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    SPFW 52: a edição mais diversa da história do evento

    O nosso balanço geral da edição marcada pela maior presença de estilistas negros, diversidade na passarela e fora delas

    SPFW 52: a edição mais diversa da história do evento

    O nosso balanço geral da edição marcada pela maior presença de estilistas negros, diversidade na passarela e fora delas

    POR Luxas Assunção

    Antes do retorno às atividades presenciais, se especulava muito sobre a volta dos desfiles IRL. Seriam eles ainda capazes de emocionar e gerar resultados de mídia como antes? E os avanços advindos do digital, como ficariam? 

    A mais recente edição do São Paulo Fashion Week, a de número 52, que aconteceu entre os dias 16 e 21 deste mês, pode nos ajudar a responder algumas dessas perguntas. Mas vale começar dizendo que sim, os desfiles presenciais ainda conseguem emocionar como antes – e talvez até mais.

    A edição ocorreu em formato phygital, com mais de 50 marcas se apresentando durante cinco dias. A abertura aconteceu no lindo prédio da Pinacoteca, com a vela estreia da P. Andrade e a semana seguiu no Pavilhão das Culturas Brasileiras, com um  encerramento diferente, no Rio de Janeiro, com a celebração aos 30 anos da marca de Lenny Niemeyer.

    A semana foi marcada por uma atmosfera de reencontros e bastante calorosa nos corredores e backstages da SPFW. Todo mundo parecia muito emocionado e feliz em estar de volta, rever amigos e colegas de trabalho e do mercado que, depois de quase dois anos, já estavam em outras redações, empresas e momentos de vida.

    Uma MUDANÇA bemvinda

    Este SPFW foi o mais diverso e representativo da história do evento. “A gente teve uma temporada muito simbólica, como o início de uma revolução não de diversidade, mas de inclusão”, conta Natasha Soares, fundadora do Pretos Na Moda que, no ano passado, firmou um acordo com a SPFW para garantir um casting de pelo menos 50% de modelos racializados nos desfiles de todas as marcas do evento. O resultado ficou ainda mais claro nas passarelas presenciais do que nas digitais. 

    Ao lado de Rafael Silvério, Natasha também é uma das idealizadoras do Projeto Sankofa, que, em sua segunda edição no evento e primeira presencial, levou sete marcas racializadas para as passarelas do evento. Ainda, no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o line-up presencial contava com maioria de marcas de criadores pretes: Silvério, AZ Marias, Mile Lab, Angela Brito, Apartamento 03 e Isaac Silva, que fez o grande desfile de encerramento no Ibirapuera. 

    Isaac Silva na SPFW. Foto: Zé Takahashi/Ag. Fotosite

    Isaac Silva na SPFW. Foto: Zé Takahashi/Ag. Fotosite

    De fato, a edição entra para a história como uma das mais inclusivas da trajetória do evento: “Diversidade não é mais cabível a esse ponto, estamos praticando inclusão. Diversidade já virou enfeite”, diz Natasha. E é esta mesma inclusão que traz um novo e bem vindo gás ao evento. 

    Nessa edição, as novas vozes da semana de moda chegaram com os dois pés na porta. Com um casting realmente inclusivo, majoritariamente preto, com pessoas gordas, PcD e pessoas mais velhas, a Meninos Rei emocionou logo no primeiro dia de apresentações do Sankofa e foi aplaudida de pé por um público emocionado que celebrou as exibições de “Fora Bolsonaro” no telão. Walério Araújo criou uma coleção inspirada em Noite Ilustrada, tanto o sambista quanto a coluna de Erika Palomino, que trouxe a cena underground e LGBTQIA+ para as páginas do jornal Folha de SP nos anos 90. Naturalmente, o público e o casting estavam repletos de notórias figuras (atuais e históricas) da noite e comunidade LGBTQIA+. 

    A pluralidade de corpos também foi pauta na edição. Vimos mais modelos plus size e gordas do que em outras edições. A marca AZ Marias, por exemplo, colocou essas mulheres em lugar de protagonismo em seu casting e Rita Carreira foi recordista de desfiles.

