Por Rodolfo Vieira
Um dos destaques na 3ª edição do Projeto Estufa, que acontece neste SPFW N48, a jovem estilista irlandesa Bethany Williams despertou muita inspiração em quem compareceu a sua masterclass “Moda Inspirando Mudança Positiva” no início desta quarta-feira, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, em São Paulo.
Com a sala cheia, Williams apresentou sua marca e respondeu a diversas questões de uma plateia curiosa sobre a inspiração por trás de seu belo trabalho, que combina práticas verdadeiramente sustentáveis e iniciativas sociais em um processo ético e inovador para a indústria da moda. Bethany venceu o segundo prêmio Queen Elizabeth II por Design Britânico e foi finalista do último Prêmio LVMH 2019.
Pela primeira vez no Brasil, a estilista fala, em entrevista ao FFW, sobre os desafios de fazer moda sustentável, a trajetória de sua marca masculina e a visita ao ateliê de Gustavo Silvestre durante sua passagem por São Paulo. Confira:
Você acha que toda essa indústria sustentável que idealizamos e buscamos é realmente possível?
Eu acho que é, sim, difícil, porque no mercado de luxo, os preços são muito altos por causa de todo o processo por trás da roupa e todas as etapas são, realmente, importantes. Na verdade, eu não sei a resposta exata para essa pergunta, uma vez que a maioria das pessoas, que também não é favor do fast fashion, possui uma renda completamente diferente e continuam comprando neste mercado por não haver outra opção. É uma discussão realmente importante a ser feita.
De onde surgiu a vontade de inserir projetos sociais em seu trabalho? Qual foi o momento que você fez essa reflexão e passou a trabalhar dessa maneira?
Acho que foi durante meu MBA na universidade [London College of Fashion], enquanto eu elaborava a minha dissertação que me fez entender que o meu trabalho poderia causar um efeito político e sócio-econômico em uma proporção maior. Ao procurar diferentes projetos comunitários durante a universidade, por um viés artístico, percebi a dificuldade de infiltração ou conhecimento de tais iniciativas pelas grandes multinacionais, principalmente em Londres. Neste ponto, olhei para esta ideia e quis traduzi-la para o senso estético da moda.
Se a moda pode ser um grande agente de transformação, por que poucas marcas trabalham com essa ideia?
Muitas pessoas têm sido agentes de transformação. Alguns dos meus mentores já praticam princípios conscientes há anos e anos e anos. Eu acho que as pessoas somente agora estão ouvindo e tentando encontrar soluções.
Qual é a sua visão sobre o homem contemporâneo? Que tipo de homem você tem em mente quando está criando?
É estranho, porque eu não penso para quem eu crio. Eu apenas crio. É isso. Eu não sei quem ele é, mas eu o acho, obviamente, alguém “swagger” [risos].
Como prêmios como o Queen Elizabeth II e o LVMH incentivam a sua marca?
Tem sido um ano incrível! Um ano que me apresentou a diversas pessoas, como a equipe do British Fashion Council e, principalmente, o apoio de Caroline Rush [CEO do BFC]. Além disso, os resultados para a marca cresceram muito e tem sido uma ótima ferramenta para os negócios.
Como uma designer que usa somente materiais reciclados, orgânicos ou naturais, você já se sentiu limitada por isso?
Definitivamente. Mas eu acho que gosto disso, porque se não houvesse um limite de matérias-primas, eu acho que nada aconteceria, porque seria um amontoado de questões e ideias sobre possíveis criações e nada ficaria do jeito esperado. Portanto, acho que ter limites me dá uma área certa para focar.
Nós podemos consumir sem culpa?
Eu acho que não e também não acho que isso é possível ainda. Eu creio que cada um pode dar o seu melhor e é o que a nova geração está fazendo agora. Há muitas possibilidades vindo por aí e estou super ansiosa pelas novas descobertas de consumo.
O que você achou interessante em São Paulo até agora?
Eu conheci o ateliê de Gustavo Silvestre [projeto Ponto Firme] e ele me explicou todo o processo por trás de seu trabalho, que muito tem a ver com a minha inspiração em minhas criações e os projetos sociais que escolhemos. Outro ponto interessante foi conhecer Botão de Flor [projeto paulistano de inserção social de mulheres transexuais e travestis], com pessoas carregadas de histórias que merecem nossa atenção. É ótimo encontrar pessoas com interesses similares, ainda mais em minha primeira vez no Brasil!