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    Emicida e Fióti falam ao FFW sobre moda, espaço de poder e o valor das peças da Lab
    Evandro Fióti e Emicida ©Eric Cruz/Divulgação
    Emicida e Fióti falam ao FFW sobre moda, espaço de poder e o valor das peças da Lab
    POR Redação

    Por Isabella de Almeida Prado

    A expectativa para o segundo desfile da LAB, de Emicida e Evandro Fióti, é quase a mesma da espera pelo segundo disco. A marca, que estreou na última temporada, trouxe pautas extremamente importantes em sua primeira apresentação, como o espaço dos negros na indústria da moda e a diversidade nas passarelas. O clima no backstage é festivo. Emicida, antes do bate-papo com o FFW, cumprimenta a modelo angolana Sharam Diniz, que foi uma surpresa no casting. Entre os maquiadores, cabeleireiros, assessores da marca e a equipe de produção, surge uma garotinha pequena no meio do backstage. “Essa é a Ana Julia, minha sobrinha. Minha sobrinhada vem toda aí hoje”, comenta o rapper, encantando com a cena.

    VEJA A COLEÇÃO INVERNO 17 DA LAB DESFILADA NO SPFW N43

    Confira abaixo uma conversa com Evandro Fióti e Emicida sobre a repercussão positiva do primeiro desfile e as críticas sobre os preços das roupas da marca.

    Como foi a repercussão do desfile anterior? 

    Emicida: Fiquei feliz [risos]! Eu sempre falo isso. Demorei para entender, não a grandiosidade do que a gente estava fazendo, mas todos os passos que a gente deu. Mas quando você está no meio disso aqui, passando a roupa, cortando, costurando, correndo atrás de calçado, apoio, produção, às vezes você foca muito no trabalho e esquece de pensar na repercussão, sabe? Nem foi nosso foco a repercussão. A gente só não sabia que era importante, um marco. Quando a gente estava aqui, passando o som com o Paulo Borges, foi a primeira vez que bateu. Quando eu vi a negrada entrando na passarela e tocando a música, eu falei: “caralho, isso tá no SPFW!”. Teve uma repercussão incrível de texto. Gente nova que é estudante de moda, que manda e-mail pra gente, questionando a profissão. Depois do desfile, entendi que tem uma essência, uma coisa muito bacana e que a gente não pode abandonar. As pessoas abandonam a moda, sabia? É uma parada muito doida. As pessoas tratam a moda como se fosse uma coisa amorfa, muitas vezes. Como se a gente não pudesse modelar ela [moda] para dizer coisas bacanas, para dizer que ela tem uma profundidade maior em certos tempos. A moda sempre foi política, sacou? O que a gente fez aqui foi trazer um pedaço do nosso universo. Nossa repercussão foi do caralho porque esse universo respondeu: “é isso”. A gente precisa disso… dessa autenticidade, dessa verdade. Então, é nossa oportunidade de modelar esse boneco num formato que converse com mais pessoas.

    Evandro Fióti: A gente contou uma história muito ligada ao nosso DNA, nossa origem. Acho que as pessoas reconheceram aquela verdade. Quando a gente mostrou a coleção para o Paulo [Borges], que era a figura mais próxima da gente nesse ambiente, ele falou: “cara, vocês vão chocar o Brasil com esse desfile”. A gente disse: “tomara”, mas não imaginou que ia ter toda aquela repercussão que teve. A gente acredita muito em uma construção sólida. Conseguimos construir algo dentro do universo da música e é também o que a gente vem fazendo no universo da moda. Então, pós-desfile, quando rolou toda aquela comoção, a gente se sentiu muito feliz. Não era um universo que a gente pertencia profundamente, então, contamos uma história muito real. Isso mostra que a gente não quer tomar o espaço de ninguém, mas a gente quer mostrar a nossa verdade, o lugar que a gente representa e o Brasil que não se sentia representando na passarela. Acho que a comoção maior do nosso desfile foi essa.

    Nesta temporada a LAB fecha o SPFW, um momento muito especial para vocês. Qual é mensagem que vocês querem trazer hoje?

    E: Tamo bem. Tá uma puta vibe gostosa. Eu fui ali falar com as modelos agora. Estou feliz para caramba. Tem uma modelo de Angola que chama Sharam Diniz, ela é muito inteligente. Eu nem sabia que ela ia desfilar para a gente. Vi o composite dela lá no escritório e falei: “essa menina está no Brasil?”. Ela está numa vibe gostosa de “vamos fazer essa parada junto”. Essa energia que eu quero que fique e que eu quero compartilhar. A gente está falando sobre herança. Herança é compartilhamento. Tudo o que a LAB Fantasma faz é compartilhar. Se cada pessoa sair daqui e compartilhar com outras pessoas fora do SPFW, o gol já foi feito.

    E.F.: Continua a mesma mensagem. De certa forma, o que a gente debate na sociedade é uma luta diária porque não está só na questão de vestir, mas sim na estrutura dos espaços de poder, principalmente de mostrar para pessoas que vieram do mesmo ambiente que a gente, que existe uma possibilidade dentro desse país tão preconceituoso. A gente sente que está colocando uma sementinha que vai florescer muito mais. Dentro do Laboratório, entendemos que a gente trabalha com um propósito muito forte de transformação mesmo. Nós próprios somos indivíduos transformados pelo hip hop. Conseguimos fazer isso com a nossa empresa, com a música, de certa maneira, com o pouco que a gente tinha. Acredito que a força com que fizemos o primeiro desfile e o respaldo que tivemos mostram que a gente conseguiu implantar algum sentimento dentro da indústria da moda. Acho que agora é continuar. Quero ver mais negros estilistas, em cargos de poder, mais negros dentro dos espaços políticos que precisam ser discutidos. A moda tem isso e se a gente tem a oportunidade de mostrar e de dar visibilidade para esse tipo de personagem, de pessoas que se identificam com a gente, nós vamos fazer isso. A cada edição, vamos procurar fazer algo diferente.

