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    “O Brasil é cheio de energia”, diz Suzy Menkes ao FFW
    “O Brasil é cheio de energia”, diz Suzy Menkes ao FFW
    POR Redação

    Por Juliana Lopes, em Milão

    1-suzy-menkesSuzy Menkes em uma das edições de seu seminário ©Reprodução

    Antes de falar sobre o International Herald Tribune Seminar, é preciso lembrar que o nome de Suzy Menkes tem o seu poder. Não é exagero falar que ela é uma das mais importantes jornalistas de moda do mundo. Podemos ser ainda mais específicos e reconhecer que ela é uma das grandes pensadores de moda do mundo. Enquanto os nomes Carine Roitfeld, Franca Sozzani e Anna Wintour representam aquelas que desvendam e enriquecem o imaginário contemporâneo na construção de imagem editorial de moda, Suzy Menkes é a que dá uma espécie de palavra final. Suas análises e observações viraram um selo qualitativo-filosófico-fashionista.

    O mais divertido – e fundamental – para  nós, brasileiros que trabalham ou acompanham o setor da moda, nesse momento, é estarmos sendo olhados por ela. Nosso novo mercado, cheio de gás e possibilidades, atraiu as antenas de Suzy. Começou a ficar mais visível com sua aproximação ao estilista Pedro Lourenço. Pudemos ver uma atitude quase maternal (uma rigorosa mãe britânica, diga-se de passagem), em seus modos atenciosos, indo cumprimentá-lo no backstage com um sorriso doce. Nunca dê por certo um sorriso dela, é preciso fazer direito para receber um!

    Ela quase foi ao São Paulo Fashion Week – se diz extremamente frustrada por ter quebrado um dos ombros e não poder viajar. Mas nada impediu Suzy de juntar brasileiros, americanos e europeus para levar ao Brasil o seminário sobre luxo do International Herald Tribune, que existe há 10 anos e já passou por diversas capitais no mundo. O mercado aguarda, atento, a série de discussões que vai acontecer no Hotel Unique, dias 10 e 11 de novembro. Pra quem pensa que ela vai passar a mão na nossa cabeça, um engano: ela quer aprender a nossa linguagem e trocar ideias.

    Depois de alguns SMS trocados e encontros entre um desfile e outro, Suzy recebeu o FFW com exclusividade no hotel Grand Hotel de Milan, na via Manzoni, durante a Semana de Moda italiana.

    FFW: Suzy, em novembro você leva ao Brasil seu seminário, que existe há 10 anos. Por que agora chegou a nossa vez?

    Suzy Menkes: O Brasil é cheio de energia, tem um monte de novos designers e duas semanas de moda, a São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio. Não estamos falando sobre um país primitivo que nunca viu o luxo na frente. Pelo contrário: eu acho que as pessoas no Brasil entendem muito bem o luxo. Quando eu estive em São Paulo fiquei muito impressionada com os bairros para fazer compras. As áreas para shopping são bem feitas. E também porque, você sabe, a Europa está ficando velha, as pessoas na Europa estão ficando velhas e é muito excitante ver um mercado onde trabalham tantas pessoas com menos de 35 anos.

    FFW: E onde entraria a sua colaboração nessa discussão sobre luxo?

    Talvez essas pessoas com menos de 35 anos ainda não tenham tanto conhecimento da tradição da moda (Suzy usou a palavra “heritage”. Podemos aproveitar todos os sinônimos: tradição, herança, legado). E essa mensagem é muito importante para passar para as marcas.

    FFW: Então você acredita que temos que aprender mais sobre o que foi feito antes?

    Absolutamente. Mas eu não acho que nenhuma marca europeia ou americana possa ir para o Brasil pensando que podem ensinar os brasileiros a se vestir, pensando em ensinar o que é luxo. Nada disso! O Brasil já é um país sofisticado. E São Paulo, principalmente, muito cosmopolita. A relação do Brasil com o luxo é completamente diferente do da China, por exemplo, nesse ponto. Quando eu estava negociando com o International Herald Tribune sobre levar esse seminário pro Brasil fomos atrás de vozes brasileiras para ouví-las. Nem pensamos em chegar em São Paulo dizendo “Nós sabemos de tudo”.

