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    Paulo Martinez lança livro “Moda é F#%@”

    Editor de moda revê 33 anos de carreira: “Não queria ser só mais um”.

    Paulo Martinez lança livro “Moda é F#%@”

    Editor de moda revê 33 anos de carreira: “Não queria ser só mais um”.

    POR Redação

    “Moda é F#%@”, diz o título do primeiro livro de Paulo Martinez, mas bastam alguns minutos de conversa para entender que, para o editor e stylist, moda é, acima de tudo, amor: “Graças a Deus, eu faço o que amo! Amo, amo, amo!”, ele repete durante entrevista ao FFW sobre a obra lançada na terça-feira (04.02) na Livraria Cultura do shopping Iguatemi, em São Paulo.

    O livro, publicado pela Luste Editores (a mesma de “Ui!”, de Regina Guerreiro) com patrocínio das Lojas Renner, revê os 33 anos de carreira de Paulo Martinez, desde a “Moda Brasil” até a “ffwMag!”, passando por revistas como “Vinte”, “Vogue”, “Elle” e “Marie Claire”. O produto final, de 336 páginas de 34 cm de altura, é imenso – e lindo. O economista, empresário e colecionador de design Waldick Jatobá ajudou com a edição de imagens, e a diretora criativa Graziela Peres e a diretora de arte Renata Mein (ambas trabalham com Paulo há anos na “ffwMag!”) criaram boas soluções para a apresentação de um portfólio tão rico e diversificado. Em vez de seguir uma ordem cronológica, a obra é montada em contrapontos: por exemplo, em uma página à esquerda, está uma foto de Paulo, criança, vestido de índio em 1966; à direita, a mesma temática, mas em um editorial de 2013.

    Página do livro “Moda é F#%@”, do editor Paulo Martinez: à esquerda, foto de Paulo em 1966; à direita, editorial da “Pulp” de 2013 ©Divulgação

    Mais do que imagens, a publicação é recheada de histórias: as dos próprios editoriais (Paulo compartilha algumas mais abaixo) e as contadas por pessoas que fizeram e fazem parte da história do editor, como Regina Guerreiro, Paulo Borges, Alexandre Herchcovitch, Bob Wolfenson, Carol Trentini, Costanza Pascolato, Fabio Bartelt, Giovanni Frasson… a lista é longa e a emoção é muita. Um trecho do relato de Shirley Mallmann: “O Paulo foi o stylist do meu primeiro trabalho em São Paulo (…). Eu era tímida, tinha acabado de chegar na cidade e o Paulo, com seu jeitinho querido, fez eu me sentir relaxada. Nunca esqueci. O fato de ele ter um coração tão bom foi o que mais me marcou. Recentemente me contou uma coisa muito engraçada, disse que quando me viu entrar no estúdio pela primeira vez, pensou: “Meu Deus, o que vou vestir nessa mulher enorme?” (risos).”

    Confira abaixo histórias que Paulo Martinez compartilhou com o FFW sobre alguns editoriais selecionados para o livro “Moda é F#%@”:

    “Amo essa, é da “ffwMag!” Pernambuco. A gente foi fazer a revista toda lá. Amo o traje do Maracatu, e queria fazer uma matéria com eles. Fomos pro sertão de Recife, e eu queria trazer essa notícia de Brasil, que é tão grande e tão lindo, mas fiz uma brincadeirinha: todo o gestual da menina é em cima do gestual da Patti Smith. Tem uma foto que a Patti está agachada num banco junto com o Robert Mapplethorpe; eu pus a modelo agachada no banco, só que com o grupo do Maracatu. Adoro fazer essas dualidades.” (foto abaixo)

    Editorial da “ffwMag!” Pernambuco, parte do livro “Moda é F#%@”, do editor Paulo Martinez ©FFW

    “Aqui é uma foto do Bob [Wolfenson] que fiz em cima do “O Crime do Padre Amaro”, mas com uma subversão: no livro, o padre se apaixona por uma mulher, e aqui fiz uma brincadeirinha — supostamente, seria uma paixão homossexual, porque no começo da matéria você não descobre se a Carla é uma menina ou um menino, e aí vai se revelando aos poucos que é uma mulher. A matéria toda foi inspirada no livro e nas fotos do Irving Penn e em um fotógrafo peruano chamado Martin Chambi.” (foto abaixo)

    Editorial da “ffwMag!” Corpo e Alma, parte do livro “Moda é F#%@”, do editor Paulo Martinez ©FFW

    “Essa é a “ffwMag!” Bahia. Fiz essa mulher vagando por Salvador, pagando seus pecados, por isso que ela tem esse cabelo gigante, porque ela fez uma promessa de não cortar o cabelo; e é uma viúva, está sempre de preto ou branco. Essa história é linda – tudo na minha cabeça (risos). Não me importo [se as pessoas não enxergam a história], porque mesmo assim essa imagem vai te dar um impacto. Por isso falo que os fotógrafos são meus aliados: eles têm que ler a minha alma. Se ele não entender o que eu estou falando, não vai sair a matéria.” (foto abaixo)

    Editorial da “ffwMag!” Bahia, parte do livro “Moda é F#%@”, do editor Paulo Martinez ©FFW