    Desfile de estreia da LAB na SPFW N42 ©Agência Fotosite

    Desfile de estreia da LAB na SPFW N42 ©Agência Fotosite

    Existem algumas críticas sobre os preços dos produtos. Como vocês respondem a isso?

    E: A Laboratório Fantasma passa boa parte do ano fazendo liquidações, outlets e variações. Fora os outros trabalhos que a gente faz, a gente direciona o lucro para algum projeto social. Todas as pessoas que disseram isso não fazem ideia da história do Laboratório Fantasma. Isso toma um corpo porque, infelizmente, a polarização e a intolerância estão gritando cada vez mais alto nas redes sociais. As pessoas não fazem ideia do que elas estão falando, porque a gente construiu uma cadeia de produção e temos consciência do que a gente representa nesse universo. Ninguém preza mais pelo nosso discurso do que nós mesmos, entendeu? Então, nem foi uma coisa que a gente viu como ameaça, risco, foi uma reverberação que teve na Internet. Na vida real, falando da Laboratório Fantasma, ela olhou e deu risada. Quem nos acompanha no dia a dia sabe do esforço que a gente faz desde a produção, que a gente é uma marca pequena e que temos o apreço de incluir cada vez mais gente.

    E.F.: A gente sempre quebrou paradigma, tá ligado? Eu comecei a vender camisa nos shows do Emicida. A gente vendia camiseta a R$ 40, enquanto as bandas alternativas vendiam por R$ 15. Nesse momento, muito dos meus amigos empresários –  porque na época eu era empresário, mas tava começando a minha trajetória -, tiraram a gente e disseram que a gente estava elitizando algo que tinha vindo da periferia. As pessoas pagam por aquilo se for verdadeiro e realmente durar. Isso foi se mostrando ao longo do tempo. A nossa história foi tão forte que o lance começou a bombar e, em questão de dois anos, nós começamos a ser pirateados. Em 2011, isso ultrapassou o mercado da música de uma maneira muito verdadeira. O que houve agora, com relação aos preços nesse pós-desfile, foi um debate até interessante se fosse feito com consciência e sabedoria. A partir do momento que a gente se posicionou, muitas dessas pessoas ficaram sem argumentos, porque realmente a inflação está alta, é uma marca pequena. Se você olhar o tanto que investimos para fazer uma peça e quanto cobramos, você pode ver que outras grifes que produzem no mesmo lugar cobram muito mais caro.

    A gente não optou só pelo caminho da militância. Quando a gente fala de espaços de poder, a gente fala também que quer ter o nosso próprio negócio e a comunidade vai entender como a gente está produzindo aquilo. Porque existe espaço. Tem o street wear que está em alta, o rap que está em alta e pouca gente com propriedade para falar desses assuntos. Se ninguém falar, a gente vai falar. A gente vive num mundo capitalista que precisa vender. Como diz Emicida, na primeira mixtape, “já que alguém vai ganhar grana nessa porra, que seja a gente”. E isso fica bem claro, a partir do momento que a gente lançou na primeira semana, né? Até agora não conseguimos repor. Eu vou nos shows, vejo as pessoas na rua e não vejo ninguém que não se represente com o nosso universo vestindo as nossas peças. Pode até ser uma pessoa elitizada, mas ela sabe a importância daquilo que está vestindo e que, de alguma maneira, ela contribui para essa trajetória. Essa discussão é muito mais profunda do que de onde você vem e quanto você gasta. Se você for para a periferia, nos últimos anos, você vê sim um universo consumidor muito maior. As pessoas estão procurando marcas com as quais se identifiquem, porque querem se vestir bem, querem andar bem. A gente continua vendendo para o mesmo público, sempre vendeu, que mora no mesmo lugar. A diferença é que aquele cara se sente representado por isso, sabe a diferença de comprar uma roupa da LAB e sabe o quanto aquilo também, de certa maneira, o ajuda a fazer parte dessa história. É uma história recíproca. Com tanta verdade, acho que fica difícil um argumento tão fajuto se sustentar.

    O primeiro look do segundo desfile da LAB ©Agência Fotosite

    O primeiro look do segundo desfile da LAB ©Agência Fotosite

    Qual vai ser o caminho da marca depois desse desfile?

    E: A gente se assumiu como uma marca de roupa e começamos na semana de moda há pouco tempo. A gente está mergulhando, naturalizando dentro do espaço. O que temos feito é modificar nossa relação comercial, com fornecedor e pessoas que se interessam pelo que estamos fazendo. E manter nossas portas abertas, para que até outras pontes fora do nosso metiê sejam estabelecidas. Fora que a gente tem se sentido cada vez mais confiante. Não sei se tem como trazer ainda mais a nossa verdade aqui para dentro.

    E.F.: A princípio, a gente desfila mais uma coleção este ano e o modelo de trabalho vai ser o mesmo. A gente tem uma visão de abrir uma loja daqui alguns anos, mas ainda não temos condições financeiras para isso.

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