    FFW: … como em uma atitude colonialista.

    Imagine. É o oposto! O oposto! Nós queremos aprender com vocês. Por isso acho muito importante ter  nomes brasileiros, como Francisco Costa, Nizan Guanaes. Eu ainda estou frustrada de não ter conseguido ir antes para a São Paulo Fashion Week. Quebrei meu ombro e não pude viajar. São um desses dramas que acontecem! Eu fiquei muito chateada de não ter ido. Mas estou muito impressionada em como os designers brasileiros estão fazendo seus nomes pelo mundo afora.

    FFW: Estamos fortalecendo a nossa identidade. Mas tantas empresas, no Brasil e no mundo, ainda têm a atitude de vir para a Europa, comprar peças de grandes designers para reproduzir, idênticas, em países como a China. Você não acha que esse processo atrapalha o desenvolvimento de uma linguagem nossa? Como lidar com isso?

    (Suzy dá uma risadinha. Parece um sorriso cúmplice,  de quem conhece exatamente o que estamos falando). Bom, você sabe, como dizem aqui na Itália, “poco a poco” as pessoas vão começar a se preocupar com isso… Uma das áreas que o Brasil poderia desenvolver cada vez mais é a tecnologia para trabalhar o couro e a lã, duas matérias primas que são totalmente maravilhosas no seu país. E, sabe, se eu pensasse em dar algum conselho ao mercado de luxo no Brasil eu ia na hora pensar nessas áreas. São muito importantes.

    FFW: Você está falando em aprender a lidar com essa matéria-prima?

    Estou falando em promover essa qualidade que o Brasil tem e é excepcional. Poucos países, por exemplo, têm o couro que vocês têm. Estou falando de coisas palpáveis, físicas. Como a “atitude verde” que vocês também têm, se é que se pode usar esse termo. Penso na atitude sustentável com a moda que Oskar Metsavaht, da Osklen, por exemplo, tem. Talvez seja ridículo eu dizer que ele tem atitudes para “salvar o mundo”, mas você sabe exatamente do que eu estou falando. Já estávamos desde o ano passado tentando achar um modo de falar sobre sustentabilidade e essas questões. E isso é muito mais presente no Brasil.

    OSKLEN - SPFW Verao 2012Backstage da Osklen, do desfile de Verão 2012 ©Fotosite/FFW

    FFW: A discussão sobre sustentabilidade virou um dos pontos fortes da moda hoje. Hoje luxo tem a ver com isso?

    Tem, mas eu acho que os designers brasileiros já têm esse conceito dentro! Ninguém ensinou os brasileiros sobre sustentabilidade. É algo que vem de dentro, eu sinto.

    FFW: E isso parece ser um ponto importante para entender o que já existe dentro de nós e valorizar. Não existe, por exemplo, um brasileiro típico, somos uma mistura de índios, europeus, africanos, asiáticos. Talvez seja essa a razão da mistura criativa. O que você acha disso?

    Eu acho bom. É um dos valores importantes no momento e não acontece em todo o lugar. Em Nova York e Londres isso aparece nas passarelas, na escolha das modelos, mais que na Itália, por exemplo. Acho que o Brasil tem que se aproveitar desse aspecto de diversidade.

    FFW: Então se nós temos características que são grandes tendências no momento, como a diversidade, a sustentabilidade, a juventude, temos que cuidar bem desse momento histórico nosso.

    Sim, totalmente. Eu quero ver quando todos aqueles nomes americanos ou europeus chegarem ao Brasil para conhecer direito o que está acontecendo com vocês agora. Eu acho que eles vão ficar muito surpresos. Inclusive com a arquitetura. Sei que a paisagem modernista está principalmente em Brasília, mas existe a influência em São Paulo e isso é novo. Enquanto os europeus ainda pensam que qualquer coisa do século 18 é melhor do que qualquer coisa nova… Em São Paulo eu vejo linhas retas e limpas… As pessoas que vão para o Brasil para esse seminário serão centenas e eu tenho certeza que as que estiverem indo pela primeira vez vão ficar muito surpresas. No bom sentido!

