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    “Precisamos nos unir para transformar a moda no Brasil”, diz Vitorino Campos
    “Precisamos nos unir para transformar a moda no Brasil”, diz Vitorino Campos
    POR Redação

    Vitorino Campos em seu ateliê ©Lucas Assis e Paula Reis

    Vitorino Campos, de 24 anos, nasceu em Feira de Santana, mas desde pequeno vive em Salvador. Ele se formou em Design e Gestão de Moda e, desde 2012, integra o line-up oficial do SPFW. Em janeiro, durante uma tarde ensolarada em São Paulo, o entrevistamos para a matéria “Nova Brasilidade”, publicada na 33ª edição da “ffwMAG”, que está nas bancas.

    Publicamos na íntegra o bate-papo que tivemos com Vitorino, em que ele fala de como se envolveu com moda, além de compartilhar parte de seu processo criativo e suas opiniões sobre o mercado brasileiro. Leia abaixo e conheça melhor esse jovem talento brasileiro.

    Como e quando você começou a trabalhar com moda?

    Na verdade, fui criado entre a fábrica de uniformes da minha mãe e o ateliê de costura da minha tia, onde ela fazia roupas sob medida. O meu dia-a-dia era dentro da fábrica com a minha mãe e, assim, desde cedo, eu convivia com matérias-primas, linhas e tecidos. Quando tinha uns 12 anos, minha mãe tinha uma loja de t-shirts, onde ela só vendia camisas básicas, que eu comecei a estampar. Com 16 anos, eu abri a minha própria loja, que se chamava Tap Rumbeira e era [como] um laboratório para o que hoje virou a Vitorino Campos. Era uma coisa muito divertida, eu fazia roupas para as minhas amigas do colégio, fotografava com elas, era muito legal, e minha mãe sempre me deu muita liberdade para isso.

    Entrei na faculdade com 19 anos e fechei a loja porque não estava conseguindo conciliar, mas, em 2008, criei a Vitorino Campos, antes de me formar, apresentei minha primeira coleção em 2008 no Barra Fashion, em Salvador; em 2009 apresentei no Rio Moda Hype; em 2010 e 2011, no Dragão Fashion, em Fortaleza, e, em 2012, já entrei para o SPFW.

    Coleção de Primavera/Verão 2013 de Vitorino Campos, a primeira apresentada por ele no SPFW ©Ag. Fotosite

    A sua sócia, Natália Trocoli, entrou na marca desde a fundação, em 2008?

    A Natália sempre esteve comigo, é minha grande amiga, e entrou comigo como sócia há dois anos.

    Qual a estrutura da Vitorino Campos hoje? A marca tem lojas ou só vende em multimarcas? E quantas e quais são essas multimarcas?

    Abrir loja própria está nos planos, mas não para um futuro próximo. Estamos projetando, articulando; se abrirmos loja própria, com certeza, vai ser em São Paulo. Também não estamos pensando ainda em e-commerce, até porque estamos super alinhados com os dois pontos de venda online que temos: a Farfetch e o Moda Agora.

    Estamos em 35 pontos de venda no Brasil. As principais [multimarcas] são a Dona Santa, em Recife; a Ana Paula, em Brasília; em Salvador, estamos na Paradoxus e na Martha Paiva; e na Alberta, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, na Choix, Lita Mortari e na claudeteedeca.

    Quantas pessoas trabalham na marca hoje?

    A equipe é de 25 pessoas mais ou menos, a maioria em Salvador.

    Você não pretende se mudar para São Paulo?

    É uma loucura, é uma coisa que penso todos os dias antes de dormir, mas a gente já tem instalações em Salvador, então não sei como isso pode acontecer. Acho que começar uma produção em paralelo em São Paulo pode ser o primeiro passo para depois uma mudança.

    Como funciona o seu processo criativo e a posterior produção das peças?

    O criativo, na verdade, eu tenho alguns cadernos em que fico escrevendo sobre tudo, do que estou lendo às coisas que vejo ao redor e penso, ou sobre um disco que achei bacana. E sempre existe um start que “linka” todas essas histórias, é sempre uma música, eu gosto muito de música e só consigo desenhar ouvindo música, tem uma conexão. Toda vez que eu faço uma prancha sobre a coleção, que eu vou apresentar para o pessoal do showroom ou nosso stylist, Michael Vendola, na última prancha sempre coloco as referências musicais, todas que eu ouvi para construir aquilo. A música se torna a base do desenvolvimento da coleção, incluindo da cartela de cores.

