Surfwear na crista da onda: lifestyle e estética tomam conta da temporada de verão 2011 ©Reprodução/WGSN
Neon, Simone Nunes, Reserva, Giulia Borges e João Pimenta foram algumas das marcas brasileiras que abordaram a cultura do surfe em suas coleções para o verão 2011.
E não: não é só porque é verão. Além de ser uma macrotendência super forte na moda internacional (cujo verão acontece agora, durante o nosso inverno), o surfwear permite algumas interpretações mais subjetivas. Por exemplo, tem a ver com a vontade de uma moda eco-friendly ou sustentável. E também com o escapismo e com o remix de duas décadas que estão em alta nas passarelas: anos 1970 e 90.
Para o editor de moda Lula Rodrigues: “Desde seu nascimento na Califórnia _lá nos anos 50, de mãos dadas com o rock_ a cultura surfe vai muito além da vestimenta”. Segundo o especialista em menswear, “trata-se de um verdadeiro combo de lifestyle. Culinária, músicas, filmes, ideais, comportamento e, claro, moda”.
Editorial da “Vogue” alemã de julho de 2010 © Reprodução
Nos anos 70 _com uma seca histórica e as marés extremamente baixas nas enseadas californianas_ as pranchas ficaram menores, ganharam rodinhas e encontraram nas piscinas vazias o terreno perfeito para prática de um novo esporte. Nascia o skate e com ele os Z-Boys. A mesma tribo que inspirou o verão 2011 da Reserva com suas bermudas curtinhas (“dolphin shorts”) e camisas mais próximas do corpo.
Os Z-Boys (cujo nome deriva da loja Zephyr surf shop, onde eles trabalhavam na época) foram os responsáveis por uma verdadeira revolução na cultura street, migrando das areias para o asfalto e misturando-se com outras tribos para criar um dos estilos mais influentes das ruas.
No meio do caminho, contudo, vieram os anos 1980_power dressing, ombros marcados, pós-punk e Wall Street_, enfraquecendo o estilo visual dos surfistas/skatistas. Mas no começo dos anos 90 eles retornaram de cara nova: com silhueta mais afastada do corpo, grafismos e cores New Age.
Editorial da “Marie Claire” italiana de junho de 2010 © Reprodução
Dudu Bertholini e Rita Comparato trabalharam exatamente esse novo período noventista na memorável coleção que fizeram para o verão 2011 da Neon. “O surfe surgiu pra gente como consequência do trabalho com o neoprene”, explicou Dudu sobre a técnica de colagem aplicada nas peças, que eliminou as costuras das calças adesivas em tonalidades ácidas e dos vestidos gráficos.
Sob o lema escapista “smoke pot, have some fun” (algo como “fume maconha, divirta-se”), diferentes tribos passaram a se reunir nos mesmos locais, promovendo um verdadeiro clash de (sub)culturas, tendo a Califórnia, mais uma vez, como epicentro. Foi aí que o surfe passou a se misturar com a estética hippie, assimilando elementos do hip-hop, do grunge e das outras tribos urbanas. A cultura surfe assumia, então, seu lugar no mainstream.
Editorial da “Elle” brasileira de março de 2010 ©Reprodução
Conforto, funcionalidade e uma imagem fresca são hoje alguns dos principais atributos que tornam a estética do surfwear relevante para a moda. Além da postura natural/sustentável que está em voga na atualidade, o surfe também serve de ponto de partida para avançados estudos tecnológicos na indústria têxtil. Como fez Simone Nunes no SPFW: mixando a cultura pop dos anos 1960 com a Bahia de Pierre Verger, a estilista conseguiu atualizar suas referências através do uso de altas tecnologias na confecção das roupas.