma boa razão para quando queremos fazer algo. Nós tentamos seguir o que está acontecendo no mundo, mas através do ponto de vista da “Vogue”.

    vogue3Uma das capas (foram 4) da edição apenas com modelos negras, de julho de 2008,  e a edição sobre os excessos da cirurgia plástica ©Reprodução

    Falando sobre o que está acontecendo aí em seu país, como você pode refletir a realidade de uma crise econômica na Itália em uma revista de moda?

    Não é apenas uma crise econômica. Nós também temos uma crise de imagem. Espero que, assim como na economia, nós possamos achar a solução certa. Nós sempre estamos falando sobre uma crise financeira, sempre. Essa crise será provavelmente menos chocante do que a de 2009, porque nós sabíamos que isso podia acontecer. Nós sabemos que estamos um pouco menos seguros.

    Mas eu acho que a imagem do nosso país não reflete de maneira nenhuma tudo o que é feito na Itália. Quando você olha para as revistas, parece que todas as mulheres são vulgares e envolvidas em escândalos sexuais. Isso não é a Itália, e nós não devemos aceitar isso. Eu não reconheço meu país desse jeito.

    O papel do editor parece ter mudado de observador da moda para participante. Você foi surpreendida por essa mudança?

    Eu acho que o trabalho mudou completamente nos últimos 20 anos, assim como a moda tem se tornado cada vez mais e mais rápida. E então nos últimos 10 anos, mudou completamente, para os designers também. Com a enorme distribuição de Zara, H&M e Mango, tudo isso mudou o ponto de vista. Eu acho que isso é fantástico porque todo mundo pode fazer parte do mundo da moda e eles podem estar vestidos de uma maneira fantástica. O limite é que isso se tornou tão global, tão a mesma coisa, que é muito difícil para um designer encontrar uma nova maneira de existir. Para eles se tornou mais e mais difícil de achar um novo jeito de ser.

    Não é como se eu fizesse essas edições porque eu me sinto provocadora. Eu faço assim porque eu me sinto assim. Digamos que eu vou por instinto. Isso é certeza. Eu posso mudar uma edição até dez dias antes de ser lançada, porque se, por instinto, eu sentir que não está boa, que está chata, ou que eu não gosto dela, então não é bom para nós e eu mudo.

    Quando foi a última vez que você fez isso?

    Agosto. E até em setembro. E tudo estava fechado na Itália porque era feriado. Nós pedimos aos fotógrafos para refazer o ensaio. Nós mudamos editoriais de outubro para agosto. Um editorial eu rejeitei, a ideia era fazer algo muito chique, mas que fosse de um jeito moderno. Mas ficou muito chato. Algumas vezes o chique é muito chato. Achar um jeito que não pode ser chato é muito difícil.

    Li pelo menos quatro entrevistas que você concedeu a semana passada. Por que as pessoas são fascinadas com os editores de revistas?

    Acho que isso aconteceu por diferentes razões. Isso deve ter acontecido provavelmente porque eu disse alguma coisa boba, como “Eu não sei por que eu deveria me casar de novo, porque eu era muito melhor do que o homem que eu namorava”, e então isso se tornou uma história. A internet é tão rápida, e essa frase foi captada. Às vezes eu digo que eu acho que elegância é muito entediante, ou que eu odeio fashionistas. Você começa com algo que disse em uma situação, e depois os jornalistas pegam uma frase e dizem só aquilo. Não é que eu acordo e digo “Eu odeio fashionistas”. Mas eu realmente odeio fashionistas.

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