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    Cami Talks: Natasha Soares e sua presença necessária no mercado de moda

    Modelo que começou o Pretos na Moda e o Projeto Sankofa, fala do momento atual e de mudanças urgentes

    Cami Talks: Natasha Soares e sua presença necessária no mercado de moda

    Modelo que começou o Pretos na Moda e o Projeto Sankofa, fala do momento atual e de mudanças urgentes

    POR Camila Yahn

    Natasha Soares é uma das forças por trás do movimento preto na moda. Aos 23 anos, ela entrou em uma live com Paulo Borges, fundador do SPFW, onde revelou, em uma conversa emocionante, como era a situação de modelos negras na semana de moda e o racismo a que eram expostas e expostos por algumas marcas.

    Quando isso aconteceu, o mundo vivia  já em pandemia e estava abalado e indignado com a morte de George Floyd nos EUA. O desabafo de Natasha ecoou fortemente e começou a gerar então uma série de mudanças, algumas a partir de iniciativas que ela ajudou a criar, como o Pretos na Moda e o Projeto Sankofa, uma espécie de incubadora de marcas criadas por empreendedores pretos que Natasha criou ao lado do estilista Rafa Silvério – e que estreia nesta edição do SPFW. Com toda essa movimentação e papel de liderança abrindo novos caminhos para uma moda racializada, Natasha então viu seu papel mudar.

    Nascida no Rio, ela foi para a África aos quatro anos, onde ficou entre idas e vindas até os 16. Lá, ela passou pela África do Sul, Moçambique, Uganda, Cabo Verde e Angola, acompanhando os pais que trabalhavam numa rede internacional de televisão.

    Hoje é um dia muito importante pra ela. É quando ela vai ver algumas de suas sementes darem seus primeiros frutos. Nesta quarta (23.06), primeiro dia d0 SPFW N51, duas marcas do Sankofa fazem sua estreia no evento (Meninos Rei e Ateliê Mãos de Mãe). A gente conversou com ela, leia abaixo os principais trechos da entrevista.

    Como os movimentos Pretos na Moda e Sankofa mudaram a sua vida?

    Quando entrei na moda e me perguntavam “por que a moda?”, eu já dizia que era porque eu queria transformar esse ambiente em algo mais inclusivo. Não pensei muito a respeito, mas era essa a minha intenção desde sempre. E quando surgiu a oportunidade do Pretos na Moda, não teria imaginado que seria então o momento de colocar tudo em prática tudo. Foi transformador, foi acolhedor, foi difícil, foi sofrido. Mas faria tudo de novo.

    Acabou mudando a minha vida e tudo o que eu tinha como ideia, intenção e foco pro último ano, tive que abrir mão pra fazer dar certo. E o resultado vai entregar exatamente o que a gente está procurando, que é a transformação real da moda, a transformação real da visão das pessoas e uma inclusão verdadeira.

    Você acabou virando uma voz importante de representação negra na moda. Esperava isso acontecer?

    Eu não esperava. E abracei esse papel da melhor forma possível. Porque sabia que se não fosse agora, a gente ia precisar de outra morte, de outra movimentação, de outra pandemia. Porque tudo isso influenciou pra que nossa voz fosse ouvida. A gente entende que se não tivesse em pandemia, com atenção total ao que tava acontecendo relacionado ao George Floyd, nossa voz não teria sido ouvida. Infelizmente as mudanças precisam sair de lugares muito dolorosos pra todos nós. Mas aconteceu e estou muito grata de poder estar aqui agora.

    Natasha Soares / Foto: Cortesia

    Natasha Soares / Foto: Cortesia

    Você ainda trabalha como modelo?

    Tenho trabalhado com uma freqüência muito menor do que antes. Minha carreira tem um foco internacional pelo biotipo de corpo que eu tenho. O Brasil ainda não entendeu o que é a modelo curvy. Ele só conhece a fashion, a comercial e a plus size. Quando você não se encaixa nesses três, ainda tem a dificuldade de ser entendida e incluída como um corpo que é muito brasileiro e muito comum.

    Como você lembra o momento da conversa com o Paulo Borges no Instagram?

    Tenho ela muito viva. É uma memória muito boa, uma intenção e uma verdade muito pura, a gente ter falado sobre todas as mudanças que o mercado precisava e estarmos de fato luando por isso tudo. É muito gratificante, ele disse que ajudaria, que daria esse espaço e está fazendo isso. E estamos conseguindo trazer e reunir muitas pessoas que realmente acreditam na integração.

    Que mudanças você gostaria de pontuar como urgentes em relação a moda?

    A mudança mais urgente que a gente precisa hoje é o consumo de marcas pretas. Já vimos que tem marcas pretas, modelos, stylists, maquiadores. Precisamos da inserção desse pessoal no mercado pra todo tipo de trabalho e ter cada vez mais equipes pretas pra conquistar essa visão radicalizada para tudo aquilo que é feito na moda.Tivemos uma visão muito única e muito unilateral durante todo esse tempo, então ver ela mudada e acontecendo tanto dentro quanto fora do Sankofa é o que é mais necessário.

    O que vc representa hoje para modelos em início de careira? 

    Uma referência que eu não tive quando tava começando. Isto de imaginar que estou abrindo precedentes pra muitas modelos independentes tem muito valor pra mim. Pensar que elas vão conseguir se posicionar – e não vão perder nada por causa disso -,  ter sua autonomia, sua voz e ser respeitadas no mercado.

    Onde você se vê em cinco anos?

    Se ano passado você me perguntasse onde eu me veria hoje, eu jamais diria que era esse o lugar, esse o projeto que estaria tocando. Então, não faço ideia, mas vou lutar ao máximo pra que, daqui a cinco anos, a inclusão e a proporcionalidade sejam muito naturais, com mais pessoas pretas, indígenas e asiáticas capacitadas pra fazer todo tipo de trabalho e serem entendidas como pessoas muito conceituadas no seu mercado.

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