    Sankofa - Az Marias - SPFW N52 Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE

    final da Az Marias na SPFW N52 Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE

    Mas ainda há um longo caminha a percorrer

    Apesar disso, ainda não estamos lá. Quem reforça isso é a paulistana Milena Lima, da Mile Lab. O desfile da marca começa com uma poesia falada de Breno Luan, que conta sobre as dores do racismo e do preconceito, precedida de uma fala bastante emocionada de Milena em seu filme em que diz que “não sabe se vai dar conta”. Fluxo Milenar, nome dado à coleção, se inicia então com as latentes batidas do funk e um desfile sem regras onde os modelos, amigos da marca e de Milena, desfilavam, performavam e dançavam o passinho com uma irreverência contagiante.

    Sem rodeios, a apresentação da Mile Lab mostrava a cultura periférica, de forma sincera e crua. Em um discurso emocionante que levou boa parte da plateia às lágrimas, Milena conta sobre as dificuldades de ser uma marca preta e periférica na maior passarela da América Latina, em um evento tradicionalmente branco e elitizado. 

    A criadora questiona inclusive, seu lugar no SPFW, a falta de recursos e de apoio; a dificuldade de ocupar um espaço como esse e até mesmo sobre a necessidade ou não de ocupar espaços, em vez de criar outros espaços genuinamente inclusivos. 

    “Quando você chega em um lugar como esse, é um passo muito grande. Mas em que condições estamos nesse lugar, quanto vale a pena estar nestes espaços? Quais outras marcas aqui não estão remunerando seus funcionários? Eu costurei toda essa coleção sozinha em uma máquina de costura velha”, conta Milena em entrevista ao FFW no backstage. “Eu imaginei que iam tirar o papel da minha mão, pegar meu microfone, porque a gente tem que estar preparado para o pior, é sempre o que a gente recebe. Se alguém estava preparado para isso, eu não sei! Mas meu recado é: melhorem! Falar de representatividade nas redes sociais é mais fácil, mas na hora que precisamos de aliados não tem ninguém”, continua. 

    Milena Lima discursando ao final de sua apresentação pelo Sankofa - Mile Lab - SPFW N52 Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE

    Milena Lima, da Mile Lab discursando ao final de sua apresentação pelo Sankofa Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE

    Para Milena Lima, é importante que marcas pretas e periféricas possam ocupar as semanas de moda, se quiserem – ela inclusive conta que ficou emocionada com o convite do Sankofa, mas também pontua assiduamente a necessidade de ser não só um convite, mas um sistema de apoio e suporte para que esses criadores consigam ocupar de forma legítima esses espaços. 

    É justamente essa energia, de mudança e de novas vozes, que se ancorou fortemente na inclusão de novos corpos, raças, vozes e pessoas. É claro, não estamos lá ainda, a integração ainda não é regra e está longe de ser maioria, mas como Natasha Soares pontua: “para mim é uma edição que fica marcada como o início da mudança”. 

    Se falamos de inclusão, é preciso também falar da descentralização do eixo Rio-São Paulo e do Sudeste, também mais presente nessa edição entre marcas e designers. Nomes de diversas regiões de Brasil encheram os palcos da SPFW. Naya Violeta e Airon Martin (Misci), os primeiros estilistas do Centro-Oeste a se apresentar na semana de moda; a paraense Ana Luisa Fernandes e sua Aluf; da Bahia Isaac Silva, Meninos Rei, Ateliê Mão de Mãe e Santa Resistência, que trouxe sua cultura para as passarelas; a potiguar Depedro, que estreou digitalmente; o piauiense Weider Silverio; e, claro, o veterano Lino Villaventura, que há anos, capitaneava esse mesmo movimento, que hoje floreia.

    Isaac Silva na SPFW. Foto: Zé Takahashi/Ag. Fotosite

    Isaac Silva na SPFW. Foto: Zé Takahashi/Ag. Fotosite

    O ESPETÁCULO DIGITAL OU O PRODUTO FÍSICO?

    Se por um lado, shows como o do game Free Fire trouxeram o espetáculo e o audiovisual para as passarelas físicas, outras marcas colocaram o foco na excelência do produto. No vídeo e nas fotografias, nem sempre o produto ou a matéria prima são bem captadas. Com o retorno do presencial, a maioria dos designers deixaram um pouco o espetáculo de lado, nem que seja um pouquinho, e apresentaram produtos de construção e design primorosos. 

