O designer Raf Simons, agora novo diretor criativo da Dior ©Reprodução
Não se fala em outra coisa (no mundo da moda). Quem entra em uma grife, quem sai, quem substitui, quais as suas competências e será que vai estar à altura do designer anterior. Um desses casos é o de Raf Simons, que após sete anos bem sucedidos (ao menos no aspecto criativo) como diretor criativo da Jil Sander, deixa a marca e é chamado para substituir John Galliano na Dior, mais de um ano depois da demissão de Galliano. Muitos outros designers, de Marc Jacobs a Riccardo Tisci, foram sondados, mas o trabalho ficou mesmo com Simons. Ele apresentou sua primeira coleção na temporada de Alta-Costura nesta segunda (02.07); veja as fotos do desfile completo.
Controvérsias e questionamentos à parte, Raf Simons tem uma carreira – e um estilo – que merece a nossa melhor atenção.
Em 2007, a editora de moda do “The New York Times”, Cathy Horyn, escreveu o seguinte sobre a coleção de Inverno 2007 da Jil Sander, criada por Raf: “Na quinta-feira, um designer belga pouco conhecido chamado Raf Simons ganhou a atenção de todo o mundo da moda. A coleção do Sr. Simon para a Jil Sander, a sua terceira desde que se tornou diretor criativo da marca há 18 meses, estava perfeita. Vai fazer com que todo o resto pareça pouco inovador, desajeitado e um pouco pateta”. E assim foi.
Alguns looks da coleção de Inverno 2007 da Jil Sander: minimalismo e perfeição na alfaiataria ©ImaxTREE
O designer nasceu na pacata vila de Neerpelt, na Bélgica, em 1968, onde se formou em Design Industrial e de Móveis. Raf trabalhou como estagiário no estúdio de design do estilista Walter Van Beirendonck, atuando na decoração das suas coleções e showrooms. Ainda trabalhou como designer de móveis para galerias e para clientes particulares, mas decidiu mudar de profissão e quatro anos depois tornou-se designer autodidata de roupas masculinas, lançando a sua marca homônima, encorajado por Linda Loppa, presidente do departamento de moda da Academia Real da Antuérpia, uma das escolas mais respeitadas do mundo.
Sua primeira coleção, em 1995, foi inspirada em uniformes escolares (seu pai era militar e Simons estudou em uma escola católica muito rígida). As duas coleções que se seguiram continuaram traduzindo sua linguagem. A coleção de Inverno de 1996 se chamava “We only come out at night” (A gente só sai de noite) e o vídeo de apresentação era um grupo de jovens ricos que se reuniam no sótão depois de uma festa de família, trocavam as suas roupas sociais por roupas casuais, fumavam cigarros e jogavam sinuca. Em 1997, Raf apresentou o seu primeiro grande show em Paris que, ao mesmo tempo que carregava a sua revolta juvenil, já mostrava também o seu cunho minimalista, em uma confecção perfeita demais para quem estava apenas na sua quarta coleção.
Inverno 1996 por Raf Simons “We only come out at night”:
Em março de 2000, cinco anos após sua primeira apresentação, Raf fecha a marca anunciando sua saída temporária da moda; ele queria refletir sobre o caminho que estava tomando, já que sua criatividade e individualidade tinham o seu quê de incompatibilidade com o lado comercial da moda. Um ano mais tarde ele retorna, respeitado como um dos estilistas de menswear mais inovadores da época, combinando movimentos jovens com cortes precisos e modernos. Para comemorar 10 anos de carreira, lançou o livro “Raf Simons Redux”, e outra marca de peças mais acessíveis, a Raf by Raf Simons.
Dois looks da coleção de Primavera/Verão de 2005 de Raf Simons: conceito e design ©Reprodução
Foi também nesse ano que Raf Simons foi chamado para ser diretor criativo da Jil Sander, arrancando as melhores críticas e elogios. “Como é que alguém sem treinamento e sem sinais aparentes de genialidade foi capaz de projetar um retrato tão fiel da juventude urbana?”, perguntou Cathy Horyn na época (ela, de novo). Como, não sabemos. A verdade é que os sete anos em que criou para a Jil Sander e os mais de 15 em que trabalha com moda só confirmam que Simons é um dos grandes talentos de sua geração.
Looks do último desfile de Raf Simons na Jil Sander: despedida com romance, cores e emoção ©ImaxTREE
A sua contratação para substituir outro gênio, John Galliano, lança um novo desafio ao designer. Não duvidamos que o mestre Christian Dior, de onde estiver, ficará orgulhoso. Sua primeira coleção foi a de Alta Costura, que acaba de ser apresentada em Paris.