Em O Diabo Veste Prada, uma das cenas mais icônicas é quando Miranda Priestly explica para Andy a trajetória da cor Cerulean Blue (Azul Celeste, na tradução), das semanas de moda ao suéter de liquidação da assistente. A cena é uma ótima demonstração de como as coisas não acontecem por acaso na indústria da moda e existem significados por trás até das tendências mais simples, e principalmente, das cores.
Mas a cor do momento não é o Azul Celeste como no filme. A cor que tem conquistado aos poucos e silenciosamente os fashionistas é o Azul Cobalto, ou Cobalt Blue. Enquanto o Azul Cobalto não foi uma das principais cores das semanas de moda, como o rosa ou o vermelho, o tom tem ganhado espaço principalmente nas marcas de streetwear e no streetstyle.
Em 2020, o Azul Clássico foi eleito a cor do ano pela Pantone e entre 2019 e 2020 vimos várias coleções com diversos tons de azul mais claros. Mas agora, o tom fica mais profundo e vivo no Azul Cobalto, sob forte influência de ninguém mais ninguém menos que: Kanye West.
Apesar de uma figura extremamente controversa, é inegável a influência de ‘Ye’ na moda. Em 2019, após lançar o álbum Jesus Is King, Kanye West lançou também uma linha de merch, que fez um estrondoso sucesso e contava com duas peças em azul, uma hoodie e um boné. O primeiro lançamento de sua aguardada colaboração com a GAP aconteceu no ano passado, em um casaco com aparência plástica – que inclusive foi satirizado por parecer uma sacola de lixo – nas cores preto e… azul cobalto.
Posteriormente, na temporada de Primavera Verão 2022, a cor começou a pipocar nas passarelas de marcas como Louis Vuitton, Dion Lee e Laquan Smith, além de ganhar ainda mais espaço no streetwear e nos acessórios. Por sua vez, o novo hoodie da YZY X GAP em azul cobalto foi um sucesso de vendas e se esgotou rapidamente. Já na temporada de Inverno 2022/23, encerrada há pouco, a cor apareceu nas passarelas da Ferrari, Lanvin, Gucci, Off-White, Lanvin e tantos outros.
O tom Azul Cobalto, pode ser bastante assimilado ao azul royal, ambos são tons mais fortes e fechados de um azul-escuro, quase neon e facilmente confundíveis. A cor também apresenta semelhanças com o tom Azul Klein, criado artificialmente por Yves Klein em 1960.
A criação de pigmentos têxteis é, na verdade, uma relação mais complicada que pensamos. Não é fácil reproduzir as cores que vemos a olho nu como tintas para as roupas e por isso, pesquisadores estão sempre buscando novas formas e pigmentos de cores para serem usados na indústria da moda. Vale dizer que no ano passado, após 200 anos, um novo pigmento deste azul foi descoberto e colocado à venda, com uma cor mais forte e duradoura.
Mas a história e importância do Azul Cobalto data de muito antes disso. Historicamente, a cor azul é muito associada ao luxo e às riquezas, não é à toa o nome de Royal Blue (Azul Real, como de realeza) ou a expressão sangue azul para denominar pessoas de famílias ricas e “bem-nascidas”.
Alguns dos tons mais famosos de azul na história da pigmentação são o lapis-lazuli, importado do Oriente Médio, do Afeganistão e da Ásia, e originado da rocha de mesmo nome. Já o Azul Egípcio é um pigmento sintético, criado há cerca de 4,500 anos para suprir a demanda do lápis-lazuli, com alguns tons mais claros.
Na Europa Ocidental, o índigo, foi popularizado durante os séculos 16 e 17, mas ele já era amplamente usado em países Africanos anos antes, desde, pelo menos, o século 15. Diversas etnias de origem africana usavam a tintura índigo como um símbolo de riqueza e fertilidade, tanto em suas peles, quanto em roupões, turbantes e no vestuário.
(INFORMAÇÕES DO British Report of the Committee of the African Institution: West African Produce, 25 March 1808)
Mas os primeiros registros do Azul Cobalto, também de origem natural, são ainda dos séculos 8 e 9, muito usado nas cerâmicas, principalmente na China. Esse tom também é frequentemente chamado de Azul Parrish nas artes, por ter se tornado uma assinatura do pintor Maxfield Parrish.
O azul é a cor de algumas das maiores e mais significativas coisas da vida desde sua origem: das águas e dos céus. Não é surpresa que a cor esteja sempre presente no nosso imaginário, em diversas interpretações e tons diferentes e se depender da moda e do streetwear, devemos ver cada vez mais o tom de azul cobalto por aí.
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