O desfile do jovem designer japonês Tomo Koizumi neste fim de semana em Nova York foi um daqueles momentos. Ele reúne uma série de circunstâncias que fazem deste desfile um dos principais acontecimentos não só da NYFW, mas certamente de toda a temporada.
Tomo é um jovem designer e figurinista baseado em Tóquio, com um trabalho espetacular, mas que estava “escondido” no Japão criando looks para celebridades pop de seu país – Lady Gaga também usou algumas vezes (a primeira em 2016), mas aí foi façanha de um stylist bem insider. Suas inspirações vão de Capucci e estátuas budistas a Leigh Bowery e Sailor Moon e suas peças são geometricamente cortadas. De qualquer forma nada havia causado grandes ondas pro lado dele. Porém, um tsunami estava por vir, ele mal imaginava.
Há apenas um mês, a super stylist Katie Grand viu seu perfil no Instagram através do estilista Giles Deacon e ficou obcecada. Ela então usou de seus melhores contatos e orquestrou um desfile na semana de Nova York com o dream team reservado a poucos: make de Pat McGrath, cabelo de Guido Palau e casting de Anita Bitton, que trouxe para desfilar as modelos Bella Hadid, Joan Smalls, Karen Elson, Lexi Boling e Emily Ratajkowski (com seus 20+ milhões de seguidores), além das atrizes Rowan Blanchard e Gwendoline Christie (Brienne!), que abriram e encerraram o show respectivamente. Marc Jacobs apoiou emprestando um espaço de sua loja na Madison para que o desfile acontecesse. “Nós sabemos o que vai acontecer todas as temporadas e como são os processos. É ótimo poder fazer algo espontâneo e de última hora”, diz Grand ao WWD.
Quando as pessoas chegaram lá na sexta a noite para ver o trabalho de um jovem e desconhecido japonês – força da influência que um convite de Jacobs e Grand tem – ninguém sabia o que esperar. E sem dúvida, todos que estavam ali, entraram de um jeito e saíram de outro. Vestidos enormes, volumosos e coloridos, feitos em organza japonesa e meticulosamente cortados foram aparecendo, formando no final uma cascata colorida ou um arco-iris que descia a escadaria da loja. Essa coleção já existia e foi inspirada em pinturas abstratas e cores que vemos quando olhamos para o céu, segundo ele disse ao Financial Times. Ele teve três semanas para organizar tudo e o desfile foi anunciado 24 horas antes.
Após ter tomado as redes sociais e chamadas dos principais veículos ao longo do fim de semana, Koizumi planeja seus próximos passos, entre eles está o lançamento de uma coleção prêt-à-porter – até então, devido a natureza de suas roupas, ele só faz por encomenda. Uma peça mais comum leva 80 metros de tecido. Os vestidos mais volumosos precisam de até 200 metros, criando, como ele gosta de falar, armaduras de babados.
Koizumi tem como maior referência na moda o estilista John Galliano, que ele descobriu aos 14 anos. “Fiquei chocado quando vi fotos dos desfiles da Dior nos anos 2004 e 2005. Eu fui criado no interior e aquilo mudou minha vida. Decidi que queria ser alguém que poderia proporcionar aquela sensação às pessoas”, disse à Vogue americana.
Foi um momento fascinante, inesperado e necessário. Em um momento em que as semanas de moda enfrentam grandes desafios para se manter relevantes (tema do segundo episódio do podcast Fashion Weekly), é reconfortante ver a passarela como um lugar onde a mágica pode acontecer e causar emoções. E vale destacar também o caráter colaborativo, impulsionado por grandes profissionais que ainda têm como principal combustível a paixão pela moda e a vontade de viver momentos especiais.
Que venham os sonhadores!