Por Guilherme Meneghetti
Casa nova, time novo. Pouco tempo depois de assumir a linha masculina da Dior, Kim Jones usou o Instagram para anunciar mais uma integrante na casa, aproveitando o ensejo de seu primeiro dia de trabalho. Trata-se de Yoon Ahn, nova designer de jóias da Dior Homme. Alguns nomes de peso da moda aproveitaram para comentar no post de Jones parabenizando e apoiando a designer. “Yes!!! Parabéns, perfeição!”, escreveu Naomi Campbell, enquanto Sarah Mower, editora de moda da Vogue US, “acenou” para Yoon marcando-a com o emoji de aplauso. Parece que as expectativas para a estreia da era Jones na Dior aumentaram ainda mais.
E não é à toa. Yoon é um nome quente pra ficar de olho. Ela vem construindo sua própria cena com a Ambush, marca baseada em Shibuya, Tóquio, que tem ao lado de seu marido, o rapper Verbal. Vendida em 57 lojas ao redor do mundo, Rihanna, Beyoncé, M.I.A., Kanye West, A$ap Rocky e The Weeknd já usaram peças da marca, que também foi finalista do prêmio de jovens designers da LVMH ano passado, além de já ter feito colaborações com marcas de diferentes segmentos, desde Beats by Dre e Amazon a Sacai, Nike, A Bathing Ape e a extinta Colette.
Tudo começou na Universidade de Boston, onde Yoon conheceu Verbal. Ela estudava Design Gráfico, ele, Filosofia e Marketing. Em 2002, ambos fundaram a Ambush Design Company, para que Yoon pudesse aplicar na prática o que aprendeu na faculdade. O resultado foi a arte que desenvolveu para a capa do álbum de alguns artistas, incluindo Verbal. Dois anos depois focaram numa linha de jóias – que Kanye West chegou a usar – chamada Antônio Murphy & Astro. Até que, anos mais tarde, em 2008, decidiram continuar com as jóias, porém agora voltando com a Ambush.
O sucesso foi instantâneo. Uma das peças que trouxe a marca ainda mais aos holofotes foi o colar com o motivo POW à la Roy Lichtenstein. Em geral, seus acessórios são feitos de prata inspirados em objetos corriqueiros do dia a dia, como um colar porta-isqueiro, uma chocker feita de headphone ou um colar e pulseira de alfinete, cadeado, entre outros.
À princípio, fazer roupas não era o objetivo. Foi a partir de uma necessidade que tudo começou. “Quando fazíamos nosso look book, usávamos roupas de outras marcas, o que não faz o menor sentido”, disse Yoon ao Hypebeast. “Então pensamos, ‘ok, vamos começar a fazer pelo menos uns tops ou alguma coisa’. Esse foi o começo de tudo. A partir daí, foi um progresso natural. Tínhamos ideias e as roupas foram nos ajudando a contar nossa história de uma forma mais clara”, continua. Suas referências na moda são mulheres disruptivas, cada uma à sua maneira: Rei Kawakubo (“é incrível que ela tenha uma visão única há 40 anos”), Miuccia Prada (“assim como Rei”), Phoebe Philo (“gosto do fato que suas roupas são reais e nem por isso chatas”) e Vivienne Westwood (“por demonstrar sempre suas crenças”).
A grife se pauta principalmente na “cultura remix”. “Ao crescer no Japão você não percebe a divisão entre as subculturas”, explica Verbal ao CNN. “Nós remixamos a cultura tomando emprestada ideias estrangeiras e diversificando-as o máximo possível, para torná-la nossa. No Japão, não era incomum ver skatistas dançando rockabilly enquanto ouviam hip-hop ao mesmo tempo, por exemplo”.
Assim, a marca já desfilou nas semanas de moda de Hong Kong, Japão e, mais recentemente, em Paris, por conta do LVMH Prize. Yoon também questiona a forma como apresenta suas coleções. Em vez de fazer um desfile, em Paris foi a segunda vez que mostrou as roupas com os modelos andando por uma sala – como se fosse o showroom -, possibilitando ao público ver as roupas e acessórios de perto. “Foi quando eu percebi que certos recursos visuais que você tem em mente, como música, cenário, etc, faz com que você não consiga simplesmente explicar ‘verbalmente’ sua ideia”, conta. “Não faz sentido fazer um desfile porque quero que as pessoas subam e vejam os detalhes, as jóias. Então começamos com uma apresentação para que possam ver toda a vibração em um ambiente mais intimista”.
Yoon explica que as jóias mostradas em Paris, por exemplo, foram inspiradas em Seattle, onde cresceu. Ela uniu a vontade de mostrar algo mais “humano” à lembrança das chuvas constantes da cidade americana e, em vez de usar prata, usou contas de vidro para que remetessem às gotas que caem no corpo num dia chuvoso. Tudo é feito a mão e, de perto, o resultado é totalmente outro.
O desejo de mostrar algo mais humano nesta coleção é algo que, de certa forma, explica muito sobre sua predileção criativa. “Eu gosto disso! Não é perfeito, o que é muito humano”, explica. A maioria de suas roupas conversam com o streetwear e são peças desestruturadas, deslocadas, assimétricas, com formas amplas e recortes inusitados, algo que reflete a “não perfeição” – e o aspecto mais “humano”, portanto.
A primeira coleção de Yoon para Dior será mostrada na estreia de Jones, em junho. Já a Ambush deve ganhar ainda mais espaço no mercado internacional, além de atenção da comunidade da moda.