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    De Lady Gaga a Givenchy, a entrevista coletiva de Marina Abramović em São Paulo
    De Lady Gaga a Givenchy, a entrevista coletiva de Marina Abramović em São Paulo
    POR Redação
    Marina Abramovic entrevista Sesc Pompeia Exposicao Terra comunal 2

    Marina Abramović, de Givenchy, em sua chegada ao Sesc Pompeia, em São Paulo, para a abertura da exposição “Terra Comunal” ©Denise Andrade

    Marina Abramović entrou dura, segurando uma capa nas costas, com um andar quase militar no local onde concedeu uma entrevista coletiva no Sesc Pompeia, em São Paulo — recentemente tombado, o espaço cultural é um dos mais emblemáticos de Lina Bo Bardi e um marco para a arquitetura brasileira. Mas sua chegada foi muito diferente do que se ouviu a partir dali, numa conversa que mesclou momentos descontraídos, alguns sérios e outros até hilários, como quando levantou e mostrou seu vestido Givenchy. “Tenho uma relação com Riccardo Tisci, que acho realmente original e gosto. Ele fez esse vestido para mim, olhe como é gráfico. É fita adesiva, eu adoro.”

    Marina destacou que gostou muito do local de exposição por não se tratar apenas de um espaço voltado à cultura, mas também por ser usado por pessoas no seu dia a dia, que vão ao Sesc Pompeia para almoçar, para correr ou para ler um livro. “São essas pessoas que eu quero tocar.” Nessa mesma linha de pensamento, ela falou sobre o workshop que ministrou para Lady Gaga, um assunto delicado e motivo de críticas à artista. “Qualquer coisa que ela faça, eles [seguidores no Facebook] copiam. Mas agora Lady Gaga vai ao workshop da Marina Abramović, que eles nunca ouviram falar na vida. Ter esse tipo de público, que eu realmente possa educar, é muito importante para mim.”

    Marina também tocou em outra questão polêmica: teria ela se tornado uma celebridade? Ela disse que não trabalhou para isso, mas já que tem a fama, usa em seu favor. E relembrou das dificuldades do início de sua carreira. “Quando eu comecei a fazer performance, no início dos anos 1970, era como a primeira mulher a caminhar na lua. Por pelo menos 30 anos, ninguém considerava isso uma arte. Você sabe o quanto é difícil viver com isso por tanto tempo, e ainda assim acreditar que você está fazendo a coisa certa? Eu nunca desisti.”

    + FFW testa o Método Abramović

    A artista fica no Brasil durante todo o período da exposição “Terra Comunal”, até 10 de maio, exceto por três dias em que irá ao Canadá participar do Ted. Nesse período, ministra oito palestras, workshops e ainda abre a exposição “Places of Power”, no dia 6 de abril, na galeria Luciana Brito, em São Paulo. Serão expostas 30 peças, entre objetos, fotos, grafite, desenhos, vídeo e trabalhos que demonstram sua relação com o Brasil.

    Confira abaixo os principais trechos da entrevista coletiva.

    O Instituto Marina Abramović tinha previsão de ser inaugurado no ano passado. Tem uma nova previsão?

    O instituto é algo que eu quero fazer há muito tempo, é um legado que eu quero deixar. Será construído em Hudson, Nova York, e pedi para uma empresa de arquitetura fazer a construção. É um processo longo porque tem a ver com a arrecadação de fundos e, como uma artista de performance, eu não tenho o tipo de fontes como Damien Hirst e Jeff Koons. Angariar fundos para criar o instituto demora muito, e eu não tenho tempo para esperar, tenho que criar o instituto onde eu estiver, e isso é exatamente o que estamos fazendo aqui. A arte performática é imaterial, você precisa estar lá para experimentar, onde quer que seja possível que você faça isso, mas eventualmente vamos ter a construção física do instituto.

