Por Raisa Carlos de Andrade, em colaboração para o FFW
A jornalista carioca Heloisa Tolipan na sala de imprensa do Fashion Rio ©Felipe Abe
Recentemente, Heloisa Tolipan foi incensada entre os fashionistas ao fazer considerações em primeira pessoa, em seu site heloisatolipan.com.br, sobre Karl Lagerfeld durante sua passagem pelo Brasil (leia aqui). A liberdade com a qual escreveu sobre Lagerfeld, ela defende, é o resultado de uma vida dedicada ao jornalismo. “A gente tem de ter, acima de tudo, imparcialidade. Não ser vendida para determinadas situações. Sou de uma época em que o jornalismo era totalmente transparente. De uma época em que o aspecto financeiro não estava atrelado a nenhum tipo de notícia, com total liberdade de escrever”, diz.
Há quase 30 anos no “Jornal do Brasil”, Heloisa Tolipan resolveu experimentar sua marca paralelamente, em um projeto que leva seu nome lançado em setembro. Nele, repete o olhar característico de sua coluna opinativa. “São textos que podem ser lidos na hora ou depois. Desde que leia com prazer, porque ele é reflexivo, não será apenas uma pílula momentânea”, garante. Todo esse mérito não é creditado apenas à experiência. Em um tempo em que muitos pensam que não se cabe questionar a massificação dos blogs de moda, ela enfatiza que a credibilidade é algo muito próximo às boas relações interpessoais. “Isso não é envelhecer. É falar diretamente para as pessoas, e talvez as pessoas novas, que estão tão envolvidas em aspectos tecnológicos, sintam falta… É como atender um telefone, cumprimentar uma pessoa na rua, dar bom dia. Mesmo em tempos de redes sociais, as pessoas estão carentes. É importante você mostrar que está escrevendo para elas, que está dando a opinião para fazê-las pensar.”
Em alguns minutos de conversa, vai de coberturas históricas, que lhe renderam um prêmio Esso, às chacinas como as de Vigário Geral e da Candelário, passando por furos como a noite em que foi a única a perceber Domenico Dolce e Stefano Gabbana barrados na entrada de um camarote no carnaval do Rio. “Peguei os dois pelo braço, levei para um camarote que o “Jornal do Brasil” tinha na época. Ganhei a confiança deles, me deram fontes, curtiram o carnaval e a reportagem foi parar na primeira página do JB com a minha assinatura.” A jornalista que, muito antes de Glória Perez abordar em suas novelas a questão do tráfico de mulheres para o exterior, já havia publicado uma reportagem sobre a ação da polícia federal para desbaratar uma quadrilha espanhola que atuava no Rio, se orgulha de ter um caderno com múltiplas fontes, hábito que vem caindo em desuso pelas novas gerações do jornalismo. “Os jovens têm de cultivar fontes. Pedir o telefone, sentar e deixar o entrevistado falar livremente, na medida do possível, sempre olho a olho. É uma questão de experiência, porque é uma geração diferente da minha, mas rápida no crescimento profissional.”