Você acha a bolsa linda. Resolve comprá-la, mas não vai levá-la na hora. A partir daí, começa todo um processo que envolve receber por email a imagem e as informações da procedência do couro sustentável com o qual será confeccionada a sua peça, descobrir como é feito o trançado das argolas de couro que formam a alça, observar o artesão costurar a estrutura num curto vídeo gravado para você. Depois de um tempo, que pode variar de duas semanas a cerca de um mês, dependendo da complexidade do produto, ele fica pronto e você o recebe em casa. Na Baum & Haut (respectivamente árvore e pele, em alemão), marca que Caroline Baum acaba de lançar, tudo é feito sem pressa e com muito preciosismo aplicado a bolsas, sapatos e ao que ela chama de “acessórios de vestir”: coletes, mangas e capuzes, tudo de couro, usados para complementar uma roupa. “Você vai gestando a sua peça com a gente, vai se envolvendo com a história dela. A ideia é criar algo que a pessoa vá ter para sempre”, conta Carol.
Os produtos são customizáveis, já que as vendas serão feitas de maneira personalizada. “Teremos anfitriões que recepcionarão a marca. Essa pessoa chama o seu núcleo, geralmente na casa dela, para apresentar a grife e para que os clientes façam o pedido. A gente tira as medidas, faz a peça especialmente para a pessoa, com as modificações que ela quiser.” Também dá para fazer encomendas pelo email da marca (contato@baumandhaut.com).
O conceito é novo e muito atual, seguindo à risca a tendência do slow fashion, super em alta e que parece fazer parte do DNA de Carol, assim como seu estilo minimalista ultracool luxuoso. Basta dizer que ela levou dois anos incubando o projeto da grife até formatá-lo da maneira que acredita. O desenvolvimento total do modelo da bolsa da foto que abre esse texto, por exemplo, demorou um ano para ficar pronto, com embates que vão do design em si às ferragens embutidas, solução sugerida por Tuca Frank Nemeth, que além de uma confecção de bolsas tem também uma fábrica metalúrgica e é especialista em metais embutidos.
São artesãos e colaboradores como Tuca que a estilista quer valorizar numa relação próxima com o cliente, simbolizada nas fotos expostas no lançamento da grife, na última terça (17), num evento que ela organizou na própria casa, no salão do edifício Bretagne, de Artacho Jurado, em São Paulo. “Gisele é a modelista que faz os acessórios de vestir. A Adriana é uma das pessoas que inspiram a marca, está no nosso moodbord (o painel de inspirações e ponto de partida para criar uma coleção ou um projeto que envolva criatividade). A Costanza Pascolato viu a coleção a primeira vez e deu sua opinião. Queremos deixar tudo muito transparente e mostrar as pessoas que têm técnicas especiais para criar as peças e pessoas que inspiram a marca”, diz Carol, apontando para os retratos em varais junto com itens da coleção.
Além do design clean apurado que lembra o estilo dos belgas e escandinavos e do acabamento primoroso, outra característica da moda da estilista é a funcionalidade. Muitas peças podem ser usadas de várias maneiras, as bolsas trazem alças alternativas que as deixam mais casuais ou transformam mochilas em bolsas. Entre os sapatos há um modelo unissex, com numeração até o 44.
O know how necessário para montar o próprio negócio com um projeto pequeno porém ambicioso, com uma nova proposta de criação e venda de acessórios, a designer adquiriu com anos de experiência no mercado. Carol começou sua carreira no Rio Grande do Sul, seu Estado natal. Fez faculdade de decoração de interiores, depois um curso de design de sapatos e foi trabalhar numa companhia de exportação de calçados, onde acompanhava o desenvolvimento e a confecção de sapatos encomendados por grifes internacionais e feitos no Brasil. “Observava tudo: a forma, o material. De cara aprendi a fazer sapato bom.” Depois, resolveu montar sua própria consultoria, com apenas 20 anos. A partir daí ganhou clientes em São Paulo, para onde se mudou para trabalhar na Zeferino. Passou depois pela Arezzo, de onde saiu em 2009, para fazer carreira solo. Foi quando conheceu Gloria Coelho, que considera sua grande mentora e com quem trabalhou por cinco anos, criando os sapatos dos desfiles da estilista. “A Gloria me deu uma injeção de ânimo de criatividade, me deixou fazer o que eu queria. Ela tem um jeito diferente de olhar o mundo, e absorvi muito isso dela, além do preciosismo, do acabamento, da maneira de pensar o produto. Digo que tenho minha fase pré Gloria e pós Gloria. Foi um marco na minha vida conhecê-la.” A partir daí, fez outras colaborações para marcas de moda relevantes como Pedro Lourenço e Ratier, além de ter criado a bolsa que a Capodarte fez em homenagem a Costanza Pascolato. “Foram horas de entrevistas gravadas com a Costanza, muitos encontros. Fiz uma imersão no mundo e no estilo dela”, conta Carol. Com ela, tudo é assim, pesquisado a fundo, e nos mínimos detalhes.
Na galeria de fotos, veja peças da coleção que também não será sazonal, mas anual.