    Apartamento 03 - SPFW N52 Foto: Marcelo Soubhia/ FOTOSITE

    Apartamento 03 na SPFW N52 Foto: Marcelo Soubhia/ FOTOSITE

    Em entrevista no backstage, o mineiro Luiz Cláudio, estilista da Apartamento 03, conta que inclusive ‘segurou’ peças criadas ao longo do último ano para serem apresentadas no desfile, já que no vídeo, pareceriam “chapadas”. 

    Outras marcas como Weider Silverio, Neriage, Handred, João Pimenta e Misci – apesar de ter armado também um espetáculo – regozijam na possibilidade do público, ao vivo, conseguir ver o primor de construção de suas peças e escolha de materiais nobres. Por sua vez, João Pimenta apresentou uma coleção mais comercial, em contraste às coleções bastante conceituais que havia mostrado nas edições digitais, agora, as roupas mais “pé-no-chão”, mas igualmente bem construídas, conseguem ter o impacto que talvez não teriam se vistas unicamente pela tela do celular. 

    Weider Silverio também se assemelha ao caso. Após apresentar uma coleção no formato digital em sua estreia, o designer conta que sentiu a necessidade de criar uma reinterpretação da mesma, mais completa e para a passarela, um jeito de dar um novo olhar sobre a coleção que vimos no vídeo, agora com a possibilidade de ser vista de perto e ser tocada. 

    Backstage de Weider Silverio na SPFW | Ag. Fotosite

    Backstage de Weider Silverio na SPFW | Ag. Fotosite

    Se por um lado, o formato presencial beneficiou as marcas que pensam o produto em primeira instância, o formato digital, potencializado durante a pandemia, também trouxe a democratização. No digital não há hierarquia de Fila A ou B, todos sentam no mesmo lugar e assistem das mesmas condições em um movimento mais democrático da moda. Vale lembrar que a SPFW transmite seus desfiles pela internet desde meados dos anos 2000.

    Ao mesmo tempo, o formato híbrido do evento também teve como consequência uma maior visibilidade dos desfiles físicos sobre os digitais, algo que é ainda mais complexo quando percebemos que a maioria das apresentações virtuais foram de marcas pequenas ou médias, com menos recursos e que, naturalmente, teriam menos visibilidade.

    UM NOVO PÚBLICO NO SPFW

    Em virtude do novo recorte de curadoria de marcas da SPFW, um novo público também ocupou os corredores do evento. Uma audiência jovem, estilosa, autêntica e apaixonada por moda tomou o lugar que antes era praticamente ocupado por jornalistas e profissionais da indústria, da primeira fila às áreas de alimentação e corredores. É o público mais diverso que o SPFW já teve, tanto racialmente quanto em gênero, o que torna o evento ainda mais interessante. Seja a nova geração de influenciadores, jornalistas e personalidades da moda que cresceram e conquistaram espaços durante os últimos anos, dando novas caras às publicações, ou mesmo os convidados das marcas, muitas delas que chegaram pela primeira vez a ocupar esses espaços.

    Os rostos mais populares da  influência de moda não foram o maior público do evento, se limitando a aparições pontuais como convidados e até mesmo desfilando, como foi o caso de Thai de Melo. Novos rostos e vozes surgiram entre convidados da primeira fila, em contraponto coma ausência das celebridades digitais, como bem comentou Rener Oliveira, em post viral no último domingo, em que o jornalista questiona ausência das influenciadoras na SPFW, que não teriam interesse numa semana de moda mais inclusiva e engajada, enquanto voam para Paris para ver os desfiles europeus.

    Jojo Toddynho no backstage da Misci. foto: Augusto Mariotti

    Jojo Toddynho no backstage da Misci. foto: Augusto Mariotti

    É claro que não é uma edição só de acertos ou só de erros. Cabe às semanas de moda – não apenas nacionais – pensar como prosseguir com esses formatos, de forma a não perder as evoluções trazidas pelo digital e não voltarmos, sem mudanças, para o velho normal. 

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