As “esculturas” andantes de Walter Van Beirendonck e Erwin Wurm em ensaio da “Dazed & Confused” ©William Seldon/Reprodução
Walter Van Beirendonck é conhecido por ter feito parte dos “Seis da Antuérpia”, um coletivo formado nos anos 1980 por designers belgas recém-graduados da Royal Academy of Fine Arts da Antuérpia que, ao apresentar nas principais capitais da moda do mundo propostas completamente inovadoras, impactou o mercado quase da mesma maneira que os estilistas japoneses o fizeram na década anterior. Mesmo que menos celebrado internacionalmente que seus conterrâneos Ann Demeulemeester e Dries van Noten, Van Beirendonck tornou-se sinônimo de inventividade e expõe suas criações pouco convencionais e muito artísticas na Semana de Moda de Paris. Na coleção masculina de Primavera/Verão 2012 que apresentou em junho de 2011, chamada “Cloud #9”, o belga colocou na passarela peças de alfaiataria coloridas e finalizou com uma série de “esculturas” vivas feitas em parceria com o artista plástico austríaco Erwin Wurm.
Erwin Wurm e Walter Van Beirendonck ©Jesse Willems/Reprodução
As “esculturas” vivas desenvolvidas com a colaboração de Wurm fizeram parte da série “Performative Sculptures” e, além de terem surpreendido os presentes no desfile da coleção de Primavera/Verão 2012 de Van Beirendonck, ganharam as ruas – ou melhor, os bosques – do Museu Middelheim em uma retrospectiva à obra do artista plástico austríaco que ficou em cartaz de 29 de maio a 25 de setembro de 2011. A ideia básica por trás da parceria foi desenvolver uma performance em que pessoas vestidas com as peças peculiares do belga andassem pelo parque do museu se tornando parte do contexto, como verdadeiras esculturas, além da experimentação com volumes, cores e texturas que é tão constante no trabalho de Wurm e Van Beirendonck.
As esculturas andantes de Walter Van Beirendonck e Erwin Wurm ©Reprodução
O resultado foram obras quase surrealistas que mesclavam conceitos artísticos e “estilísticos”. Em recente entrevista à revista “Dazed & Confused”, Van Beirendonck e Wurm falaram sobre a colaboração e as controvérsias da representação das peças criadas em parceria. Confira abaixo alguns trechos dessa conversa:
Como vocês criaram as esculturas performáticas? Como foi o processo?
Van Beirendonck: Nós sentamos juntos e ficamos pensando no que poderíamos fazer porque eu não sou realmente um artista, e ele é fascinado por moda, mas não é um designer de moda. Então nós realmente queríamos unir as duas coisas.
Wurm: Eu recortei páginas de revistas de moda com modelos e pintei sobre elas, adicionei desenhos para desconstruir o corpo, para desconstruir a superfície do corpo humano.
Esboço de Walter Van Beirendonck ©Reprodução
Van Beirendonck: Os esboços eram formas muito grandes e nós decidimos criar novos volumes de corpos quase surreais. Eu levei os esboços para o meu estúdio e comecei a desenhar e fazer a minha própria interpretação deles. Eu realmente queria criar algo que pudesse ser vestido, mas que também fossem sentidas como esculturas abstratas. […]
O que elas representam?
Wurm: Na verdade, nada. Eu me interesso em transformar gestos e movimentos específicos. Algumas pessoas viram um pênis, um pênis andante, outras pessoas disseram que parecia com um cachorro. Eles podem fazer ligações com a realidade e isso os faz rir.
Van Beirendonck: Não, não, não, não era um pênis andante, é só porque certas pessoas estão pensando nesta direção. Para mim era um foguete – não é como se eu estivesse pensando em falo todo o tempo. Eu comecei a criar diferentes formas e então nós selecionamos juntos as que gostamos. Nós tínhamos uma nuvem, um foguete, a lua e a terra – então de preferência formas grandes. Nós fizemos três performances no museu e as esculturas andantes ganharam vida e o público começou a interagir com elas. Eles [o público] começaram a tocar e conversar com elas [as esculturas] e ficaram fascinados por essas coisas andantes e abstratas. Eram pessoas? Aliens? Eu não sei como descrevê-las, mas foi uma sensação incrível ver que eles estavam realmente criando emoções.
A intenção de vocês era que as esculturas fossem engraçadas?
Van Beirendonck: Óbvio que no meu trabalho há uma dose de humor, mas para mim o que era importante era que a superfície parecesse com flores e que as cores suaves fossem alegres.
Wurm: Não é sobre humor, mas sobre fazer as pessoas rirem. Estou cansado de “phatos”, cansado de pesados questionamentos, de psicologia ou sociologia, ou qualquer outra disciplina. Quando eu lido com questões sérias quero fazer com que as pessoas levitem, torná-las mais leves. Quando você cria certas coisas e usa a forma do cinismo crítico, algumas vezes as pessoas riem.
Van Beirendonck: Nós compartilhamos um senso de humor, mas não somos pessoas que vivem rindo o tempo todo. O que nós descobrimos enquanto conversávamos foi que ambos somos fascinados pelas formas do corpo, e por mudar essas formas. […]
Para conferir a entrevista na íntegra: Dazed Digital.