A estreia da Beira ofereceu uma experiência nova, ou ao menos incomum, a quem assistiu ao vivo.
A marca de Lívia Campos já fala outra língua – gênero nem sequer parece uma questão. As características mais importantes nas roupas são aquelas que a gente não nota com facilidade. Para um observador comum, o desfile pode parecer repetitivo ou sem novidades. Para quem está atento, enxerga um trabalho de construção, de um pensamento para cada costura. É esse o ponto da Beira, a questão que Lívia se faz a cada nova peça que se inicia. “Como a gente faz pra ter uma roupa onde, na construção – por exemplo no bolso – tenha algum pensamento de como ele é colocado, como é unido ao resto da peça. Não é para ser um shape excepcional, não. São roupas normais, é um casaco, uma calça, macacão, largo, curto, etc. Isso aí pra mim não é o big deal, e sim como cada peça é em relação a costura mesmo”.
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Lívia estava feliz e empolgada com sua estreia no SPFW. Fala de sua coleção com paixão e acredita que está em uma fase de evolução, com resultados melhores na modelagem, sua maior paixão. “Todas nossas peças agora têm a máquina de braço, que traz um lado mais esporte e chama atenção pras uniões. E é uma máquina muito chata porque pouca gente tem. Então, foi uma decisão falar: quero ter essa máquina sim, usar em todas as minhas roupas mesmo que eu tenha mais dificuldade na hora de produzir. Então, tem um investimento aí, mas me dei a liberdade de falar: não quero mais outra costura. Ficaria mais simples sem, mas tão mais bonito com…”.
Se amanhã ela escolher fazer um shorts, a questão vai ser como ele vai ser feito, como ele vai ter volume. Se vai ter volume, de que forma vai ter volume, como a prega vai ser montada, etc.
Comento com ela que a cartela de cores da coleção é uma das mais enxutas que já vi na vida. As modelos que vinham de um desfile anterior tinham um esmalte nude nas unhas, que ela pediu para tirar. “Pra mim ou é nada ou é preto”, ri. Lívia tem uma atenção bastante específica as cores, quase radical, ao ponto de, no início, ela ter pensado em só trabalhar com preto para poder focar na modelagem. “E hoje você vê, não tem nenhum preto (risos). Por isso que tenho medo de discurso, porque depois mudo de ideia!”
Esta coleção seria inteira vermelha, com o trabalho dedicado a texturas e construção, até que cansou de ver tanto vermelho. “Gostava muito do lilás também, mas pensava como passar de um tom pro outro. O marrom chegou muito de última hora e teve esse papel. Virou a cor mais importante e quase que não existiu! Fico até nervosa de pensar. Ia ser um desastre”.
Todo esse trabalho aparece de forma sutil na passarela. “Você tem que prestar um pouco mais de atenção pra ver, senão passa despercebido mesmo”, diz Lívia. Fartura para os olhares sensíveis e atentos.
Todas as roupas do desfile já estão a venda na loja Pair, nos Jardins, em São Paulo.