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    Iris Apfel em São Paulo: “Não apenas olhe, mas veja. Não apenas ouça, mas escute”
    Iris Apfel em São Paulo: “Não apenas olhe, mas veja. Não apenas ouça, mas escute”
    POR Redação

    Iris Apfel durante bate-papo em São Paulo promovido pela Swarovski ©Luciana Prezia/Divulgação

    Iris Apfel inspirou uma plateia lotada de gente na quarta-feira (18.09), no Cinépolis do shopping JK Iguatemi, em São Paulo, ao falar de sua vida, seu trabalho e seus amores. Pela primeira vez no país a convite da Swarovski Elements, ela foi recebida no evento de lançamento das tendências e inovações 2014/15 da marca (saiba mais aqui), e compartilhou ótimas histórias no bate-papo conduzido por Mônica Orcioli, diretora da Swarovski no Brasil, e durante uma breve entrevista concedida após o evento.

    Leia abaixo uma seleção das histórias compartilhadas por Iris Apfel:

    Sobre seu primeiro emprego e seu conselho para jovens profissionais: “Eu fui meio que caindo nas coisas, não planejei nada do que já fiz, nunca tive um plano de negócios, nem sei o que é isso. O que aparecia eu fazia, e se eu gostava eu continuava, e se não gostava, me retirava – nem sempre graciosamente – e ia fazer outra coisa. Quando me formei na universidade, fui fazer moda editorial, e acredito muito em começar por baixo. E, acreditem, eu comecei por baixo. Tinha um emprego no Women’s Wear Daily: eram três andares com algumas máquinas que levavam os papeis de um lado pro outro, mas eles precisavam de trabalho manual. Havia os copy girls e copy boys, e nós carregávamos papeis de um editor para o outro, para a impressora no andar de cima, pra fora, pra dentro, e esse era o meu trabalho. Isso foi há muito tempo, antes dos eletrônicos, nos anos 1940, e eu ganhava a magnífica quantia de 15 dólares por semana. Mas finalmente me dei conta, sendo muito inteligente, de que eu nunca conseguiria o trabalho de um dos editores, porque ou eles eram muito velhos pra engravidar, ou muito novos para morrer, então fui embora. A única coisa boa do trabalho é que eu não precisava ir pra academia – que eu não podia pagar com meu salário de 15 dólares –, porque eu me exercitava bastante. De qualquer forma, uma coisa seguiu a outra, e me envolvi em tantas coisas, e sempre foi uma questão de acaso. Acho que é muito bom que os jovens aproveitem as oportunidades em vez de ir pra um emprego apenas e ficar preso lá pra sempre”.

    Sobre suas primeiras calças jeans e sua visão sobre o ato de se vestir: “Sempre gostei de roupas e de me arrumar pra ocasiões especiais; fora isso, vivo em jeans. Fui provavelmente uma das primeiras mulheres nos Estados Unidos a ter um par de calças jeans, porque não havia modelos para mulheres. Eu estava na universidade de Wisconsin, e um dia eu decidi que calças jeans com uma camiseta branca, um turbante laranja xadrez e um par de brincos grandões seriam incríveis. E pensei: ‘Onde raios vou achar calças jeans?’. O único lugar que me veio à mente foi um lugar chamado Army & Navy Store, que vendia uniformes masculinos, e eles não tinham tamanhos pequenos. Enchi o pobre homem da loja pra que ele me cortar um par, e ele dizia: ‘Você não sabe que damas não usam jeans?’. Mas eu estava desesperada, até que um dia ele me ligou e disse que tinha algo para mim: ele me conseguiu uns jeans de menino, e desde então eu gosto mais do corte masculino do que do feminino. (…) Vestir-se é uma parte da vida e uma maneira de dizer ao mundo quem você é e quem você gostaria de ser”.

    Mônica Orcioli, diretora da Swarovski no Brasil, e Iris Apfel ©Luciana Prezia/Divulgação

    Sobre ser tema de exposição no Metropolitan Museum (“Rara Avis: Selections from the Iris Barrel Apfel Collection”, em 2005/2006): “Eu disse: ‘Tudo bem, eu posso separar algumas roupas para vocês. O que vocês querem?’. ‘Não sabemos; o que você tem?”. Eu disse: ‘Bem, tenho muitas coisas, vocês querem ver?’. E isso foi a abertura da caixa de Pandora, e por três semanas eles estiveram no meu apartamento, e olharam cada armário, cada gaveta, cada baú, olharam embaixo da cama, e diziam ‘uh, amamos isso’ e ‘uh, amamos aquilo’. E levaram o equivalente a 300 looks, e não conseguiam decidir o que eles queriam. Mas como a minha casa era perto do museu, ele mandavam o caminhão pegar novas coisas todos os dias. Era enlouquecedor. Tivemos que comprar 10 araras pra pendurar as roupas, empurramos toda a mobília pro canto, meu marido tinha um espaço assim [gesticulando com as mãos um espacinho estreito] na mesa de jantar, e ele disse ter tido muita sorte porque eu não o fiz dormir em uma gaveta. Enfim, avançando, eles se decidiram e o que era pra ser cinco looks em uma pequena galeria acabou virando uma exposição no Costume Institute inteiro, com 85 looks mais acessórios. Eles não me deram uma divulgação pré-show porque estavam nervosos; essa era a primeiríssima vez que o Met fazia uma exposição sobre uma mulher que não era do mercado. Eles tinham uma regra não-oficial de que se fosse pra fazer uma mostra sobre uma pessoa que não era da moda, essa pessoa tinha que estar morta — eles decidiram cortar essa parte. E foi um hit instantâneo. Sem nenhuma divulgação, tivemos 150 mil visitantes”.

