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    A Alta Costura entre o sonho e a vanguarda
    Iris Van Herpen / Reprodução
    A Alta Costura entre o sonho e a vanguarda
    POR Camila Yahn

    Na moda, a Alta Costura é um espaço para experiências de imersão e encantamento. Mas está cada vez mais claro que há duas maneiras de provocar essas sensações: evocando o sonho e o desejo ou pela vanguarda, usando-a como um laboratório experimental e livre, que abre as portas para o futuro.

    Na temporada de Verão 19, que encerra nesta sexta, esses dois polos estão representados de forma precisa. Um traduz a essência da couture em sua forma mais pura, criando as roupas que são tanto sonhos quanto vestidos. Integram esse grupo gigantes do segmento de luxo, como Chanel, Dior e Valentino. O outro usa a Alta Costura como um mostruário de tudo o que a moda pode vir a ser, abrindo espaço para repensar seu significado e sua relevância no mundo de hoje, como fazem John Galliano na Maison Margiela Artisanal, Iris Van Herpen e a dupla Viktor & Rolf.

    Com seus negócios sustentados por grandes conglomerados ou famílias bilionárias, marcas como Valentino, Chanel e Dior trabalham com um budget ilimitado e fazem dos desfiles suas mais potentes ferramentas de marketing. Seus ateliês têm as melhores costureiras e artesãos do mercado, que conhecem a fundo as tradições e as habilidades que são a alma da Alta Costura. Peças bordadas à mão por horas a fio, como as flores flores secas embebidas em resina e os paetês pintados à mão (!!) da Chanel, que são pacientemente aplicados em materiais que vão de organza, chiffon e rendas ao couro e o tweed.

    Close nos vestidos da Chanel / Cortesia

    Close nos vestidos da Chanel / Cortesia

    Apesar de não ser uma marca moderna ou preocupada em traduzir seu tempo, a Chanel se mantém como uma das mais poderosas do mercado. Com uma história contada inúmeras vezes em filmes e livros e um designer celebridade à frente, a Chanel tem nos ateliês especializados em couture seu ativo mais valioso.

    Nesses desfiles grandiosos, a cenografia é um show à parte, uma grande produção que começa a ser montada dias antes e vai disputar a atenção do público com as roupas. Basta colocar o primeiro pé dentro do local do desfile para ser transportado para um mundo de sonhos e desejos – e postagens.

    Enquanto a Chanel usa o Grand Palais para recriar supermercados, aeroportos e villas italianas (o caso desta temporada), a Dior se abriga no histórico museu do Louvre, onde montou um circo com direito a apresentação da trupe feminina de acrobatas Mimbre, que se apresentavam enquanto as modelos caminhavam. Para onde olhar? Nesses dois casos, não há um foco, é a experiência como um todo que faz sentido.

    São quase 70 looks na passarela que mostram o que essas marcas sabem fazer de melhor, em um mix de extravagância fashion e roupas mais mundanas (apenas na estética). O problema é que a imagem de uma forma geral fica um tanto repetitiva e não causa impacto por si só: ela precisa do cenário e das celebridades na primeira fila para completar o processo de encantamento.

    No caso da Dior, que vem batendo o martelo na questão do feminismo, as roupas não dizem muito sobre empoderamento feminino. São bonitas e impecáveis, mas esse é o mínimo que se espera de uma marca deste nível em uma semana de Alta Costura. E isso parece ser suficiente para as estrelas do cinema e da música que irão vestir essas roupas nos tapetes vermelhos deste ano – os stylists das atrizes encomendam os looks para prova tão logo o desfile termina.

    Uma excessão é a Valentino, com direção criativa de Pierpaolo Piccioli. Ele tem dominado a Alta Costura com coleções que oferecem o sonho através da paixão pela roupa e pela mulher. São 65 sonhos para ser mais exata – cada look é único em suas cores, volumes e construções, uma verdadeira celebração de beleza e técnica, porém com os dois pés fincados na contemporaneidade. Não à toa, Raf Simons, Clare Waight Keller, Giambattista Valli e Christian Louboutin estavam na primeira fila do desfile.

