FFW
newsletter
RECEBA NOSSO CONTEÚDO DIRETO NO SEU EMAIL

    Não, obrigado
    Aceitando você concorda com os termos de uso e nossa política de privacidade
    Desfile de Stefano Pilati na Pitti Uomo aponta novos caminhos para a moda masculina

    Uma mudança de vida pode contribuir muito para aguçar a criatividade de uma mente criativa. A partir da experiência do italiano Stefano Pilati, podemos até dizer que faria bem a todos os designers passarem por uma mudança de estilo de vida.

    Pilati, que já foi diretor criativo da Yes Saint Laurent (de 2004 a 2012) e da Zegna (de 2012 a 2016), mudou-se para Berlim em há 3 anos e lá experimentou pela primeira vez uma sensação de liberdade em relação à moda. Longe do luxo de Paris e Milão, ele lançou sua marca própria, a Random Identities. E foi com ela que Pilati desfilou como convidado da Pitti Uomo, que se encerra hoje em Florença.

    Seu desfile foi chamado pela imprensa de excepcional, o melhor, ousado, lindo. E de fato foi um daqueles momentos bem raros de se ver: ao mesmo tempo que a imagem criada empurra a moda pra frente, as roupas são usáveis e não extraordinariamente caras. A coleção foi um encontro da impecabilidade e elegância do made in Italy com o lifestyle noturno e sexual dos clubes de Berlim.

     Pilati faz roupas para um consumidor pós-gênero. Os looks não eram masculinos nem femininos, ou eram os dois, para os dois e outros gêneros. Ternos usados com botas de salto, jaquetas militares de corte preciso, camisas com sutiãs por cima, paletós com ombros e cinturas marcadas, saias e transparências, uma sexualidade com toques de fetiche vestida por um casting impecável e igualmente pós gênero. Alguns poderiam ser facilmente encontrados na fila da Kit Kat no clube Berghain. “Do fundo distante surgiam os modelos, uma mistura de crianças pequenas e grandes, pré-adolescentes, mulheres voluptuosas e jovens magros de dois metros de altura. A maioria deles sexualmente ambígua”, conta o editor Godfrey Deeny. A sexualidade, falta de gênero, a confiança que exala dos modelos e o glamour presentes na coleção lembram o movimento glam rock.

    A representação do sutiã e a bota com salto são algumas das ideias que têm sido trabalhadas na Random Identities desde o início. Pilati sabe que, se quiser fazer mudanças verdadeiras precisa experimentar novos códigos, mudar o ponto de vista e enxergar a moda de outro ângulo. “Existem certas forças que estão em jogo sério dentro da nossa cultura”, disse à SLEEK.

    “O patriarcado é um dos mais opressivos. O patriarcado ensina aos homens que sua masculinidade deve ser comprovada a todo momento. Mulheres usando moda masculina não representam um grande risco para o patriarcado, mas o mesmo não pode ser dito para o inverso”.

     

    Ao mudar para Berlim, ele passou a enxergar a moda com outros olhos e a compreende-la da maneira como as pessoas “de fora” a enxergam: “A moda tem um senso hereditário de inferioridade em relação às outras formas de arte ou expressão artística, simplesmente porque pode ser lida como supérflua. Estou ciente do fato de que as pessoas podem viver muito bem sem ela”.

    Stefano Pilati entra desfilando o último look da coleção / Reprodução

    O próprio Stefano Pilati entrou desfilando o último look da coleção / Reprodução

    Com essa consciência, ele está construindo uma marca relevante que entrega qualidade, técnica, experiência, know how e um estilo que captura o zeitgeist – ou talvez ainda esteja à frente dele.

    Sobre como a cena de Berlim o tem inspirado, Stefano diz que nunca frequentou muito a noite pois sempre teve que trabalhar cedo de manhã. “Nunca me permiti o luxo da vida noturna”, conta ao Ssense, e-commerce onde vende suas roupas com exclusividade. “Berlim me fez entender a vida noturna da perspectiva do clube. O clube é um espaço dinâmico, onde encontros interessantes acontecem. Estou vivendo numa cidade cercada por ritmo, ritmo, ritmo e uma moda própria: mais autêntica, crua, intocada, sem grife e honesta”.

    Mas no começo, abandonar sua carreira noa indústria de luxo não foi fácil. “Minha vida foi tão intensamente definida pela moda que eu não conseguia me reconhecer sem ela. Foi bastante desestabilizador”.

    “Tive que lavar muitas camadas da minha personalidade desde que decidi caminhar solo. Abandonar a estrutura corporativa tem prós e contras. essa estrutura me ensinou criativa e pessoalmente. Se você pensa grande, precisa saber onde ‘grande’ pode acontecer e como. Ao mesmo tempo, me vi diante de uma sensação de liberdade que não esperava”.

     

    Para ele, hoje os estilistas foram substituídos por entertainers.”A nova geração de designers se orgulha de ser amadora. Atualmente, ando irritado com o sistema porque as habilidades de moda foram reduzidas a idéias aplicadas sem método, mas com formatos pré-construídos. Todo mundo se sente autorizado a falar sobre moda, mesmo que não tenha senso de história, estilo pessoal ou mesmo experiência, simplesmente porque a compra, veste ou assiste”.

    Definitivamente, a Random Identities é uma marca para acompanhar. A geografia importa cada vez menos. O que faz uma marca relevante é sua capacidade de traduzir comportamentos e apontar caminhos, ainda mais agora, em um contexto de mundo multifacetado e caótico.

    Não deixe de ver
    GAP se juntou a Palace Skateboards em coleção de estética nostálgica
    Phoebe Philo dá sua primeira entrevista em 10 anos
    Jean Paul Gaultier escolhe o novo nome para seu desfile de alta costura
    Brasil na final de concurso de moda da Shein, Riachuelo como a marca oficial do Lollapalooza 24, a primeira linha de maquiagem da Celine e muito mais
    Clássico e atemporal, o trench coat é favorito para dominar a nova estação
    Gentle Monster: um olhar nada óbvio
    Karl Lagerfeld: série que conta trajetória do estilista ganha data de estreia
    Damyller celebra 45 anos com coleção-cápsula e campanha com o ator Leandro Lima e Marcelia Freesz
    Ye, Charli XCX e Mia Khalifa estrelam novo lookbook de Y/PROJECT
    Vermelho: a cor de 2024