    FFW: Você tem quais lembranças de São Paulo?

    Pensei que fosse cinza, como as pessoas falaram. Mas é colorida. E passei por lugares com muitas árvores. Eu achei São Paulo sofisticada, gostei dos restaurantes, das lojas na cidade. Não é como por exemplo na India, em que as lojas estão só dentro de shopping centers. Você vê as lojas nas ruas também. E todo mundo adora cores, dá pra perceber. E quando você pensa nas Havaianas, puxa, viraram um ícone de moda em todo o planeta…

    FFW: Exato, você falou das Havaianas e isso me faz pensar no nosso clima. O fato de não termos inverno como o europeu acaba nos diferenciando na produção de moda. Nossa coleção de inverno nunca vai ser como a de vocês, então ainda temos que criar nossa própria temporada.

    Eu acho muito inteligente falar disso. Se eu pensasse em ensinar moda no Brasil eu iria considerar a questão do clima. O Brasil tem que ser o centro da moda na América Latina, unindo os países com mesmo clima, senso de cores, senso de luz. Eu não vejo um motivo para o Brasil tentar desenhar o casaco perfeito de inverno para Paris. O casaco perfeito de inverno para Paris pode ser feito em Paris mesmo! (Suzy dá uma risada simpática)

    FFW: Que tipo de ensinamento você acha importante nas escolas de moda?

    Sabe, eu acho importante estudar design, aprender a parte técnica. Mas o que acho mais importante é aprender como canalizar a criatividade. Ou seja, quando um designer tem uma ideia ele precisa aprender como transformá-la em alguma coisa que as pessoas vão querer vestir. E isso tem a ver com paixão, mas também com o que está por trás da paixão. Tem a ver com habilidade. Ninguém quer vestir algo que é só uma grande ideia, as pessoas querem vestir algo que funcione.

    FFW: O conceito de luxo, no geral, transmite a ideia de um desejo pelas coisas além das necessidades. Vocês pretendem falar sobre essas ideias essenciais do que é luxo?

    Eu acho que luxo tem a ver com isso, sim. Mas eu não acho que o conceito de luxo tem a ver apenas com aquisições, comprar coisas. Para mim luxo é ter tempo para ir a um spa, é poder relaxar, é ter uma parte do seu dia onde você pode ser gentil com você mesmo. Para a maior parte das pessoas, especialmente mulheres, isso é muito mais luxo que comprar uma bolsa.

    FFW: Você poderia nos antecipar alguns assuntos que serão abordados no seminário?

    Quero que as pessoas não tenham só o foco no Brasil, mas em toda a América Latina. Estou muito interessada em ouvir a opinião de Carlos Jereissati (CEO que controla o shopping Iguatemi) e o interesse que ele tem em desenvolver negócios fora do Brasil. E não apenas fora do Brasil, mas dentro do Brasil, em outras cidades.

    FFW: Porque o mercado ainda está concentrado em São Paulo.

    Exatamente. Também quero ouvir de Marc Puig (Chairman do grupo Puig Beauty & Fashion Group, que lança perfumes Prada, Valentino, Carolina Herrera,com base na Espanha), que vai dar uma panorama sobre toda a sua atitude com os negócios. Ele vai falar muito sobre a geração Millenial (ou “Geração Y”, pessoas que nasceram, principalmente, em torno dos anos 90), que é a geração que está crescendo nesse novo século. Vamos ter uma sessão divertida no fim do primeiro dia com Christian Loubotin e Charlotte Dellal que é metade brasileira, a propósito. Eu quero perguntar pra eles: “Quem faz os sapatos mais sexies? Homens ou Mulheres?” Vai ser muito divertido! Charlotte vai lançar uma nova coleção no Brasil. Diane Von Furstenberg vai falar sobre o poder das mulheres!

    FFW: Sobre o que vai falar Sarah Burton (diretora criativa de Alexander McQueen)?

