Jeremy Scott usa um dos moletons medievais que criou para o inverno 2010 da Adidas © Divulgação
Durante a semana de moda de Paris, o FFW visitou o showroom da Adidas na cidade-luz para conferir de perto a nova coleção assinada pelo estilista americano Jeremy Scott. Com inspiração medieval, o inverno 2010 da marca transforma o streetwear em armaduras esportivas, com moletons relembrando as veste de cavaleiros da Idade Média, formas estruturadas, tecidos metalizados e muitas tachas.
Por que o tema medieval?
Eu já havia trabalhado com referências medievais nas minhas coleções, então é um tema com o qual me relaciono bastante. Gosto dessa ideia de armadura como o começo do sportswear, uma mistura de proteção e agilidade de movimentos. O que tentei fazer aqui foi transformar algo totalmente antigo em moderno. Para isso trabalhei bastante com a noção das superfícies metalizadas e principalmente com a justaposição do rígido contra o macio.
Como esses projetos paralelos (Adidas, Longchamp, etc.) se relacionam com a sua própria grife e com seu estilo?
O que eu faço com a Adidas tem voz própria. Acredito ter criado meu próprio universo dentro da marca. Mas é claro, às vezes há um cruzamento com o que estou fazendo na minha própria marca, mas geralmente as coleções que desenvolvo para outras grifes têm vida própria e independente.
Você já desfilou em Londres, Nova York e Paris. Existe alguma diferença na maneira que as coleções são recebidas entre essas capitais da moda?
Absolutamente. Em Paris é sempre a moda pela moda, você pode ser totalmente over the top ou teatral que está tudo bem, enquanto em Nova York há uma mentalidade mais prática em relação a moda. A cidade é mais comercial, enquanto Londres tem um sentimento de “vale tudo”, sendo que o que vale mesmo é ser criativo.
Looks da coleção de Jeremy Scott inverno 2010 © firstVIEW
Seu desfile em Nova York pareceu extremamente focado no lado comercial. O que te levou a essa mudança? Foi o fato de estar apresentando em Nova York ou foi algo no atual clima da moda global?
Em parte foi pelo tema em si: a moda propriamente dita e sobre como às vezes ela se transforma em algo totalmente mercadológico, sem nenhum aspecto criativo de fato. A ideia era brincar um pouco com esses conceitos super clichês da moda. Como o LBD (o “Little Black Dress”), as fashion victims com vestidos com estampas de alvos, a idolatria das marcas quase como uma religião e as cópias. Todos aspectos muitos abstratos sobre a moda que precisavam ser apresentados do modo mais objetivo possível.
Bem crítico, mas sem perder o senso de humor…
Exatamente.
E isso é algo recorrente no seu trabalho: você sempre usa elementos lúdicos, referências pop e pitadas de humor para abordar importantes temas sobre moda, cultura, política e sociedade.
Eu acredito que contar algo com humor é sempre o melhor jeito de fazer valer seu ponto de vista. Penso que quando você sai apontando dedos e pregando seus ideais, as pessoas logo perdem o interesse no que você tem a dizer. Mas quando você conta algo com humor, você atrai a atenção das pessoas, tornando mais fácil o entendimento da sua mensagem. E isso é simplesmente parte da minha natureza. Acho o humor a coisa mais sexy do mundo.
Há espaço para essa moda bem humorada, alegre e cheia de energia?
Com certeza, eu acho que sempre vai haver lugar para esse tipo de moda. É parte do que precisamos em nossas vidas. Sempre precisamos de um pouco de fantasia, um pouco de escapismo. Sim, a moda está ficando mais séria, e temos vistos coisas maravilhosas nessa estética mais austera. Mas acho que, para mim e para as pessoas para quais eu crio, o humor ainda é algo fundamental, assim como o glamour e outros elementos que fazem a vida mais divertida.
Atualmente você está morando em Los Angeles, a cidade influencia de alguma maneira seu trabalho?
Eu adoro morar lá, a qualidade de vida é excelente. Tem um arquitetura super eclética e, claro, tem Hollywood, que torna tudo mais divertido. Com certeza a cidade influencia meu trabalho em tantos aspectos que mal posso identificá-los…
Como a cultura pop?
É um lugar que respira cultura pop. É onde acontece a cerimônia de entrega do Oscar! Acredito que boa parte da cultura pop é moldada em Hollywood.
E a cena noturna em LA?
Eu não acho que a noite de Los Angeles seja tão boa. Para começar tem o horário limite – tudo fecha às 2h da manhã. Mas tudo bem, não é o tipo de vida que levo lá. Eu trabalho, vou jantar, vou ao cinema… Eu tenho Paris, Nova York e Tóqui para sair e curtir a noite.
Então qual a melhor cidade para sair?
Paris é ótima, porque você pode continuar na festa até o dia seguinte, sem parar. Nova York também não é nada mau.