    Como foi o “Cleaning The House” [“Limpando a Casa”], workshop de cinco dias com artistas brasileiros sem comer e sem falar?

    Foi maravilhoso. Esse workshop, “Cleaning The House”, eu faço há muitos anos. Comecei com meus alunos quando eu lecionava, e depois passei a fazer cursos para artistas performáticos, porque achei absolutamente necessário. O que significa “Cleaning The House”? Nós sempre limpamos a parte de fora da casa, mas a única casa, a mais importante que temos que limpar é o nosso próprio corpo. Eu acho que muitos artistas performáticos têm muita força de vontade, mas eles não têm estabilidade física para manter performances de longa duração, porque eles não estão em boa condição física. Eles estão gordos, eles comem de mais, eles bebem de mais, eles são indulgentes com eles mesmos. Se você comparar com bailarinos, que têm uma rotina muito rígida, que se exercitam diariamente, é outra história. É muito fácil fazer performance por três horas, quatro horas, até três dias, mas se você quiser fazer performance dois meses, oito horas por dias, é outra história, isso é vida real e você tem que ter uma condição física perfeita. Então o “Cleaning The House” consiste em um número determinado de dias sem comer nenhum tipo de comida e sem falar. Para os brasileiros foi mais difícil ficar sem falar. Mas nós conseguimos e tivemos um grande workshop, fazendo exercícios físicos e mentais para ampliar os limites e ver como vamos nos preparar para a tarefa aqui no Sesc. A ideia é trabalhar sua força de vontade e a percepção dos seus limites.

    Por que você se tornou uma celebridade? Parece que você gosta disso. Ser uma celebridade não mancha a sua integridade de artista?

    Eu estava esperando há muito tempo por essa questão. Eu realmente quero responder. Primeiro, quando eu comecei a fazer performances, no início dos anos 1970, era como a primeira mulher a caminhar na lua. Os professores da universidade cuspiam em mim, meus pais eram questionados sobre que tipo de educação que eles me davam. Eu estava prestes a ir para um hospital psiquiátrico. Por pelo menos 30 anos, ninguém considerava isso uma arte. Você sabe o quanto é difícil viver com isso por tanto tempo, e ainda assim acreditar que você está fazendo a coisa certa? Eu nunca desisti. O momento de celebridade realmente chegou quando eu terminei a performance “The Artist is Present”, no MoMA. Eu não precisava fazer essa performance. Eu poderia simplesmente apresentar meu trabalho, ir para casa, jantar com os amigos e é isso. Ninguém me pediu para sentar lá por três meses, oito horas por dia, dez horas nas sextas-feiras, e dar cada átomo da minha energia para esse trabalho. Ninguém me pediu para que fosse tão doloroso que eu não pudesse tirar o vestido no fim do dia, mas era supernatural, eu precisava passar por aquela emoção. Quando eu propus ao curador uma performance em que eu iria apenas sentar e a pessoa sentaria na minha frente, pelo tempo que ela quisesse, ele me perguntou ‘mas e se ninguém quiser sentar?’. Claro, isso é novo, ninguém tem tempo para isso. ‘Eu vou sentar de qualquer forma’, eu disse para ele. Ninguém, nem eu mesma, esperava o que aconteceu naquela época, que as pessoas ficariam na fila, que dormiriam na rua do museu, esperariam por horas e horas para sentar comigo, e que a cadeira nunca estivesse vazia. As pessoas ficavam emocionadas, elas choravam. Os guardas do Moma voltavam no fim de semana, sem seus uniformes, e esperavam na fila para sentar comigo, o que nunca havia acontecido com nenhum outro artista antes. Esse foi o momento histórico da minha vida que eu pude ver o poder transformador da arte performática. Quando eu me levantei daquela cadeira, eu estava mudada, diferente, eu sabia que eu tinha que fazer o instituto e compartilhar minha experiência com todo mundo. Durante três meses eu não falei com ninguém, eu não olhei e-mails, telefone, televisão… eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo fora dali. Mas quando saí do museu, eu virei uma celebridade, e não foi minha culpa, era só uma circunstância. Eu não me sinto uma celebridade. Sou muito modesta e sortuda que isso tenha acontecido comigo. Mas eu tiro proveito dessa posição e vou lhes dizer o que é tirar proveito. Primeiro, a performance não é um território de ninguém. A performance é uma arte formal e pode ir para o museu, e eu contribuí para isso e me orgulho disso. Isso me permitiu falar com as pessoas e ser respeitada e ninguém me perguntar mais se isso é arte. Fui muito criticada quando Lady Gaga me pediu para fazer o workshop “Cleaning the House” com ela. Lady Gaga é uma celebridade de verdade, ela tem 45 milhões de seguidores no Facebook [hoje mais de 67 milhões]. Nenhum artista tem isso. Mas ela veio aprender coisas comigo, eu levei a sério e dei o workshop. Você pode olhar para essa situação de duas formas: muito superficialmente, ‘agora ela está trabalhando com celebridades’, ou você pode enxergar um quadro maior, que foi o que eu fiz. Ela tinha 45 milhões de seguidores, de todas as idades, de 14, 15 anos, a 20, 30 anos, e eles olham para Lady Gaga como se ela fosse um deus. Se Lady Gaga toma drogas, eles tomam drogas; se Lady Gaga faz uma tatuagem, eles fazem uma tatuagem; qualquer coisa que ela faça, eles copiam. Mas agora, Lady Gaga vai ao workshop da Marina Abramović, que eles nunca ouviram na vida, e ela não toma drogas, e está fazendo coisas que eles nunca ouviram antes. Esses caras começaram a seguir o instituto, a seguir o que estamos tentando fazer. Ter esse tipo de público, que eu realmente possa educar, é muito importante para mim.

