Após 53 anos, a Balenciaga retorna à Haute Couture em grande estilo pelas mãos do atual diretor criativo Demna Gvasalia. A maison não apresentava coleções de Alta Costura desde o fechamento do ateliê de seu criador, Cristóbal Balenciaga, em 1968 (contamos um pouco sobre essa história por aqui). E hoje coube a Gvasalia reviver esse segmento que faz parte da essência da Balenciaga.
Com tantas expectativas sobre esse retorno, como Demna Gvasalia poderia, ainda, surpreender? Bom, retornar ao formato mais tradicional de desfiles de moda – não tradicional dos últimos tempos, mas da era de Cristóbal Balenciaga – pode ser uma ideia. A tão aguardada volta da Balenciaga à Alta Costura, adiada algumas vezes, foi um encontro entre a arquitetura e formas criadas e eternizadas por Cristóbal às paixões de Demna por temas ordinários como o uniforme, o jeanswear, esporte e street.
Dos números nas mãos das modelos, ao local e o silêncio, a apresentação é toda uma ode à Alta Costura e uma homenagem ao trabalho de Cristóbal Balenciaga – e não poderia ser diferente. As técnicas e o trabalho artesanal de altíssimo nível dos ateliês de Alta Costura é uma das poucas coisas que não poderão ser substituídas pela tecnologia.
Demna escolheu como locação o recém restaurado salão original de Couture de Cristóbal, onde o arquiteto da moda mostrava suas coleções há meio século. A apresentação, que parece simples e até causa incômodo pelo silêncio e barulho ambiente, também é proposital: os desfiles de moda não tinham som ou música até meados dos anos 70, nesse sentido, a era de ouro da Balenciaga foi apresentada sem som ou música ambiente e era possível ouvir o som que os diferentes tecidos faziam quando em movimento.
Em entrevista para Suzy Menkes, após o desfile, Demna Gvasalia conta:
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“A maioria das pessoas me coloca em uma caixinha de alguém que só desenha moletons e tênis, e isso não é quem eu sou. Para mim essa oportunidade foi muito importante para mostrar quem eu sou enquanto designer e isso foi uma manifestação disso”.
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Eliza Douglas, musa do designer, abriu o desfile, carregando uma rosa vermelha e vestindo num conjunto de terno de ombros estruturados, seguida por uma sequência de looks em alfaiataria unissex em preto e já dando sinais de qual seria a nova proposta de Couture de Demna para sua diversa clientela.
Demna Meets Cristóbal: alguns looks fazem claras referências a criações icônicas de Cristóbal Balenciaga, como o casaco vermelho, o vestido de flor e a reverenciada noiva com vestido túnica de Cristóbal: quem imaginou que veríamos Demna Gvasalia criar uma noiva? O designer, extremamente ligado ao mundo do streetwear e do jeans também traz esses elementos para a passarela criando looks de Couture inspirados no Ready-To-Wear, de forma surpreendente e irônica: foi justamente o surgimento do Prèt-à-Porter um dos principais motivos para o fechamento do ateliê de Cristóbal Balenciaga.
Outro ponto alto ficou por conta da imagem e styling de alguns arrematados com um grande chapéu oval desenhado pelo chapeleiro inglês Philip Treacy, que por muitos anos desenhos chapéus para diversos couturiers.
À Esquerda: Balenciaga Fall 21 Couture
À Direita: Cristóbal Balenciaga
A lista de convidados era super restrita, como os antigos desfiles de Couture. Estavam presentes somente os principais nomes da imprensa, potenciais clientes, Salma Hayek com Henri-François Pinault, Kanye West e o piloto Lewis Hamilton.