Por Lucas Dias, em colaboração para o FFW
Estabelecida como a capital mundial da moda, Paris abriga as já conhecidas mega marcas com seus desfiles grandiosos que rapidamente tornam-se o assunto da cidade e dominam as redes sociais durante as temporadas.
No entanto – e ainda bem – a semana de Paris não pode mais ser resumida pelas grandes grifes de luxo, uma vez que, cada vez mais, a capital se fortalece como habitat de uma onda revigorante de futuros talentos que não ficam para trás quando se trata de idéias inovadoras e novas propostas para a moda.
Juntamos uma lista com 12 nomes que se destacam atualmente e que estão na vanguarda do cool e das novas tendências. Olho neles.
Marcas que estrearam em Paris nesta temporada:
KIMHÉKIM
Em seu primeiro desfile como parte do cobiçado calendário oficial da semana de moda parisiense, o designer coreano Kiminte Kimhekim concentrou sua coleção de Verão 2020 no que já é um ethos de sua marca: a supervisão da cultura do “ME” dos dias atuais, alimentada pela superficialidade e pela dependência das mídias sociais. A coleção mistura uma releitura de peças de streetwear do dia-a-dia, como jeans cigarette de lavagem clara, camisetas com logos exagerados, elementos que ja se tornaram hits da marca, como os mini vestidos de organza transparentes, os ternos grandes e bem cortados com peças para quem realmente procura chamar atenção: laços de organza gigantes usados como acessórios para a cabeça e cintos, selfie sticks e iv bags (bolsas de soro) – que combinadas com uma camiseta estampada com a palavra SICK causaram nas redes sociais – tudo ecoava o tom divertido, subversivo e reflexivo da coleções de Kimhékim.
MARRKNULL
Após apresentar sua coleção para o Inverno 2019 como designer convidado no desfile colaborativo da plataforma VFiles em Nova York, Tim Shi e Wang Wei trouxeram seu Verão 2020 para Paris pela primeira vez. MARRKNULL foi criada por Tim e Wang em Pequim em 2016 e é um dos muitos nomes vindos da China que estão atualmente desafiando as conotações negativas que o “Made in China” carregava. As coleções da dupla misturam técnicas e roupas tradicionais chinesas, como os vestidos de gola Mao em renda, estampas e técnicas de flores misturando seda com elementos do streetwear como jeans e couro.
DI DU
Recém-formada pela Royal Academy of Arts da Antuérpia, a coleção de graduação da Di Du já chamou atenção e causou uma ótima impressão entre os insiders da indústria. A designer, que também vem da China, mas atualmente reside na Bélgica, foi convidada a mostrar sua coleção tanto em Nova York, como convidada no desfile VFiles Runway, quanto em Paris à convite da recém inaugurada loja conceito L’Insane. A coleção de DI DU, que já foi vestida por celebridades como Ariana Grande, Rosalía e Rico Nasty, abraça elementos underground, fetichistas, hiper-femininos, futuristas e comenta sobre a liberdade sexual e o papel da mulher nas sociedades atuais chinesa e ocidental.
BODE
A marca estreou em Paris em um bom momento – ela foi uma das finalistas do Prêmio LVMH deste ano e ganhou muitos fãs com a publicidade do prêmio. Criada pela americana Emily Adams Bode em 2016, a designer faz roupas masculinas inspiradas no dia-a-dia enquanto se apropria de elementos que geralmente são associados a roupas femininas, como colchas, bordados delicados e babados, trazendo uma perspectiva inovadora sobre o guarda-roupa do homem atual.
LUDOVIC DE SAINT SERNIN
Embora essa não tenha sido a primeira vez que Ludovic de Saint Sernin apresentou suas coleções durante a semana de moda masculina de Paris, seu desfile de Verão 2020 marcou sua entrada oficial no calendário de desfiles da Fédération de la Haute Couture et Mode. Sua marca, que já é bastante comentada pelos insiders da cidade e atraiu a atenção de um número considerável de editores e fãs nas redes sociais, é um destaque quando o assunto é subverter e redefinir códigos de masculinidade. As coleções e o espírito de Ludovic são um estudo profundo sobre sensualidade, sexualidade, beleza e códigos de gênero.
PHIPPS
Nascida em 2017, a marca do americano Spencer Phipps é centrada em uma re-conexão com a natureza com desenvolvimento consciente e sustentável. Também um dos finalistas do LVMH Prize deste ano, a PHIPPS debutou oficialmente como parte do calendário oficial da semana masculina de Paris e lotou o desfile com uma legião de admiradores de peso da indústria. A coleção de verão 2020, que evoluiu de um projeto entre amigos, uniu o útil ao fashion ao mostrar looks construídos a partir de roupas de escalada e acampamento, com uma pitada de futurismo e do estilo yee-haw – uma espécie de cowboy retrô-futurista – que é uma das grandes tendências da temporada e sucesso nas redes sociais. Phipps promete ser um dos nomes incorporados aos guarda-roupa dos aficionados por street style.