    Sobre como era trabalhar na Casa Branca (como decoradora, Iris Apfel atuou na Casa Branca durante o mandato de nove presidentes): “Fizemos a Casa Branca porque eles estavam fazendo grandes restaurações e precisavam de tecidos muito bem feitos, absolutamente autênticos. Quando você faz uma restauração histórica, tem que ser o mais próximo possível do original, mesmo que seja totalmente horroroso. Você não pode chegar lá com todo o seu bom gosto e falar ‘não gosto disso, isto seria melhor’. (…) Muito trabalho foi feito durante a administração Nixon. A senhora Nixon era a mais interessada das primeiras-damas – muitas delas, francamente, nem vinham às reuniões –, ela era passionalmente interessada na decoração da Casa Branca. Ela vinha junto quando o decorador visitava a minha companhia para escolher tecidos, e ela queria participar. O problema é que a pobrezinha não sabia nada de design de interiores, e nós a deixávamos brincar, e ela sempre escolhia as coisas erradas. E no dia seguinte, invariavelmente, ela nos ligava e dizia [fazendo uma voz chorosa]: ‘Sra Apfel, como de costume eu escolhi mal, por favor faça a escolha por mim e venha almoçar na próxima terça-feira’. E ficávamos indo e voltando à Casa Branca, uma loucura. Era muito divertido”.

    Sobre a visita a brechós e museus brasileiros, em passeio no dia anterior: “Eles são fabulosos, há muito talento aqui, talento que carrega tradições. Sinto-me mal porque o mundo está ficando tão contemporâneo que muitas tradições maravilhosas estão se perdendo – existem em museus, mas não estão disponíveis. Mas aqui há coisas maravilhosas que vou poder levar pra casa – eu espero – pra deixar no meu apartamento e pendurar em mim mesma. Todo mundo dizia que os mercados estão repletos somente de artigos chineses, mas não é verdade. Achamos muitas criações nativas, e vimos que muitas pessoas têm originalidade, e me diverti muito. Tive um dia maravilhoso ontem, que incluiu uma visita ao museu da cultura afro-brasileira (Museu Afro Brasil), que recomendo a todos, ele é focado na cultura negra e em como ela contribuiu para a construção do Brasil. É muito bem feito, tem exposições muito interessantes e o diretor [Emanoel Araujo], um cavalheiro admirável, dedica sua vida a manter isso vivo. E também tive o prazer de ver [não lembra o nome, alguém fala “Beco do Batman”] a área do grafite, nunca vi tanto grafite, tinha grafite por todo lado, parece que você está num hospício, é maravilhoso, eu gostei muito”.

    Imagens de divulgação da coleção colaborativa com a M.A.C, lançada em 2012 ©Divulgação

    Sobre como é participar de tantos projetos colaborativos: “Acho que vem tudo da mesma nascente, e é só outra manifestação do que você pensa e como reage ao mundo. Quando trabalho com as pessoas, elas dizem que gostam de trabalhar comigo porque tenho um ponto de vista definitivo. Eu crio para o meu jeito de pensar, e espero que as outras pessoas gostem. Até agora elas têm gostado, e me sinto abençoada. Sinto-me duplamente abençoada porque nesta fase da vida – acabei de fazer 92 anos – tenho todas essas portas abertas e tenho oportunidades de mudar de carreira e fazer coisas que nunca fiz, viajar para tantos lugares e conhecer pessoas maravilhosas. É muito gratificante poder fazer mais de uma coisa. Seres humanos podem fazer muitas coisas; se você parar pra pensar, fazemos muitas coisas quando achamos que não estamos fazendo nada. Você dorme, o que é diferente de quando você anda, que é diferente de quando você come”.

    Sobre seus planos de aposentadoria: “Acho a aposentadoria um destino pior que a morte. Acho que todos deviam fazer algo. Não, nunca se aposente. Se você não gosta do que faz agora, se você parar de trabalhar, faça outra coisa, mas faça algo. Há tanta gente no mundo que precisa de ajuda; se você não precisa fazer dinheiro, vá ajuda-las, há muito o que fazer. Não se aposente, yuck!”.

    Sobre a relação entre moda e arte: “Há uma relação, definitivamente. A moda é um espelho da vida cotidiana, acho que historiadores de moda podem olhar um look e determinar as convenções econômicas, sociais e políticas de uma época – tudo isso influencia muito a maneira como uma pessoa se veste. Cada cultura tem uma maneira de se vestir. (…) Moda e música, moda e arte, moda e política, tudo está muito interligado. Porque nada existe sozinho; tudo tem uma influência em tudo. E os designers precisam saber disso, que eles não podem só olhar livros de moda, eles têm que viver no mundo e saber o que está acontecendo e ver e sentir as coisas, e expressar isso”.