    Look da Alta Costura de Valentino / Cortesia

    Look da Alta Costura de Valentino / Cortesia

    Mas para tudo na vida há os dois lados e se a couture pode ser romântica, ela também pode ser moderna. As marcas que usam este segmento como um laboratório de ideias têm um processo inteiramente diferente. Elas não olham para o passado nem para o presente e sim para o futuro. Representam a vanguarda, os novos comportamentos e conceitos que ainda nem entendemos direito, além de trazer novas possibilidades de materiais e técnicas. É um lugar livre e radical de criação e descobertas.

    Sendo assim, em vez de 70 looks, eles exibem, no máximo, 40 – alguns não chegam a 20. Aqui, quantidade é irrelevante. O valor está no intelecto e Eles não precisam de 100 looks para mostrar sua ideia. São marcas menores, maior parte independentes, que trabalham com o rigor da Alta Costura porém sem o budget ilimitado das gigantes, apoiadas em grandes conglomerados ou pelas famílias mais ricas do mundo. Sua maior riqueza está em seu intelecto, na ideia, onde seus pensamentos os estão levando.

    John Galliano na Margiela, por exemplo, tem refletido sobre os tempos atuais, tentando decifrar novos códigos, revendo questões de gênero e buscando compreender os novos caminhos que surgirão. Nesta coleção ele é inspirado pela saturação visual da cultura digital, o excesso e a decadência. “Vivemos uma situação de consumo excessivo, super saturação, super estimulação e excesso de indulgência”, diz Galliano em seu podcast. 

    Primeiro look do desfile da Maison Margiela Artisanal / Reprodução

    Primeiro look do desfile da Maison Margiela Artisanal / Reprodução

    Mostrado em um cenário que replicava a arte, as cores e elementos vistos nas roupas, o desfile causou o caos visual que inspirou o estilista em primeiro lugar. Esta foto acima parece mais uma imagem digital do que uma modelo na passarela. A sensação de desordem mental foi reforçada pela passarela espelhada que multiplicava a confusão. No meio desse caos, há bordados artesanais, tecidos refletivos, cortes impecáveis e construções elaboradas. Após essa explosão de excesso, Galliano passa para a contenção com looks mais limpos – essa restrição aparece também na maneira como alguns looks foram apresentados, prendendo os braços dos modelos e criando uma nova silhueta.

    Bagunçada e caótica, poucas pessoas conseguem apreciar ou entende-la e, dificilmente, essas roupas aparecerão no tapete vermelho, a não ser que alguma corajosa e autêntica como Tilda Swinton abrace a ideia. Mas sua importância vai muito além disso. Esta é uma coleção surpreendente e que cria uma nova realidade ou possibilidade para a Alta Costura. John está entre os profissionais que conseguem reinventar e desafiar as instituições, trazendo necessária renovação.

    Iris Van Herpen / Reprodução

    Iris Van Herpen / Reprodução

    Outro nome que vem derrubando fronteiras entre presente e futuro é a holandesa Iris Van Herpen, pesquisadora ávida e precursora de cortes a laser, roupas 3D e impressão digital. É comum ela trabalhar lado a lado com cientistas, arquitetos, engenheiros e artistas para criar suas peças esculturais e de construções quase impossíveis.

    Em apenas 18 looks, Iris condensa suas inspirações incomuns e que revelam seu universo erudito. Esta coleção ganhou o nome de Shift Souls e foi inspirada em exemplos de cartografia celestial e suas representações mitológicas e astrológicas – uma das referências é o Harmonica Macrocosmica, um atlas estelar publicado em 1600. “Olhei para a evolução da forma humana, sua idealização através do tempo e a hibridização da forma feminina na mitologia”, diz no release do desfile. De sonhos mitológicos aos avanços na engenharia de DNA, a coleção de Alta Costura de Van Herpen é a sua maneira de mostrar como a tecnologia pode trabalhar a serviço do vestuário.

    E por fim, os românticos malucos Viktor Horsting e Rolf Snoeren, da Viktor & Rolf, que chamaram seu desfile de Fashion Statements, inspirados pelo mundo virtual e seus memes com frases de efeito. Para cada um dos 18 looks, uma frase, palavra ou um sentimento comum decoravam seus vestidos maxi com o tule cortado que virou uma de suas marcas registradas. Da empoderada I am my now muse a um sonoro NO ou Leave me alone, as peças chama, a atenção pela junção de proeza técnica com ironia: cada um dos corações ou caveiras foram feitos em camadas adicionais de tule.

    Viktor & Rolf / Reprodução

    Viktor & Rolf / Reprodução

     

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