Nomes já conhecidos que são apostas para o futuro:
SANKUANZ
Provavelmente um dos nomes mais fortes da geração de jovens designers provenientes da China, a Sankuanz, marca criada por Shangguan Zhe em 2008, começou a apresentar suas coleções na capital francesa em 2017 e já conta com peças hits, como a sandália-tênis, e uma colaboração com a Puma no currículo. Hoje, ele é um dos nomes mais cobiçados pelos fãs de streetwear atualmente. A marca, que é inspirada pelo estilo dos amigos de Zhe e das sub-culturas underground das grandes metrópoles chinesas, reflete a cultura do país através de suas coleções que são ricas em cores, detalhes, desconstrução e subversão de elementos comuns do guarda-roupa masculino e conectam perfeitamente a construção e caimento da alfaiataria com o conforto de um streetwear otimizado para o futuro.
ANREALAGE
Ainda que não seja uma marca relativamente nova, a Anrealage vem chamando a atenção desde que começou a se apresentar em Paris em 2016. Também um dos finalistas do Prêmio LVMH deste ano, Kunihiko Morinaga fundou a Anrealage em 2003, em Tóquio. Sua marca, cujo nome e DNA partem do estudo sobre realismo e anti-realismo da roupa cotidiana, oferece exatamente isso em suas coleções: uma releitura dos “uniformes” cotidianos que são elevados pelo designer com a implementação de técnicas tradicionais japonesas, detalhes únicos e experimentos com formas e proporções que permitem que o usuário adapte e dê nova vida às roupas através do uso.
OTTOLINGER
Já na sua terceira apresentação como parte do cobiçado calendário oficial de Paris, a dupla Christa Bösch e Cosima Gadient, fundadoras e diretoras criativas da Ottolinger, são definitivamente dois nomes que não devem passar em branco. A marca, que nasceu da visão da dupla sobre caos e destruição abstrata, apresenta coleções que já ficaram conhecidas por misturar e descombinar diferentes elementos em roupas que são perfeitamente desconstruídas, únicas e extremamente desejáveis. A grife, que começou oferecendo apenas coleções de prêt-a-porter feminino, já está expandindo para outros segmentos com o recente lançamento do batom à base de CBD em uma colaboração com a marca KarnaSwiss. E em breve chega uma linha masculina.
ROKH
Rok Hwang, nome por trás da marca Rokh, vencedora do LVMH Prize 2-18, se formou na Central Saint Martins e trabalhou com Phoebe Philo na Céline e Nicolas Ghesquière na Louis Vuitton antes de lançar sua própria história em 2017. Rokh continua mostrando um trabalho impecável em que mistura diferentes tecidos e mostra elevação do minimalismo (herança nítida do seu trabalho com Phoebe) que se traduz em peças extremamente desejáveis e fora do comum.
KWAIDAN editions
Baseada em Londres, mas ainda parte do calendário da semana de Paris, a Kwaidan Editions nasceu em 2017, após a dupla Léa Dickley e Hung La se conhecerem na Royal Academy of Artes da Antuérpia. O nome Kwaidan vem do japonês (é traduzido ao pé da letra para “histórias estranhas”) e reflete o principal espírito da marca, que também busca atualizar as roupas cotidianas e é especialista em técnicas de alfaiataria. Suas coleções estudam e incorporam materiais nobres muitas vezes incomum na alfaiataria tradicional como couro, organza, jersey e lã, com um resultado que gera peças fluídas e com caimento perfeito.
MAME KUROGOUCHI
Também recém chegada no calendário parisiense, mas não exatamente uma marca nova, a marca da designer Maiko Kurogouchi, foi fundada em Tóquio em 2010 e tem desfilado em Paris desde 2018. Junto com Keiko Onose, da Cyclas, e Kunihiko Morinaga, da Anrealage, Maiko vem de uma nova geração de designers japoneses que estão mais uma vez (após a geração dos anos 80, de Rei Kawakubo, Yohji Yamamoto e Issey Miyake) aterrissando em Paris e revolucionado a moda com sua estética. O DNA de Mame Kurogouchi também se baseia na ideia de elevar as roupas do dia-a-dia, mas o que a difere de seus colegas é a construção, o styling em camadas e a poesia que estão dentro de cada coleção. O verão 2020, por exemplo, foi inspirado no Tsutsumu – um embrulho tradicional japonês – e exibiu uma variedade de peças construídas em seda, jersey, algodão e renda que, quando reconstruídas e embrulhadas em camadas no corpo, expressam narrativas complexas e únicas.