Em 1997, o falecido Jean-Louis Dumas, na época CEO da Hermès, anunciou Martin Margiela como diretor criativo da tradicional grife francesa. Certamente foi uma surpresa para o mundo da moda. O icônico estilista belga, com suas técnicas “grunge” de desconstrução e reciclagem, estava prestes a dirigir a grife cujas raízes estão fincadas no universo equestre. Além disso, foi a mesma época em que John Galliano assumiu a Dior, Alexander McQueen a Givenchy e Marc Jacobs a Vuitton – grandes transgressores que despontavam como celebridades da nova moda mundial. Margiela era o oposto: em toda a sua carreira, dificilmente foi fotografado, nunca apareceu ao final dos desfiles e também não dava entrevistas. A Hermès foi em direção oposta ao contratar o estilista “invisível”, o que também deixou os fashionistas intrigados.
Essa parceria foi de 1997 a 2003 e rendeu 12 coleções. Pela primeira vez, elas serão exibidas na nova mostra do museu de moda ModeMuseum (MoMu), na Antuérpia, de 31 de março a 27 de agosto do ano que vem, duas décadas depois da primeira coleção de Margiela na Hermès. A exposição também irá explorar a relação dessas coleções com da grife do estilista (atualmente desenhada por Galliano), a Maison Martin Margiela. Para Suzy Menkes, a relação entre ambos foi um poderoso antídoto às extremidades da moda no novo milênio, em coleções extremamente elegantes. “A brilhante ideia da Hermès foi perceber e apreciar que, por trás da abordagem iconoclasta de Margiela, estava um profundo entendimento e paixão pela alfaiataria, um grande conhecimento de tecidos e seu apelo tátil e, acima de tudo, uma atitude moderna”, diz Suzy Menkes na Vogue UK.
Em tempos de Vetements e a notável influência do estilista belga no que há de mais moderno na moda, “Margiela – The Hermès Years” chega em boa hora para mostrar esse importante período, antes nunca visto como um legado da história da moda.