O diretor criativo da Balmain, Olivier Rousteing, veio a São Paulo pela primeira vez para celebrar a abertura da primeira loja da marca na América Latina. Olivier não é apenas um dos mais jovens diretores criativos à frente de grandes marcas (ele foi nomeado na Balmain em 2011, com apenas 24 anos), mas também o primeiro designer negro a chegar nesse nível de sucesso profissional em um ambiente que até pouco tempo atrás era quase nada representativo em termos de diversidade ou minorias.
Rousteing recebeu um seleto grupo de jornalistas (FFW, Bazaar, Glamour e GQ) para um papo na loja da marca, que fica no shopping Cidade Jardim. Gentil, calmo e generoso nas respostas, ele fala abertamente sobre como o sistema da moda está obsoleto. Na verdade, para ele, nem deveria haver um sistema. “Por que ter um sistema na moda, um universo onde pode ser livre e se expressar? Se há um sistema a seguir, significa que você não pode ser você mesmo. Acho que nós deveríamos criar nossas próprias regras e códigos”. De fato, ele é um dos poucos designers em casas tradicionais a se posicionar pela derrubada de um esquema que, obrigatoriamente, tenha que servir a todos. “Vou ser odiado por isso, mas se você quiser falar com um designer honesto, esse sou eu”.
Para ele, a única maneira da moda sobreviver a todas essas transformações, é se aliando a outros assuntos, como política, sustentabilidade e entretenimento (sua parceria com Beyoncé no doc Homecoming, indicado a seis Emmys, é um bom exemplo). Na Balmain, ele diz que não mostra apenas roupas, mas também um ponto de vista e uma maneira de ver o mundo. “Você não pode construir uma maison baseada em tendências ou pela adoração da imprensa. Você constrói uma casa porque você tem um ponto de vista pra expressar e foi isso que eu fiz desde o começo, com a questão da diversidade. E o Brasil, pra mim, é o país da diversidade, e isso fala direto com meu background, então é o que eu tento puxar com o meu trabalho”, diz, relembrando o fato de que foi adotado quando criança e é um dos poucos negros em posição de prestígio na indústria. “A moda não vai sobreviver se for apenas moda”.
Olivier também critica a obsessão da moda com as gerações Z e Millennial e diz que a razão de seu sucesso é conseguir vestir mulheres de idades diversas, citando Millie Bobby Brown e a primeira dama da França, Brigitte Macron, como exemplos. “Acho que esse é o meu ponto forte como designer. A permanência de uma marca não acontece se ela for só obcecada com a juventude, mas sim em como ela consegue atingir mulheres de idades diferentes. Eu não estou buscando ser cool, estou buscando ser atemporal”.
Fã de Obama (meu sonho é vê-lo com uma jaqueta da Balmain), Kanye West e Neymar, ele também lembra o que sentiu quando recebeu uma ligação de Bjork querendo vestir suas criações. “Sabe quando você tem uns 10 anos e tem um ídolo? E você sonha com aquela pessoa e quando acontece algo ruim na escola , você chora ouvindo a música dela… Essa pessoa pra mim é a Bjork. E de repente, anos mais tarde, ela te liga e fala que ama o que você faz e quer vestir suas roupas. Imagina…”.
Mesmo acostumado a viver ao lado de estrelas pop como Rihanna e Beyoncé, a parceria com Bjork não apenas foi a realização de um sonho, mas também mostra como Olivier consegue descolar a Balmain daquele perfil sexy que, de uma certa maneira, domina a imagem da marca. “O mais legal é que Bjork tem um jeito totalmente diferente das outras mulheres que você vê no mundo da Balmain. E isso também mostra bem o que é a Balmain. Não nos coloque numa caixa, não nos rotule. É contra isso que eu luto. Você pode fazer roupa sexy, ombreiras, às vezes roupas que são quase impossíveis de vestir, mas isso não significa nada, apenas que você é livre pra fazer o que você quiser”.
O CEO Massimo Piombini também veio ao Brasil e, como Olivier, também tem um jeito bem direto na hora de apontar algumas questões na moda. Ele critica o fato de que algumas marcas estão contratando diretores de sustentabilidade e diversidade quando deveria ser algo autenticamente presente em todas as empresas. “Nós não temos essa questão porque somos autenticamente diversos. Olhe para o fato de que a pessoa mais importante da empresa, Olivier, é jovem, negro, gay e também tem uma história pessoal específica porque ele era órfão e foi adotado. Olivier é o melhor exemplo de uma minoria e diversidade que conseguiu se suceder nesse mundo da moda. Então isso não é um problema pra gente. Eu não quero saber se uma pessoa é gay, hétero, muçulmano, judeu, preto, branco. O que importa pra mim é o talento”, diz.
Massimo diz que haverá uma grande mudança nos próximos cinco anos no que diz respeito a idade média do consumidor. “O maior desafio, não só pra Balmain, mas para todas as marcas, é como ser relevante para esse novo grupo”. Ele cita a obsessão atual com os millennials sem se mostrar preocupado porque “Olivier é um deles. Ele tem um vocabulário que fala direto com esse público”. Mas a dificuldade é entender que tipo de produto essas pessoas gostam e não só isso, mas também como elas gostam de comprar esse produto. Os modelos de distribuição estão mudando muito. Há a importância do online, também do second hand, que é outra tendência muito importante… É necessário um acesso ilimitado a canais de distribuição que hoje não estão representados no mercado tradicional. Esse sim será o grande desafio”, finaliza.