A modelo Thana Kuhnen (Way) é alta, jovem, tem traços angulosos e pernas que não terminam, mas tem uma carreira diferente das dezenas de outras brasileiras que ganham destaque todo ano: ao invés de morar em Nova York, ela adotou Paris – e Paris a adotou.
Natural de Terra Nova do Norte, Mato Grosso, Thana tornou-se musa de altacostura de John Galliano e Jean Paul Gaultier, e chegou a passar meses trabalhando de perto com o estilista da Christian Dior na coleção de Verão 2010 de haute couture. “Fiquei quase três meses trancada com ele e sua equipe, provando as roupas e vendo cada detalhe das peças construídas no meu corpo”, disse a modelo em entrevista ao FFW.
Thana fechou o desfile de altacostura de Verão 2010 da Christian Dior: as roupas foram feitas no corpo dela © firstVIEW
Como você foi descoberta?
Uma vez fui abordada por um scouter e não aceitei o convite. Achava que não levava jeito pra coisa. Na verdade, quem me influenciou a seguir a carreira de modelo foram os meus familiares, que viviam dizendo: “Você podia ser modelo, minha filha”. Certo dia, estava eu num shopping center e uma criança chegou perto de mim e disse: “Sabia que você parece a Gisele Bündchen?” Naquele dia, pensei: se todos acham que levo jeito pra coisa, não custa nada tentar. Foi então que procurei uma agência em Mato Grosso, onde morava na época, e logo me mudei para São Paulo.
Por que Paris em vez de Nova York?
Engraçado isso, pois sempre pensei que a minha carreira internacional iria deslanchar em Nova York mas foi em Paris que tudo aconteceu. Aliás, antes de trabalhar em NY, comecei a trabalhar em Paris. Acho que é por isso me identifico mais com a cidade.
Thana em três momentos camaleônicos do Verão 2009: Jean Paul Gaultier, Christian Dior e John Galliano © Reprodução
Qual é seu lugar favorito por lá? O que faz em seus dias de folga?
Eu sou totalmente avessa a baladas, meu programa preferido e reunir os amigos em casa para tomar um vinho e cozinhar comidinhas brasileiras. Paris é uma cidade tão linda que às vezes aproveito para caminhar a pé pelas ruas, observar a Torre Eiffel de perto e o museu do Louvre. Dois lugares que também costumo frequentar quando estou com agenda livre são o centro Pompidou e o Pantheon. Lá existem ótimos museus e charmosos cafés para passar a tarde.
Na internet, te chamam de “rainha da altacostura” por seu caminhar elegante. É algo natural ou você treina de alguma maneira? O que pensa na passarela?
Olha, não sabia desse rótulo [risos]. Eu tento ser o mais natural possível na passarela. Aprendi a desfilar sozinha, e foi na prática que aperfeiçoei os meus passos. Na passarela sou guiada pela música, esqueço tudo e dou o melhor de mim.
Thana faz pose antes de desfilar a coleção de altacostura de Inverno 2009 da Dior © Reprodução
Há muitos anos, quando os desfiles de altacostura eram o evento mais importante da moda, muitas modelos passavam meses com os estilistas (como você fez) e acabavam absorvendo parte desse mundo. O que aprendeu depois que começou a fazer altacostura?
É uma experiência inesquecível, principalmente por ter trabalhado com um mestre desse segmento que é o John Galliano. Fiquei quase três meses trancada com ele e sua equipe, provando as roupas e vendo cada detalhe das peças construídas cuidadosamente no meu corpo. Dá prazer saber que tudo aquilo foi feito para mim. Saber que outras mulheres vão vestir aquelas roupas desenvolvidas no seu corpo é melhor ainda. Me senti mais segura.
Você passou os últimos dois meses com John Galliano e o time de altacostura da Dior. Como foi?
Passei ótimos momentos trabalhando com Galliano e sua equipe. Todos são muito atenciosos, educados e me trataram muito bem. O Galliano sempre me elogiava.
Sabe aqueles dias que você acorda cansada e achando que está horrorosa? Eu chegava no local do trabalho e o Galliano sempre me recebia de braços abertos, dizendo: “Você é linda!”. Minha autoestima ia às alturas. Quando o trabalho acabou, fiquei triste, chorei muito. Vou sentir saudades.
Outro estilista que gosta muito de você é Jean Paul Gaultier...
Nunca vou esquecer da ocasião em que conheci o Gaultier. Quando a minha agência em Paris me avisou que iria visitá-lo, liguei para minha mãe nervosa pois não estava acreditando.
Cresci com minha mãe falando sobre ele, via fotos de seus desfiles e nunca imaginei que uma dia poderia trabalhar com ele. Quando vi o Gaultier na minha frente, não aguentei: comecei a chorar, e ele perguntou o que estava acontecendo. Como qualquer tiete, disse que sempre fui fã do trabalho dele e a simpatia rolou mutuamente.
O que espera dos próximos anos de carreira?
Eu não quero fazer planos, sou o tipo de pessoa que deixa as coisas rolarem. Estou vivendo uma ótima fase profissional e quero aproveitar cada momento.
Entre os trabalhos no Brasil, a campanha de Verão 2010 de Gloria Coelho © Divulgação/Bob Wolfenson
Como brasileira vivendo na França, essa pergunta inevitavelmente vai surgir nos próximos meses: você vai assistir a Copa do Mundo de Paris ou Terra Nova do Norte (MT)?
Adoraria passar no Brasil com meus amigos e meus familiares, mas não posso programar nada por enquanto.