A onda da Chanelmania ainda não estourou no Brasil, já que “Coco Antes de Chanel” só chega às telas brasileiras em outubro e o outro biópico sobre a estilista, “Coco & Igor”, não tem data de estreia. Mesmo assim, detalhes sobre ambos (principalmente o primeiro) são avidamente consumidos pelos fashionistas tupiniquins.
O pôster brasileiro do filme de Anne Fontaine, “Coco Antes de Chanel” ©Divulgação
Para aplacar um pouco dessa curiosidade, o portal SPFW entrevistou Catherine Leterrier, figurinista do filme, com exclusividade. Confira abaixo:
Para Coco Antes de Chanel, você precisou criar o vestuário para um dos maiores ícones da moda. Foi um desafio?
Foi, mas como [a diretora] Anne Fontaine quis mostrar o verdadeiro começo de Chanel, pensei que seria interessante criar o figurino para a personagem usando o código Chanel que viemos a conhecer depois. Por exemplo, uso cores como preto, bege e off-white, e tecidos que ela preferiu mais tarde. No filme, todos os visuais que criei são antes de ela se tornar uma estilista, quando era uma millineur [estilista de chapéus]. Exceto no final, quando há um desfile com o resumo de seu trabalho – estas peças escolhi no museu da Chanel.
Como foi sua pesquisa?
Pesquisei o período como faço em qualquer filme, e também me inspirei em fotos famosas da própria Coco. Introduzi peças com base nas fotos, como as listras de marinheiro que ela usou mais tarde. Há uma cena em que ela está na praia e vê pescadores usando roupas listradas, o que lhe dá a ideia. É antes da década de 1930 [o filme se passa nos anos 1910], mas poderia ter acontecido. Também introduzi o tweed, com o qual ela trabalhou a vida toda e que foi inspirado no Duque de Westminster. Fiz Étienne Balsan, seu amante na época, usar tweed para fazê-la usar o tecido no filme.
Há todo tipo de pistas…
Tentei colocar no filme o maior número de características que mais tarde tornariam-se famosas. Há preto e vermelho, paetês pretos, o famoso laço no cabelo, canotiers [tipo de chapéu]. Faço-a usar uma gravata preta em laço por cima de uma camisa branca. Você vê muitos detalhes.
Audrey Tautou de canotier, colete de tweed e laço no pescoço: pistas de um legado futuro ©Divulgação
Existiam quantas pessoas na sua equipe?
Há uma equipe no set e uma equipe para fazer as peças. A segunda é antes das filmagens, e consistia em cerca de 50 pessoas. No set, dependia do dia porque quando há muitos extras, há muitas pessoas no local.
Você também fez as roupas dos figurantes?
Não. Fiz todos os chapéus, mais ou menos 800.
São muito chapéus!
São muitos, mas os chapéus disponíveis não eram do tamanho certo, pareciam velhos. Nas partes em que Chanel era millineur, eu queria que os figurantes usassem chapéus que parecem muito complicados, exagerados, do jeito que Chanel não gostaria que fossem – os dela eram diferentes, arquitetônicos. Precisei fazê-los, mas aluguei alguns, comprei outros em mercados de pulgas, fiz uma mistura.
Audrey Tautou em cena: chapéus arquitetônicos ©Divulgação
Como era uma dia no set de “Coco Antes de Chanel”?
Audrey Tautou chegava uma hora e meia antes, para fazer maquiagem, cabelo e ficar pronta – vestir corsets demora um pouco. Eu ia ao set quando era uma roupa nova, para checar que tudo seria como deveria ser. Não ficava durante a gravação porque precisava fazer outras coisas, como fittings para a próxima cena. Aqui, tinha duas equipes: uma para passar o dia no set e outra que ia comigo preparar a próxima cena.
Houve algum problema com o figurino?
Na verdade, não.
Muito Chanel.
[risos] Tínhamos que costurar bastante no set.
Há alguma peça especial para você?
Há um vestido que Chanel rouba quando é cantora de cabaré, para usar em um teste. Ele é rosa avermelhado, ao estilo das cantoras e dançarinas de cabaré da época. Foi divertido criá-lo, não é Chanel. É meigo.
O vestido que Coco Chanel rouba do cabaré onde trabalha ©Divulgação
Foi publicado que você colaborou com Karl Lagerfeld no filme. É verdade?
Nós encontramos uma vez. Ele foi muito simpático, olhou meus designs, mas não esteve muito envolvido até a última filmagem, quando Audrey Tautou está usando um terninho que Chanel usava nos anos 1960. Eu não queria recriar algo que era verdadeiramente Chanel, me sentia livre porque criava as coisas num período antes da maison existir. Achei que seria mais justo se a Chanel, e eventualmente Karl, produzissem o que precisávamos.
Há outro período na vida da estilista com o qual você gostaria de ter trabalhado?
Acho que o período em que ela estava com outros artistas como Pablo Picasso, Igor Stravinsky e Jean Cocteau, todo aquele movimento artístico francês, teria sido interessante.
Você fica com as roupas?
Na verdade, elas estão em turnê – acredito que irão para o Brasil em breve -, e a Cinemathèque e a Chanel pediram para ficar com algumas peças depois.
E você?
Não guardo nada, na verdade.
Não sente falta?
Guardo meus croquis, e é só.
Um dos croquis de Catherine Leterrier para o figurino do filme ©Divulgação
*Agradecimentos especiais: Warner Brothers e Denise Novais.