    Sarah vai falar sobre inspiração no geral. Sobre como é ser uma fashion designer. Ela estava na sombra de Alexander McQueen, sabe? Por muitos anos. E agora ela está aparecendo, por seus próprios meios. É muito interessante essa situação, não? Eu não sei se ela vai falar sobre o casamento real porque ela é discreta. Mas você sabe, ela fez o vestido de Kate Middleton…

    (E Suzy continua a contar…) Lapo Ellkan (manager italiano que renovou a imagem do grupo Fiat) vai falar sobre customização de carros, vai ser muito interessante. Outra pessoa que acho que vai surpreender é James Lima, diretor de efeitos especiais do filme “Avatar”! Ele vai falar sobre como usar tecnologia para moda. Ele fez um projeto de 3D para a loja online da Ermenegildo Zegna. Ele vai falar sobre coisas maravilhosas que faz em Hollywooed e como colocar isso online.

    saragDesfile de Inverno 2012 de Sarah Burton para Alexander McQueen ©Reprodução

    FFW: Já vi você falando sobre e-commerce em uma entrevista. Você comentou que, apesar do luxo ser algo que se deva ver de perto, sentir e cheirar, é preciso deixar o e-commerce cada vez mais atraente, não?

    Exatamente. Vamos ter uma discussão sobre isso, que vai ter a presença de Toby Bateman e Jeremy Langmead, do site Mr. Porter (parte do Net a Porter). Outra apresentação que queria lembrar é a da Lenny Niemeyer. Eu não poderia fazer um seminário falando de moda no Brasil sem falar de swimming wear, não é mesmo? É essa a imagem que o Rio de Janeiro passa pro mundo… E ela está celebrando 20 anos de negócios então é o momento ideal de falar com ela. Outro aspecto que chama muito a atenção no Brasil são as joias e por isso também convidamos Roberto Stern (presidente e diretor criativo H.Stern). Achei impressionante as joias que vi no Brasil, maravilhosamente bem feitas.

    lennyDesfile de Verão 2012 da Lenny ©Fotosite/FFW

    FFW: E Alexandre Herchcovitch?

    Herchcovitch está aberto para falar em como ele vê a moda no Brasil, e o que realmente significa a moda brasileira para o mundo, ou poderia significar.

    FFW: Como foi o processo para escolher todas essas pessoas?

    Tenho feito essa conferência há 10 anos e por isso já faço tanta pesquisa, algumas coisas já sabia. Muitas pessoas no Brasil me ajudaram para isso também. O importante é misturar pessoas. Se fossem só fashion designers falando, sabe, não seria certo. Sabe que fiquei interessada na cena artística?

    FFW: Pra finalizar, Suzy, como estamos em um momento de bastante desenvolvimento no nosso país, temos tido muita vontade de saber e melhorar a nossa imagem no mundo. E por isso falamos muito nesse assunto. Você não acha que em breve temos que parar de falar sobre tudo isso?

    O mundo hoje é globalizado. Mesmo tendo semanas de moda locais, no final das contas, um grande designer é um grande designer. E será maravilhoso se esse grande designer trouxer no seu trabalho sua própria cultura. Como um grande artista. Um grande artista é um grande artista e isso não é porque ele veio de um local específico.

    FFW: Já que não falamos sobre você diretamente, queria que você me contasse como é para você, pessoalmente, um dia perfeito.

    Um dia perfeito é um dia em que eu acordo e vou para um spa ou faço uma aula de ioga. Depois sento numa mesa, com mais de dez pessoas, todos os meus familiares, e celebramos e comemos juntos. Mas tudo isso depende. Um dia perfeito pode ser um dia em que estou vendo um desfile de moda!

    FFW: Como é o dia de hoje pra você? Você está feliz, se sente bem?

    Sim, estou muito feliz. Os dias em Milão estão lindos, cheios de sol. Nem parece que estamos em Milão. E na passarela estou vendo tantas cores! Acho que os designers têm sonhado com o Brasil!

    Suzy termina seu cappuccino, vai até a portaria do hotel, pede para a recepcionista fazer um xerox de suas anotações do seminário, para nos ajudar a fazer esta reportagem. Diz que está muito grata porque nos interessamos sobre o assunto. Se despede de todo o staff ali e sai correndo para o desfile da Emilio Pucci, com seu topete único, e seu motorista.

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