FFW
newsletter
RECEBA NOSSO CONTEÚDO DIRETO NO SEU EMAIL

    Não, obrigado
    Aceitando você concorda com os termos de uso e nossa política de privacidade
    Passando Panos Limpos no Chão Sujo – nossa ignorância contribui para a decadência da moda
    a rua josé paulino, principal rua comercial do bairro do bom retiro.
    Passando Panos Limpos no Chão Sujo – nossa ignorância contribui para a decadência da moda
    POR Redação

    Ponto de Vista por Igor Frossard

    Essa semana, a influencer e empresária de moda Nati Voza, com mais de um milhão de seguidores e que possui uma marca própria, postou em seu Instagram falas se referindo às confecções do bairro do Bom Retiro, em São Paulo, como sinônimos de má qualidade e de processos obscuros, ignorando toda sua importância para o mercado nacional e toda a história e trabalho das diversas famílias e funcionários que movem o mercado da moda brasileira. 

    No stories postado em seu Instagram (já apagados) ela compara uma suposta cópia de uma jaqueta de sua marca por uma marca do bairro, ressaltando que seriam de baixa qualidade por ser de uma confecção de lá. A fala da influencer reforça estereótipos e preconceitos sem medir o impacto das consequências do que diz para seu milhões de seguidores. Os posts incomodaram lojistas, atacadistas e outras influencers que apontaram em suas redes o quão preconceituosa e desinformada fora Nati. Vale lembrar que muitas dessas mesmas empresárias já haviam contratado a blogueira para fazer presença vip em lojas ou postar as peças no seu Instagram, por acharem se tratar de uma voz de respeito e merecedora de seus investimentos.

    A ABIV – Associação Brasileira de Indústria do Vestuário – que representa mais de 1.500 lojistas do bairro (que geram mais de 100 mil empregos diretos), enviou uma nota judicial para a assessoria da influencer pedindo que se retratasse em vídeo sobre a injúria que cometeu. Lágrimas correram sob o filtro do Instagram e Nati postou os pedidos de desculpas exigidos.

    Uma Breve História do “Bonra”

    O bairro do Bom Retiro, na capital paulista, é conhecido por ser a casa de centenas de fábricas, confecções e marcas de roupa de atacado. E sua história já começa com a fundação de uma indústria de fiação e tecelagem, em 1884. Já nos anos 20, a maioria dos imigrantes judeus que vieram para o Brasil se instalou no bairro. O Bom Retiro oferecia diversos atrativos por ser próximo a Estação da Luz e do centro da cidade e ter terrenos mais baratos por ser um reduto operário. Esses imigrantes já eram comerciantes em suas terras natais e, por isso, começaram a exercer seus ofícios no bairro. Dos anos 30 aos 50, o Bom Retiro já abrigava diversas lojas e fábricas, como também edifícios residenciais, estabelecendo assim, uma colônia judaica nos moldes da Europa Oriental.

    A chegada dos imigrantes coreanos aconteceu no começo dos anos 60 e, diferente dos judeus que habitavam por lá, eles foram com o intuito de trabalhar. A maioria dos recém-chegados nunca tinha trabalhado com confecção, mas, como era um trabalho que tinha a possibilidade de empregar toda uma família, eles começaram a praticar o ofício. Hoje 70% das empresas, cerca de dois mil negócios no bairro, pertencem a eles segundo o guia do Bom Retiro.

    O Retiro da Moda Brasileira

    No Bom Retiro está concentrada a grande maioria dos fornecedores de roupas e tecidos das lojas que ocupam os shoppings do país, mas poucos consumidores sabem disso. Parte por uma suposta perda de valor agregado, pois ainda ligamos o nome do Bom Retiro à baixa qualidade e trabalho mal feito devido ao modelo de negócio de venda em volume, preço baixo e com foco no atacado, inclusive para marcas conceituadas.

    Mas porque fazemos isso? O preconceito somado à falta de interesse geral em relação às confecções populares do bairro e sobre quem faz a nossa própria roupa, contribuem para julgamentos como o feito por Nati publicamente e o de muitas pessoas do mercado de moda nas conversas offline.

    A responsabilidade sobre as falas carregadas de preconceitos e inverdades por parte de pessoas que se colocam como influenciadores deve servir como ponto de reflexão não só para outras influencers mas também consumidores e profissionais do mercado de moda. É preciso rever nossos preconceitos também dentro da indústria, porque é exatamente isso que impede que a moda brasileira seja de fato democrática. Isso compromete a justa competição, causa a desvalorização e desperdício de talentos e fecha portas para a diversidade da moda em todos os seus sentidos.

    *OS ARTIGOS DE PONTO DE VISTA SÃO DE EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES E NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DESTE SITE.
    Não deixe de ver
    GAP se juntou a Palace Skateboards em coleção de estética nostálgica
    Phoebe Philo dá sua primeira entrevista em 10 anos
    Jean Paul Gaultier escolhe o novo nome para seu desfile de alta costura
    Brasil na final de concurso de moda da Shein, Riachuelo como a marca oficial do Lollapalooza 24, a primeira linha de maquiagem da Celine e muito mais
    Clássico e atemporal, o trench coat é favorito para dominar a nova estação
    Gentle Monster: um olhar nada óbvio
    Karl Lagerfeld: série que conta trajetória do estilista ganha data de estreia
    Damyller celebra 45 anos com coleção-cápsula e campanha com o ator Leandro Lima e Marcelia Freesz
    Ye, Charli XCX e Mia Khalifa estrelam novo lookbook de Y/PROJECT
    Vermelho: a cor de 2024