    Óculos de Vitorino Campos acima de um de seus croquis ©Lucas Assis e Paula Reis

    A produção é feita na nossa fábrica em Salvador. Trabalhamos com uma mão-de-obra muito específica, então a gente quer cuidar do nosso crescimento para não perder em qualidade. Hoje todas as nossas roupas são feitas em cima de costura francesa, inclusive o acabamento. Eu supervisiono tudo na fábrica, até um tom de linha que está pendurado em uma roupa que já está pronta. Chego super cedo na fábrica, umas 6h30, antes das costureiras, olho o que vai para as máquinas, aliás, olho até como a roupa está dobrada na embalagem.

    Qual você considera a expertise da marca?

    Saia lápis é a nossa peça chave e que vende muito bem. As listras se tornaram uma coisa muito forte também [na marca], inconscientemente as mulheres estão procurando as listras, então até no sob medida as mulheres pedem listrado. Já fizemos até vestido de madrinha de casamento listrado, isso foi uma coisa que foi acontecendo, meio acidental. Eu tenho uma ligação muito forte com as listras, não sei o porquê.

    Coleção de Outono/Inverno 2013 de Vitorino Campos ©Zé Takahashi/Ag. Fotosite

    E quais materiais você mais utiliza e que identificam a marca?

    A gente trabalha muito com as bases de seda, seda natural, algodão e linho. Gosto muito dos tecidos mais naturais.

    Como ser baiano e, principalmente, brasileiro influencia/interfere na sua criação?

    Eu acho que existem alguns pensamentos que vestem uma mulher em qualquer lugar do mundo, ela quer ficar bonita de qualquer forma, independentemente do tipo de beleza que ela deseje. Então existem algumas coisas básicas de uma forma, por exemplo, acho que elas gostam de ter a cintura valorizada, então você parte desses princípios. A minha roupa é muito simples, […] por essa simplicidade a gente consegue uma linguagem mais abrangente e eu acredito que o acabamento da roupa é o que a torna realmente universal.

    Eu me inspiro em Salvador, mas a gente não precisa ser clichê e fazer uma roupa cheia de casinhas do Pelourinho. Eu me inspiro em Salvador no meu dia-a-dia, […] tudo é como você enxerga o seu dia, […] quando você desenvolve uma coleção baseada em comportamento, independe do lugar [da qual ela é criada].

    Como você insere técnicas regionais, se é que você insere, na sua marca?

    Eu acho que o trabalho artesanal que eu uso é da costura a mão, muitas peças são feitas a mão e, na verdade, eu já utilizei o trabalho das rendeiras de Saubara, uma coisa bem específica por dentro de camisaria de organza, e já usei um trabalho de folhas e flores recortadas, que são umas senhoras de Salvador que fazem. Mas, assim, eu não faço disso uma coisa fixa.

    Você acredita que a universalidade é uma característica da sua geração?

    Pode ser. A gente hoje viaja muito mais, então começamos a ter contato com tudo. A internet e a velocidade da informação fazem com que saibamos o que o pessoal de outros lugares do mundo estão fazendo, usando, etc.

    Como você sente o mercado de moda brasileiro hoje?

    Produzir no Brasil é muito difícil. A gente não tem mão-de-obra e nem ajuda ou incentivo do governo para absolutamente nada, ponto. Precisamos nos unir para transformar isso, e a moda é muito nova no Brasil.

    Coleção de Primavera/Verão 2014 de Vitorino Campos ©Divulgação

    Quem é a consumidora da Vitorino Campos?

    Eu já parei para pensar nisso, mas acho que a gente está vivendo em um mundo tão plural que é difícil definir quem é a cliente, acho que não existe mais isso. Eu acredito que [a consumidora da marca], na verdade, está ligada no acabamento e não em uma estética ou estereótipo específico. Acho que pode ser uma fotógrafa incrível, que pode estar usando uma camisa de seda maravilhosa e fotografando jogada no chão, ou uma mulher que está em uma sala de reunião ou até uma adolescente que saiu para ir ao cinema.

    Quais as suas referências e inspirações?

    Eu leio sobre tudo, sempre li que a gente tem que ler até bula de remédio. E eu realmente leio. No cinema, eu amo Almodóvar; no balé, eu amo a Pina Bausch; na música, eu amo a Meredith Monk, Maria Betânia, Caetano Veloso, Marisa Monte e Nana Caymmi. Clarice Lispector, na literatura. Na moda, Rei Kawakubo e Jil Sander.

    + Leia na íntegra a matéria “Nova Brasilidade”, da 33ª edição da “ffwMAG”

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