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    “Take My Picture”
    “Take My Picture”
    POR Camila Yahn

    Bill Cunningham e Anna dello Russo, dois gurus do street style ©Reprodução

    Desde o enorme laço de Tavi que tapou a visão de editoras de moda no desfile de alta-costura da Dior em janeiro de 2010 até as acusações recentes de Suzy Menkes de que a indústria se transformou em um circo onde as pessoas vão para serem fotografadas, a guerra entre jornalistas e blogueiras não é de agora e não parece que vai parar tão cedo. “Atualmente, as pessoas que se aglomeram do lado de fora dos desfiles são mais pavões do que corvos. Elas posam em seus vestidos de padronagens múltiplas com plataformas ou botas que sobem até as coxas”, diz Menkes na sua crítica. A revista russa “Garage” resolveu transformar em uma espécie de documentário intitulado “Take My Picture”  todos os temas que vêm sendo discutidos sobre editores de moda, blogueiras, fotógrafos e “modelos” de street style. “Quando começamos o curta, a nossa intenção era apenas observar o fenômeno de blogueiros de moda e estrelas do street style. Assim que começamos a rever a filmagem, dois caminhos se tornaram aparentes: editores de moda frustrados pelo alarido à porta dos desfiles e o surgimento do “pavonismo” das estrelas de street style como resultado da proliferação dos blogs”, escreve a publicação.

    O filme, como a revista descreve, não pretende ser contra os fotógrafos de street style nem contra quem posa para fotos do tipo. Apenas pretende entender melhor o que mudou na natureza das coberturas das semanas de moda, o crescimento dos blogs de moda e todo o auê do street style. Com Tim Blanks, editor do site Style.com, como narrador, o curta discute e questiona temas que vão desde o fenômeno das top models substituindo o glamour do cinema no início dos anos 1990 até a democratização da moda pela internet, onde todo mundo está envolvido com tudo, participando da construção do imaginário coletivo da moda, passando ainda pela “pavonização” descrita por Menkes. “A primeira vez que filmamos moda no backstage foi em 1989 e tinha talvez três equipes de filmagem. Depois aconteceram as top models e de repente estavam 300 equipes no camarim. Essa foi talvez a primeira versão deste fenômeno, uma nova maneira de olhar para a moda. (…) Foi o que aconteceu nos início dos anos 1990, quando houve uma recessão – a moda oferecia esse escape, a Linda Evangelista era uma deusa. E é o que está acontecendo agora. Mas a rota de escape já não é você ser levado a um lugar onde nunca vai, é sobre envolver. Todo mundo está envolvido”, explica Blanks.

    Tommy Ton, um dos mais famosos fotógrafos de street style que também comanda o site Jak & Jil ©Reprodução

    Mas não é só. O fenômeno de street style pode ser vantajoso para um sem número de pessoas. Para designers e fotógrafos que não têm ainda nome no mercado, é um ótimo meio para saírem do anonimato. E até para designers estabelecidos, como Lazaro Hernandez e Jack McCollough, designers da Proenza Schouler, que afirmam que é  ótimo verem as roupas que criam nas ruas e nas pessoas (para não falar do marketing que conseguem muitas vezes despropositadamente). O fotógrafo Phil Oh recorda com saudades os velhos tempos de fotografia de street style. “Eu olho para as fotos que tirei em 2007/2008 e fico com lágrimas nos olhos de ver as Tuileries completamente vazias. Eu podia chegar em qualquer pessoa, a Anna dello Russo, a Carine [Roitfeld], Emmanuelle [Alt], dizer “oi” e construir uma relação com as pessoas que eu ia fotografar, agora parece uma trincheira de uma guerra”, diz no vídeo.

    Mas não é bom que a moda seja cada vez mais acessível? E que existam cada vez mais formas de divulga-la? A resposta ainda é incerta enquanto não se conseguir uma medida saudável que faça com que os frequentadores não esqueçam a verdadeira essência de uma semana de moda.

    “Eu acho amoroso ver tantas pessoas diferentes tão entusiasmadas com moda. Elas têm muita energia e entusiasmo e é bom para a indústria. Mas nesta temporada eu só pensei “chega”. Eu pensei muito nisso, de como chegou a esse ponto. Parte é por causa do reality TV, parte porque já não existem segredos sobre as pessoas, por causa do Facebook.  É um mundo onde tudo está na vitrine o tempo inteiro. Todos têm um blog, uma página no Facebook, e essa é outra coisa, você é parte do diálogo, você é parte do processo. É poderoso de uma forma engraçada, do mesmo jeito que o reality TV o é. Mas cria monstros, não cria deuses”, remata Tim Blanks.

    Assista abaixo ao curta criado pela “Garage”:

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