    Sobre a origem de sua energia e vitalidade: “Ah, eu não tenho nenhum segredo, infelizmente. Só agradeço ao homem de cima, me sinto muito sortuda. Tento comer bem, não como junk food. Parei de fumar há 50 anos, porque eu fumava quatro maços de cigarro por dia, era ridículo, um hábito horrível. Mas não sei, acho que é a atitude. Acho que tudo na vida é atitude: atitude, atitude, atitude. No estilo, na vida, em tudo. Você tem que pensar positivamente. Não se preocupe em ficar velha, porque a alternativa a não ficar velha não é muito agradável, então siga a corrente, divirta-se e faça o seu negócio. Não se preocupe muito com o que os outros estão fazendo ou pensando, porque eles não estão se preocupando com você”.

    Sobre onde ela compra roupas e por que gosta tanto de acessórios: “Compro em todo e qualquer lugar, mas não tenho comprado tanto agora, porque tenho muita coisa. Dou coisas todo ano pra caridade, pra museus – estou construindo uma coleção de roupas especial no Peabody Essex Museum, para quem doei as roupas da minha exposição, e vou acrescentando coisas novas todo ano. Eu compro quando vejo algo empolgante, ou quando vejo algo que nenhuma pessoa sã usaria. (…) Gosto de roupas arquitetônicas, e que não são enfeitadas, porque eu mesma gosto de enfeitá-las. Fui uma criança da Depressão, não tínhamos muitas coisas, e minha mãe, que era adoradora de acessórios, me ensinou que se você tiver um bom vestido preto, por exemplo, e investir em acessórios interessantes, você pode criar 50 looks pro mesmo vestido. Acho que vale investir em acessórios. Você deixa as coisas mais pessoais, pode se divertir, ser criativo, e economizar muito dinheiro, o que é sempre delicioso”.

    Detalhe dos acessórios usados por Iris Apfel em bate-papo em São Paulo ©Luciana Prezia/Divulgação

    Sobre o que é elegância: “Ela quase já não existe mais. Elegância é uma atitude – não é o que você veste, é como você veste. É a atitude que você tem em relação a si mesma e o mundo ao seu redor. É algo que vem de dentro, e não de fora”.

    Sobre como ela arruma a mala pra viagens: “Ah, não vamos entrar nesse assunto. Eu sempre levo coisa demais, e dessa vez foi ridículo, porque eu estava muito ocupada e cansada, e fiquei enrolando, e minha faxineira disse que eu não estava sendo eficiente e que ajudaria. Terminei com três malas com um monte de coisas que eu não preciso, e o casaco de chuva que eu precisava ela não colocou lá. Mas uma coisa boa que ouvi sobre fazer as malas é: ‘Leve o dobro do dinheiro e a metade das roupas’. Você não precisa de tanta coisa quando viaja – eu viajo há 70 anos, e sempre levo coisas demais. Mas eu não vivo sem meus acessórios; se você me quer, tem que aceitar a minha bagagem também”.

    Sobre o espaço para artistas no mundo moderno: “Meu Deus, tem que ter espaço, porque se não tivermos artistas, as coisas vão murchar e todos vão morrer. Você tem que ter uma vida artística, não pode viver só de tecnologia. Você precisa de arte. O problema é que há muito de ruim no mundo da arte, muita gente diz ‘eu quero ser um artista’ e não trabalha nisso. Se você é um bom artista, você consegue viver disso, e há muito espaço para artistas – odiaria viver em um mundo sem eles”.

    Sobre o que a inspira: “Estar viva, levantar de manhã, conversar com as pessoas, respirar fundo, comer algo bom, olhar coisas bonitas, olhar coisas feias. Estar viva… É muito bom. Eu tive que me ensinar isso. Você tem que aprender essas coisas, ninguém pode te dar isso. (…) Permitam-me deixa-los com uma palavra para abrir suas mentes e suas vidas: curiosidade. Sejam curiosos — é muito, muito importante. Acreditem: não desdenhem as coisas, investiguem. Não apenas olhem, mas vejam. Não apenas ouçam, mas escutem. Vocês serão recompensados”.

    Sobre as coisas mais importantes que ela aprendeu na vida: “Ter senso de humor. E não se levar muito a sério. Ter valores. As coisas cafonas que parecem bobas quando você é jovem, mas que são muito importantes. (…) Muitos dos meus bons amigos poderiam ser meus filhos, ou meus netos. Porque quando conheço gente da minha idade, eu penso: ‘Ugh, eles são tão velhos!’. Porque a vida acabou pra eles, e acho que essa é uma forma terrível de ver as coisas. Ninguém pode fazer as coisas por você, você mesmo tem que fazer, tem que se manter envolvido… E agradecer a Deus por cada dia que você tem. É como dizem: ‘Viva cada dia como se fosse o seu último, e um dia você estará certo’”.

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