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    Conheça Andrea Pompilio, estilista que traz sopro de ar fresco à moda masculina italiana
    Conheça Andrea Pompilio, estilista que traz sopro de ar fresco à moda masculina italiana
    POR Redação

    O estilista Andrea Pompilio ©Alessandro Furchino

    Quando pensamos que a moda italiana será sempre um grande e calmo lago, onde nada de surpreendente vai acontecer, eis que um novo nome atiça as atenções: Andrea Pompilio, 40 anos recém completos, designer e empreendedor de sua linha homônima de moda masculina. Nasceu na região central da Itália, em Pesaro. Fez colegial com especialização em moda, arte e vestimenta, e terminou os estudos na Marangoni aos 21 anos. Cresceu entre as boutiques da avó, que o levava aos showsrooms de Bolonha para comprar vestidos. Galgou seu caminho na moda trabalhando em maisons de peso: Prada, em Milão, Calvin Klein, em Nova York, e Yves Saint Laurent, em Paris. Decidiu fazer sua própria linha há quase três anos, estimulado por amigos e seguro de seu currículo, que transitou entre o comercial e o criativo. Lançou suas coleções no evento Pitti Uomo, em Florença, e ganhou o concurso “Who’s On Next”, promovido pela “Vogue” Itália. Mas a cereja do bolo ainda estava por vir: na última temporada masculina foi convidado, a menos de um mês da data de seu primeiro desfile em Milão, para estrear no Teatro Armani. Ninguém, além do próprio Giorgio Armani, desfila nesse teatro. “Foi a Franca Sozzani que me comunicou. Armani quis começar a ajudar novos designers, oferecendo seu próprio espaço e toda a estrutura durante as temporadas”, conta Andrea, que foi o primeiro escolhido. E desde então, caiu no olho do furacão, com elogios e críticas da imprensa internacional. Poucos dias antes de sair de férias, o designer conversou com FFW.

    Andrea, ter desfilado no Teatro Armani te colocou no centro das atenções. Foi uma surpresa pra você ter sido convidado?

    Foi! E foi tudo muito rápido. Eu fiz uma passagem ao mundo internacional porque Giorgio Armani, que tem já seu nome na moda internacional, decidiu abrir o seu próprio espaço. Não é qualquer coisa. É como abrir a própria casa. Não tenho outra palavra pra definir, é mesmo uma situação muito íntima. Como se você presenteasse sua casa a desconhecidos que vão dormir na sua cama, abrir sua geladeira. Giorgio Armani não queria abrir para os nomes de sempre, mesmo porque os personagens conhecidos já têm seus quartéis-generais onde fazem os desfiles. E se ele me escolheu, penso que pode ter visto alguma semelhança, ou lembrado de como foi o começo de sua carreira.

    De qualquer forma, você chamou atenção na feira Pitti Uomo, o que nos faz pensar que esse evento se tornou um verdadeiro palco pra moda masculina.

    Total! Absolutamente. Eu sempre desfilei na Pitti Uomo e tive muito suporte de toda a estrutura da Pitti. Nesta última estação, no entanto, a ideia já era mudar para Milão. Inclusive já havíamos escolhido uma locação, que não estava totalmente confirmada, estávamos provando. Recebi essa notícia exatamente faltando 20 dias pro desfile! Foi uma belíssima surpresa.

    Backstage do Verão 2014 de Andrea Pompilio ©Alessandro Furchino

    Backstage do Verão 2014 de Andrea Pompilio ©Alessandro Furchino

    Você acha a moda masculina desafiadora? É mais difícil de surpreender?

    Os homens têm um modo muito preciso de se vestir. Eles não têm a menor vontade de experimentar como as mulheres, que a cada mês podem trocar a cor de cabelo. Os homens são o oposto. No geral usam a clássica camisa, as cores escuras de sempre. Isso os deixa presos sempre no mesmo personagem, o que lhes dá também segurança. O que eu observo é que quando os homens, por exemplo, vão para praia, eles deixam de ser o que são. Relaxam com uma camiseta e uma bermuda de nylon. E mesmo se são homens importantes, quando se vestem assim ficam nulos, perdem a identidade. Não conseguem se representar. A moda do homem é mais difícil de administrar.

    Mas os homens italianos no geral gostam mais de se vestir, não?