    “Essa matéria é de uma revista gringa, a “Pulp”, e o tema era Brasil. Quis fazer um retrato das meninas do Brasil e usar a chita, e fui inventando personagens: a Baiana, a Garota de Ipanema, a Mãe de Santo. Fiz um Noel Rosa com essa menina que amo, de terno, com a gravata de chita. Fotografamos no estúdio sem nada, aí eu ia pedindo pro cara que tomava conta lá: “Você não tem um prato com uma cebola?”, e ele me emprestava. “E uma bacia com sabão?”, daí fiz a lavadeira. “Você tem um facão?”. E ele: “Tenho esse”. “Esse é perfeito”, daí fiz a Maria Bonita.” (foto abaixo)

    Editorial da “Pulp”, parte do livro “Moda é F#%@”, do editor Paulo Martinez ©FFW

    De sua relação com Regina Guerreiro aos cortes de luz em nome da moda, confira abaixo trechos da entrevista que Paulo Martinez concedeu ao FFW:

    Sobre Regina Guerreiro: “Acho que vou sempre ser um assistente da Regina, aprendi muito com ela, está implícito o “assistente” na alma. Uma coisa que ela sempre nos ensinou foi ter as nossas próprias referências — e isso você só tem com a maturidade, porque vai acumulando informações. Ela sempre mostrou livros de fotografia e de arte e dizia que a pesquisa estava ali, naquelas imagens; faço isso até hoje e não abro mão.”

    Sobre Paulo Borges: “Ele conta no prefácio que fez a “ffwMag!” pra me dar de presente, o que é uma honra, né. A gente conversava muito das revistas mais comerciais, da falta de generosidade da imagem, da mesmice, do cardápio ser sempre igual… então ele teve a oportunidade de inventar essa revista e eu sou o editor desde o número um. Sem a “ffwMag!”, nada disso estaria acontecendo.”

    Sobre trabalhar com moda no Brasil: “O Brasil é um país muito cruel. Um homem de 50 anos que gosta de moda nunca vai ser editor de uma revista comercial. Tem sempre a menina it-girl que é mais interessante como imagem praquela revista. Mas o mundo é comandado por loucos; temos loucos espalhados por toda a História. E a Regina Guerreiro é uma louca que me fez virar editor, e o Paulo Borges é outro louco, que acreditou e acredita no meu talento e me deu uma revista como a “ffwMag!” de presente. A vida inteira fiz isso, há 33 anos trabalho com moda, e eu não queria ser só mais um. Queria ter uma historinha pra contar.”

    Fotos de família e relato de Paulo Martinez no seu livro “Moda é F#%@”, publicado pela Luste Editores ©Divulgação

    Sobre ego e auto-crítica: “Olho muito pra trás. Não com um peso da palavra saudade, não com um saudosismo bobo; mas como referência. Acho que a gente não faz nada novo se não olhar lá, até pra você refazer aquilo com uma linguagem de hoje, sabe? Olho muito pras coisas que já fiz. Isso é bom? Não sei, mas me avalio muito. Sou muito crítico com meu próprio trabalho, não acredito em nada. Tudo poderia ser melhor, o hype não rola.”

    Sobre o “estilo Paulo Martinez”: “As pessoas falam que “o Paulo tem uma assinatura muito forte”. Não sei o que isso quer dizer, e não sei se é bom ou ruim. Sei que já passei por todas as revistas, fiz nos anos 80, 90, 2000, faço coisas completamente diferentes, e acho que sei interpretar a mulher pra cada revista — não sou o louco que só sabe fazer “ffwMag!”. Acho que não tenho uma assinatura e não quero ter, também. Acho que prefiro ser essa metamorfose ambulante (risos). Não é melhor do que você ser um stylist de um só trabalho?”

    Sobre diversão no dia-a-dia: “Ah, eu não me levo a sério. A palavra trabalho tem um peso tão grande, que se a gente não for se divertir… e graças a Deus, eu faço o que amo! Amo, amo, amo. E me divirto mesmo, as minhas fotos têm muitas entrelinhas, mando recados por elas, dou um aviso, tiro sarro. Adoro usar isso pra falar as minhas verdades, as minhas brincadeiras. Amo, amo, amo.”

    Sobre o amor à moda: “Agora a minha vida está um pouquinho mais em ordem, mas eu tinha tanta sede, tanta fome de fazer, de virar, de acontecer, que recebia ordem de despejo porque não pagava o aluguel. Minha luz foi cortada n vezes, o condomínio atrasava… era uma coisa ou outra! Eu ganhava tão pouco, não tinha dinheiro pra nada, e preferia comprar um livro que ia me alimentar a alma do que fazer supermercado. Tive muita sorte por ter amigos generosos, que nessas horas me davam muita força. Mas fui deixando a vida me levar e não me arrependo. Nunca pensei em mudar de carreira, não sei fazer outra coisa. Sou professor de Educação Artística, né, fiz magistério, licenciatura. Nunca nem fui buscar meu diploma (risos).”

    Lançamento do livro “Paulo Martinez: Moda é F#%@”
    Dia 4 de fevereiro de 2014, das 19h às 22h
    Livraria Cultura – Shopping Iguatemi
    Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2232, Jardim Paulistano
    São Paulo

    LIVRO: “Paulo Martinez – Moda é F#%@”
    Editora: Luste Editores
    Patrocínio: Lojas Renner
    Número de páginas: 336
    Dimensão: 25×34 cm
    Preço: R$ 85
    O livro tem distribuição nacional com foco nas livrarias Cultura, Saraiva, Travessa, Livraria da Vila e Fnac. Ele também pode ser comprado pela internet. SAC da Luste Editores: (11) 2385-9600

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