    A senhora tem uma forte relação com a moda, especialmente com a Givenchy e o Riccardo Tisci. Conhece algo da moda brasileira?

    Não conheço nada da moda brasileira, eu não tive tempo. Minha relação com a moda, o cinema, o design, o teatro, tudo, é uma simples atitude: eu divido o mundo em duas categorias, os originais e os que seguem. E tudo o que for original eu estou interessada, em qualquer categoria, moda, não moda, música, ciência, não importa. Tenho uma relação com a Givenchy não por causa da Givenchy, tenho uma relação com Riccardo Tisci, que acho realmente original e gosto. Ele fez esse vestido para mim, olhe como é gráfico. É fita adesiva, eu adoro.

    “Terra Comunal – Marina Abramović + MAI” @ São Paulo
    De 10 de março a 10 de maio
    Sesc Pompeia
    Rua Clélia, 93
    Entrada gratuita

    Exposição
    Terça a sábado, das 10h às 21h; domingos e feriados, das 10h às 19h
    Área de convivência do Sesc Pompeia

    Encontros com Marina Abramović
    11 (palestra de abertura) e 26 de março, 1, 2, 8, 15, 22 e 30 de abril, às 20h
    Teatro do Sesc Pompeia (774 lugares)
    Retirada de ingressos gratuitos (até dois por pessoa) nas bilheterias da Rede Sesc a partir das 13h no dia de cada palestra

    Método Abramović
    De 10 de março a 10 de maio
    Cinco sessões diárias de terça a sábado e quatro aos domingos e feriados, a partir das 9h30
    Inscrições pelo site sescsp.org.br/terracomunal (esgotadas)

    Atenção: As vagas para o Método Abramović pelo site do Sesc estão esgotadas, mas a organização do evento informa que os interessados podem ir para a fila de espera na data em que quiserem participar. Em breve, outro lote de vagas será aberto pelo site, e o Sesc comunicará na ocasião. Cada sessão, com 2h30, atenderá aproximadamente 90 inscritos

    Confira a programação completa em sescsp.org.br/pompeia

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