    Eu tento focar minha moda nos homens italianos, mas a minha experiência no exterior me fez olhar outras realidades. Me ajudou inclusive a criar a minha coleção porque eu sou casual. Procuro misturar a moda italiana com a moda que vi nos Estados Unidos. Os americanos são muito easy para se vestir. Não têm problema em vestir sempre t-shirt, ou aquela camisa amassada que acabou de sair da máquina de lavar. Têm um modo de se vestir muito diferente do europeu. Isso influenciou meu modo de pensar.

    Esse approach dos homens americanos com a moda não seria uma não-moda, uma negação dela?

    Pode ser, mas eu uso muito desse jeito deles pra criar minha coleção. Como por exemplo fazer combinações de coisas que não seriam bem vistas juntas. Colocar uma calça estampada com uma camisa estampada, aqui quem faz isso? Sempre foi encarado como uma coisa de mal gosto. Gosto de pegar o que era pensado como não-beleza e transformar num look belo. Ou então pegar uma jaqueta muito clássica e usar um tecido levíssimo, um material improvável, para que um homem possa inclusive usar um blazer duplo em pleno verão. A ideia é ter conforto e estar bem vestido ao mesmo tempo.

    Quando saímos do nosso próprio país conseguimos avaliar melhor o perfil das pessoas. Que impressões você teve ao olhar a moda italiana estando em Nova York ?

    Achei mais bonita do que achava antes. Quando estava em NY assisti ao filme “O Talentoso Ripley” e tive um estalo. Me abriu os olhos ver um diretor americano interpretar o estilo italiano. Ali eu percebi o quanto é elegante a Itália, nas roupas e no estilo de vida. No modo como as pessoas vão sair para comer, para viajar. São pequenas coisas que formam o luxo italiano. E olha que eu saí daqui porque estava cansado da Itália…

    Misturar a espontaneidade americana com a elegância italiana. Esse homem que você quer vestir é você mesmo?

    Não apenas eu. Mas eu sempre experimento as roupas que crio e se não gosto, descarto. Eu utilizo as referências de elegância com a espontaneidade porque me sinto casual. Mas o homem que quero vestir não sou apenas eu, embora eu prove sempre as roupas que crio e, se não gosto, descarto. Tenho que olhar no espelho e sentir um retorno daquela imagem. Se me sinto particularmente ridículo, cancelo aquela roupa. Mas me inspiro nos homens que estão ao meu redor, no que vejo nas viagens, na vida que faço. E também quando escolho os modelos, me interesso pelas personalidades deles. Junto várias emoções.

    Preparativos para a apresentação de Verão 2014 de Andrea Pompilio ©Alessandro Furchino

    Queria falar sobre a manutenção do estilo. Porque se olhamos para as grandes marcas, elas sempre correspondem a um perfil de personagem. Por exemplo, a mulher Versace, ainda que mude alguma coisa com o tempo, vai ser sempre aquela mulher sensual e exuberante. Como manter sempre o mesmo estilo se mudamos com o tempo?

    O estilo, ainda que não perceba, você mantém sempre. Os tempos mudam. Se você é uma pessoa clássica, você continua clássica. Se as minissaias estão na moda, ou jaquetas compridas, não interessa. Tenho amigas extremamente elegantes que eram assim com 18 anos e vão ser elegantes com 55. Elas podem até colocar jaqueta de motoqueiro, mas a forma como usam vai ser elegante. Porque foram criadas assim, suas famílias as ensinaram a ser daquele jeito. Uma jaqueta de couro nelas nunca vai ser rock and roll. Isso tem a ver com a personalidade. Mas claro que mudamos, entre 22 e 26 anos experimentamos tanto e nem levo em consideração. Eu já pintei meu cabelo de branco.

    Então para manter o estilo do personagem que você quer vestir, funciona como manter o próprio estilo?

    Sim, mas como você já disse, é preciso entender o próprio tempo que vivemos. Infelizmente tem muitas marcas que não conseguem mais vender porque não foram atualizadas. Esse discurso precisa estar sempre sob controle, não podemos esquecer o que o mercado pede e que o tempo também passou.

    Vejo que há na sua marca pontos em comum com o modo de vestir brasileiro. Porque os homens no Brasil, mesmo quando se arrumam, transmitem um ar casual. 

    Devo ser sincero. Quando fui pro Rio, três anos atrás, era verão. E não vi gente vestida. Com exceção dos lugares onde fui à noite, os bares, os restaurantes, as pessoas estavam sempre praticamente nuas. As pessoas à noite eram muito bem vestidas, inclusive as muito jovens. Vi bolsas Chanel espalhadas por aí como se fossem pão. Sem contar aquele período do comecinho da noite até a madrugada, eu só via pessoas de biquíni, quase nuas. Por isso acredito que para fazer negócios ali é preciso focar no beachwear!

