A marca Pyer Moss, de Kerby Jean-Raymond, desfilou ontem à noite (09.09) no Brooklyn e, assim como fez no ano passado, voltou a emocionar o público com uma coleção desfilada no Brooklyn, apenas por modelos negros.
Esta é a terceira coleção da marca e a terceira sobre a questão da negritude. Chamada de Sister, ela versa sobre o trabalho de Sister Rosetta Tharpe, negra, lésbica e inventora do rock’n’roll em 1940 mas que é raramente creditada como tal. Ela mostra como Kerby está, com sucesso, evoluindo a partir de seu DNA, com símbolos criados que já são reconhecíveis em seu exercício criativo.
Por exemplo, a maneira como ele insere o nome da marca ou frases, usando partes inusitadas da roupa para provocar e passar uma mensagem como “Vocês nos vê?” bordado na faixa de smoking ou a t-shirt com a estampa “Vote ou morra, de verdade agora”. O discurso de Kerby é potente como suas roupas. Ao Business of Fashion o estilista declarou após seu desfile que não considera o sucesso comercial a finalidade de seu trabalho.
“Eu me importo em manter as pessoas empregadas. Nós poderíamos estar ganhando muito mais se a gente fizesse um monte de porcaria. Mas eu me recuso a fazer qualquer coisa sem sentido.”
A cartela de cores também é reconhecível, com tons específicos de amarelo, azul e vermelho permeando as coleções, assim como as estampas bold que, muitas vezes, embrulham looks inteiros.
Nesta coleção, muitas das estampas têm uma história potente e comovente por trás. Elas foram encomendadas a Richard Phillips, homem que passou 45 anos preso por um crime que não cometeu. Richard gostava de pintar e o tempo que passou injustamente encarcerado, usou o para fazer centenas de pinturas.
Ele conta sua história brevemente aqui:
Finalmente, em 2018, Phillips foi exonerado e sua história ficou conhecida, chegando aos ouvidos de Kerby Jean, que o convidou para criar estampas para sua coleção. ♥
E claro, uma construção e composição que olha para os clássicos, tanto feminino quanto masculino, mas com novos recortes, dando ao vestuário uma sensação de novidade ao mesmo tempo que há um conforto visual de saber de onde vem aquilo, de reconhecimento.
O desfile da Pyer Moss aconteceu no Kings Theater, teatro fundado no Brooklyn em 1929, mas fechado por muitos anos até reabrir em 2015. A marca reservou alguns lugares para pessoas que não são profissionais da moda assistirem ao desfile.
Um coral cantou do início ao fim, criando momento emocionantes. Em alguns vídeos é possível ver a plateia se movimentando com seus celulares devidamente filmando toda a ação.
Melody of @theestallion and @iamcardib at #PyerMoss #NYFW pic.twitter.com/5kUYPtl1d8
— El Plaga (@alilmayo) September 9, 2019
What a powerful expression. Such a beautiful show @pyermoss #NYFW #PyerMoss pic.twitter.com/ZCOW72ncBg
— Lionel Moise (@LionelMoise) September 9, 2019
Por ser muito contemporâneo, tanto em seu design quanto em seu propósito, Kerby fala com a geração empoderada de hoje, equilibrando doses certas de ativismo e amor, provocando ao mesmo tempo que conforta e emociona.
Vencedor do CFDA Fashion Fund de 2018, Kerby Jean é uma das principais vozes da moda hoje, tanto que Tom Ford já o colocou no board do CFDA e a Reebok o contratou como diretor criativo global. Uma coleção cápsula em colaboração com a marca foi apresentada nos looks finais do desfile.