Mateus Cardoso já vestiu diversas celebridades e clientes exclusivos com suas criações de alfaiataria-street sob demanda. O refino de suas criações e primor de construção das suas peças, criadas por encomenda e de forma slow agora vai poder chegar a mais pessoas. Em nova fase da marca, o estilista inaugura uma linha de prét-à-porter e loja online.
Natural de Monte Belo, o designer mineiro Mateus Cardoso ganhou destaque quando ganhou o 1º Desafio Sou de Algodão da Casa de Criadores, ainda no seu último ano de faculdade. Para o designer, foi um divisor de águas, o investimento financeiro o ajudou a continuar com a marca própria e ser autônomo, trouxe seus primeiros clientes e colocou seu nome na cena de moda.
Mas esse não foi sempre o plano, Mateus Cardoso caiu de paraquedas na moda. Ex-estudante de Relações Públicas, ele buscava trabalhar com algo que realmente se identificasse. Ele se voltou para suas habilidades na infância, percebeu que sempre teve um interesse estético e ingressou na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. “Eu não tinha nenhum contato com moda, nem como consumidor nem como designer. Acho que isso me fez entrar na faculdade com a cabeça mais aberta também” conta o estilista.
Esse aspecto de seu background talvez explique um pouco sobre como Mateus Cardoso faz moda. “Aprendi a costurar e modelar e foi aí que descobri minha habilidade. A partir daí me apaixonei pela moda, a partir da roupa” descreve. A construção e criação das peças de roupa é o aspecto principal de sua criação de moda. Em um molde mais tradicional e quase que na contramão do que temos visto hoje como grande movimento da indústria, a imagem, as tendências e a veiculação são aspectos que vêm depois da roupa. O estilista busca focar no produto ao prezar por uma construção, modelagem e caimentos primorosos. “O que me deslumbra em moda e desfiles não é o glamour da coisa, é realmente a roupa. Acho que essas coisas, de onde eu vim, me fazem ter uma visão particular ou talvez, menos viciada, sobre a moda”, conta.
“Eu acho que a moda internacional tem estrutura para entregar imagem e produto. Nacionalmente, acho que temos menos recurso para entregar os dois, são poucas marcas que os fazem. Às vezes vejo pouca criação de ‘roupa’ no Brasil”.
Também por isso, Mateus Cardoso trabalhava exclusivamente com produtos sob medida e sob demanda – até agora. Durante a pandemia, o designer fugiu dos moldes e saiu do Instagram. Ele realizou um bazar e se limitou a posts muito pontuais na rede social, fortalecendo as conexões diretas com o cliente e seu trabalho sob demanda. Um movimento bastante inusitado, quando pensamos que a pandemia acelerou as conexões digitais entre marcas e consumidores. “Eu tinha acabado de abrir o meu ateliê e a pandemia começou, optei por mantê-lo. Achei que tinha feito a escolha errada, no início do ano passado foi mais complicado, tive que vender algumas peças de acervo, mas com o tempo novos clientes vieram buscando as peças de forma muito natural e a marca conseguiu se manter e crescer” conta Mateus Cardoso sobre como navegou a pandemia sendo uma marca pequena, independente e bastante recente.
Agora, no entanto, o designer se prepara para um novo momento de sua marca, mais comercial e focada no varejo direto-ao-consumidor, começando pelo recém lançado e-commerce com a nova coleção.
“Eu passei a pandemia toda criando peças sob medida, mas esse trabalho depende muito da minha mão de obra. Eu precisava de ter algo circulando, para ter produtos para vender.” conta o estilista sobre a nova fase “Decidi criar uma coleção cápsula comercial, a partir de desenhos criados ao longo do ano passado. Eu quis chegar em uma camisa perfeita, uma bermuda perfeita e criar alguns itens clássicos com modelagem e construção de boa qualidade. Foquei em criar um bom produto.”
A coleção faz parte de um projeto mais longo, e tem apenas a sua primeira parte lançada agora no e-commerce da marca. Apesar do momento mais comercial, Mateus Cardoso segue com a produção em pequena escala, sob demanda e sem estoques. Com mão de obra reduzida e produzindo localmente, o estilista cria com sua equipe as peças para venda a partir dos pedidos dos clientes, com tempo de produção e entrega de até 20 dias. Nessa coleção, que não foi batizada com um nome ou tema (o que novamente diz sobre a forma como ele vê a sua moda), o designer segue com sua alfaiataria autoral e contemporânea, mas pode-se dizer que também bebe em algumas referências do streetwear.
Talvez o designer o faça para pontuar a veia mais comercial que busca com essa coleção e cria peças que vão do mais simples, como calças-cargo e camisaria até reinterpretações mais complexas de clássicos da alfaiataria, como uma nova versão do colete e camisas sem manga. O mix de produtos da coleção conta também com jaquetas, shorts e bermudas, tudo já disponível no recém lançado site. “É um produto difícil e caro de ser feito. Por isso, para manter a qualidade e o que eu quero entregar com essas peças, eu sigo ainda no sob-demanda, mas não sob medida, com uma logística mais prática” conta.
O novo prét-à-porter de Mateus Cardoso tem um preço mais baixo que os produtos sob demanda, criados em colaboração com o cliente, apesar de ainda não serem completamente acessíveis. “Para ser sincero, acho impossível uma marca pequena e independente conseguir unir qualidade e preço acessível, mantendo todo o processo produtivo de forma saudável” afirma o designer: “Meu foco sempre foi tentar entregar um bom produto para o cliente e manter um ritmo saudável e preço justo para as costureiras colaboradas, então o preço final acaba sendo um pouco mais alto. Isso sem falar na matéria prima”, finaliza.
Mateus Cardoso ainda anuncia uma segunda parte da coleção, mais voltada para a alfaiataria e os processos artesanais para o ano que vem; O designer pretende lançar essa coleção, no entanto, só com um desfiles presencial. “Eu não sou muito aberto ao digital, acho importante a distribuição disso e poder atingir mais pessoas, mas sou adepto ao físico. Estou guardando esse projeto para quando pudermos realizar um novo desfile” conta.
Sobre o futuro, Mateus se mostra esperançoso: “Tenho visto muita gente nova nascendo. Acredito que vamos entrar numa fase nova e vejo muitas pessoas novas que tem me dado um certo ânimo e esperança no futuro da moda nacional” finaliza.