    O que te agradou no Brasil?

    Nos lugares que fui, Rio de Janeiro e Salvador, achei muitas semelhanças com a Itália. Não falo da Itália de Milão, mas a Itália do centro sul. As pessoas têm um ritmo mais relax de viver. É o café da manhã. O almoço. O mar. Tudo tem seu tempo. Lembro que mesmo para comprar numa lanchonete take-away era preciso esperar.

    Backstage do Verão 2014 de Andrea Pompilio ©Alessandro Furchino

    Backstage do Verão 2014 de Andrea Pompilio ©Alessandro Furchino

    Pensando na sua criatividade, como você organiza sua coleção na prática?

    Olha, eu sempre acho que não adianta deixar rolar a criação de uma coleção tão livremente, como por exemplo produzir 25 informações diferentes onde uma não combina com a outra. Uma coisa importante é entender o conceito central de sua própria coleção e não perder mais esse conceito de vista! Percebo que muitos designers saem das escolas de moda sem saber como se forma uma coleção e nem de como se administra uma coleção. Fazem várias peças que não agregam um conceito, então quem olha não entende o que é. O mesmo conceito tem que estar em tudo, das camisas aos sapatos, bolsas, óculos.

    Você pensa primeiro em cada peça singular ou parte de um look inteiro para depois ir aprofundando cada peça?

    Eu sempre tenho em mente um styling final, em como as coisas vão estar juntas. Porque quero que o resultado transmita uma “confusão”, na verdade uma falsa confusão, porque foi estudada. Meu primeiro passo pra chegar nisso é escolher as cores e as estampas. E se gosto de uma estampa combinada com a outra, experimento várias peças com essas estampas, juntas ou separadas. Só aí vou pensar nas formas e aquilo tudo vai encaminhando naturalmente para o styling final, que vai contar toda a história. O styling é o meu momento de edição, porque tem coisa que no final não fica bem com nada, aí eu descarto a peça por completo.

    Então pra você as cores ganham uma importância ainda maior que a forma?

    Depende. Se é uma escolha, eu quero que seja vista. Numa estação eu queria usar o vermelho. Então fiz desfilar logo de cara uns seis looks com aquele vermelho para que a plateia entendesse. Que as pessoas saíssem de lá e se lembrassem: “Ele usou vermelho!”. Tenho um modo muito esquemático de trabalhar.

    Foi então uma boa escolha passar por várias maisons antes de desenvolver sua própria linha, não?

    Sim, eu aconselho inclusive. O fato de eu ter trabalhado e acompanhado diversos departamentos do mercado de moda por 20 anos me permite entender como muita coisa funciona. Assim eu conheci o tempo que demora pra fazer uma marca de moda, e o sistema disso tudo… Sozinho, não teria condições de descobrir. Isso acabou virando um problema pra mim porque fiquei muito exigente e quis pensar em absolutamente tudo. Até no lencinho que você dá pro convidado pegar uma brioche, sabe? (ri muito) Geralmente as pessoas não pensam assim, em 360 graus. As pessoas pensam que desenvolver uma linha é apenas fazer as roupas.

    Seu conselho pros designers que estão começando então é… esperar?

    Sim. Também porque quando você entra no mercado, tem que estar pronto para lidar com jornalistas e outros personagens. É preciso estar muito seguro de quem você é, do que está fazendo. Sem uma certa experiência, arrisca afundar depois de um ano. Mas isso para uma coleção inteira. Não estou falando de uma coleção de t-shirt, ou só de jaquetas, ou tênis.

    Pra entender um pouco seu estilo de vida, pra onde você vai nesse verão (europeu)?

    Os italianos são talentosos em tirar férias… Uma coisa muito importante pros italianos é a qualidade de vida, então férias são algo que temos que fazer todo verão! E têm que ser longas! Nós vamos todos viajar (olha para sua assessora, que sorri). Vou fechar a empresa por quatro semanas. Escolhi ficar duas semanas nas ilhas baleares, em Formentera e Ibiza. E depois vou pra uma casa de campo típica da Puglia, de um amigo meu. Vão amigos com suas crianças e seus cachorros. Inclusive uma amiga francesa que gosta de fazer uma competição para ver quem cozinha melhor. Mas eu sou aquele que corta o pão, os tomates e vai comprar o vinho.

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