A cena
O desfile aconteceu no The Tanks, prédio recente incorporado à Tate Modern. Assim como a coleção, o cenário foi dividido em dois ambientes completamente opostos. Uma sala toda em madeira, com poltronas estofadas enquanto o outro espaço lembrava uma arena de luta, cercada por uma parede de alambrado e jovens pendurados como se assistissem a uma disputa de gangues. Cada sala tinha sua trilha sonora, composta pela cantora M.I.A.
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The Tempest
“Venho pensando muito sobre a Inglaterra como país e seus contrastes, do establishment aos rebeldes e livres, e eu queria celebrar como esses elementos coexistem”diz Riccardo Tisci no release da coleção Inverno 19, sua segunda para a Burberry. Ele tem a visão de um imigrante (italiano) sobre como a sociedade inglesa dos dias atuais é composta.
Dessa vez, ao contrário de sua primeira coleção apresentada em setembro passado, Tisci começou o desfile com esses “rebeldes”que se vestem de um sportswear e streetwear extremamente luxuosos.
Aos poucos, ele vai misturando elementos mais femininos e refinados, como um top-corset em preto e branco com mangas bufantes sobre uma camiseta pólo, como no look de Gigi Hadid, ou no look masculino de trench de couro sobreposto a combinação de hoodie + calça jogging. Em 106 looks, Tisci trabalha todo o vocabulário da Burberry, dos trenchs, dos beges, do tartan e da alfaiataria usada pelas mulheres e homens elegantes do Chelsea e soma isso à sua estética mais orientada ao sportswear, as referências americanas do streetwear, do basquete e um pouco de fetiche de Hackney, fazendo duas gerações de clientes com necessidades diferentes se encontrarem dentro de uma mesma marca.
“Minha primeira coleção para a Burberry foi sobre começar a criar meu alfabeto para a marca, foi sobre identificar novos códigos. E agora eu estou começando a colocar esses códigos juntos para começar a escrever meu livro aqui, para formar o primeiro capítulo dessa nova era da Burberry” diz Tisci.
Brexit is coming
O desfile aconteceu às vésperas do Reino Unido deixar a União Européia, em decisão polêmica e de consequências ainda inestimáveis para a todos. É consenso na indústria da moda que a saída deve ser desastrosa para os britânicos. E Tisci, que é um imigrante italiano no comando de uma das marcas inglesas mais conhecidas e tradicionais, deixou seu recado ao colocar na passarela um look masculino de casaco doudoune longo com um duvet gigante preso nas costas, estampado com a bandeira do Reino Unido, que lembrava um paraquedas, pronto para se atirar num futuro negro e desconhecido.
Cabelo escultural
Assinado pelo genial Guido Palau, algumas modelos desfilaram com um cabelo escultural com mechas que faziam desenhos lindos inspirados pelas curvas da Arte Nouveau pela testa e laterais da cabeça, como um adorno.
Tisci mostrou uma coleção sintonizada com os dias de hoje, com contrastes que simbolizavam mainstream e subcultura, gerações jovens e mais velhas, a favor e contra o Brexit. Uma marca tradicional como a Burberry (uma das mais antigas da moda britânica) só consegue se manter atual se refletir e espelhar os tempos atuais. E hoje, nada mais simbólico que fazer isso através de opostos e contrastes.