A série The Politician, de Ryan Murphy, é uma das maiores apostas da Netflix para este semestre. Os atores fizeram turnê por vários países, inclusive no Brasil, com a presença de Ben Platt e Zoey Deutch, dois dos personagens centrais do enredo. A série estreia nesta sexta (27.09) no país e o FFW teve acesso ao primeiro capítulo.
The Politician gira em torno das aspirações políticas de Payton Hobart, um estudante rico de Santa Barbara obcecado por ser presidente dos Estados Unidos. Cada temporada girará em torno de uma etapa política diferente em que seu personagem está envolvido. Mas essa vivência passa por assuntos muito atuais, como o privilégio sem fim – e muitas vezes sem ética – dos muito ricos (que pagam para os filhos entrarem nas melhores universidades, como fez a atriz Felicity Huffman, num escândalo recente) e questões que giram em torno de gênero e raça.
Em termos de estética, as ordens da direção eram construir um mundo “Gucci 2018 encontra Wes Anderson”, como descreve o designer de produção Jamie McCall – mas também poderia ser um House of Cards encontra Gossip Girl. Com toques cinemáticos tirados de Os Excêntricos Tenenbaums e A Primeira Noite de um Homem, Murphy e sua equipe criaram um mundo de luxo e requinte no sul da Califórnia.
Essas referências ficam bem claras não apenas na cenografia, mas também no figurino. Eles se complementam para ajudar a criar cada personagem e seu universo particular.
A série trabalha com duas figurinistas: Lou Eyrich cuida dos looks de Gwyneth Paltrow e Jessica Lange (ambas ótimas em seus personagens e com estilos bem marcantes) e Claire Parkinson responde pelo restante do elenco, também com um ótimo resultado. Num universo de ricos na Califórnia, há espaço para vários estilos: chiques, clássicos, cafonas, vintage, moderno, tímido ou solar, todos bem representados pelos personagens.
Ao menos pelo que nos conta o primeiro episódio, a série está fadada ao sucesso e não só voltados aos teens. Ela é é leve e engraçada, mas também sensível (Payton cantando para o amigo ♥) e dinâmica. Abaixo, contamos várias referências da equipe de produção para construir o universo de Politician.
Referências
Slim Aarons
A vibe, de modo geral, foi influenciada pela Califórnia dos anos 1970 e pela fotografia de Slim Aarons, que ficou conhecido por capturar a alta sociedade e a paleta suave de Palm Springs, uma grande influência em The Politician.
É de Slim Aarons (1916-2006) os melhores registros do jet-set americano dos anos 1960 e 1970. Isso porque o fotógrafo fazia parte das rodas mais difíceis de se infiltrar e conseguia com que todos ficassem à vontade, mesmo com a presença de uma câmera, fotografando socialites, magnatas e celebridades.
Sister Parish e Albert Hadley
Sister Parish foi uma decoradora de interiores, socialite e a primeira contratada a decorar a Casa Branca na era Kennedy. Apesar de ter ficado pouco tempo no posto, dizem que sua influência pode ser vista até hoje, especialmente no Salão Oval. Em 1962, Albert Hadley se juntou à sua empresa e trouxe um tom mais clean e formal às suas decorações.
Georgina Hobart (Gwyneth Paltrow)
Paltrow vive Georgina, a zelosa mãe adotiva de Payton, que desfila elegância da Costa Leste, com um toque equestre de Ralph Lauren. Sua primeira cena, com o vestido vermelho Oscar De La Renta para fazer jardinagem já é um momento icônico da primeira temporada, mas ela também está radiante no look verde esmeralda com joias étnicas acima. “Ela é muito colorida e também excêntrica, no sentido de riqueza”, diz a figurinista Eyrich sobre a personagem. “Ela pode usar um vestido vermelho Oscar De La Renta para cuidar do jardim, com luvas de jardinagem feitas sob medida, e um chapéu de jardinagem Halston. Ela usa joias com diamantes o tempo todo”.
Talitha Getty e Babe Paley
A personagem de Gwyneth foi inspirada por duas socialites icônicas: Talitha Getty e Babe Paley. Talitha foi uma musa da alta sociedade nos anos 60. Casada com o herdeiro do petróleo John Paul Getty Jr, ela viveu a vida louca ao lado de Yves Saint Laurent e Mick Jagger, baladas de ópio e festas intermináveis em Marrakesh. Ela morreu de overdose de heroína aos 30 anos, em 1971, em Roma. No período de um ano, também morreram Jimi Hendrix, Janis Joplin, Edie Sedgwick e Jim Morrison.
Já Babe Paley era a chique mais convencional que ficou por 14 vezes no topo da lista das mais bem vestidas nos Estados Unidos e em 1958 entrou para o Fashion Hall of Fame, organizado pela Vanity Fair. Paley comprava coleções inteiras de Alta Costura de marcas como Valentino e Givenchy e era dona de um estilo que muitas mulheres de sua roda e além buscavam imitar. “Eu nunca a vi não chamar a atenção de ninguém, o cabelo, a maquiagem, o charme. Você nunca se ligava no que ela estava vestindo; a gente apenas notava Babe e nada mais”, disse certa vez o estilista Bill Blass.
Payton Hobart
Os temas da série encontraram naturalmente um condutor no visual de Payton (Ben Platt). Parkinson usou muitas cores em Platt – ferrugem e azul-marinho, o que sinaliza um classicismo americano. As instruções de Murphy traziam temas como “ternos sob medida como segunda pele” e “nada de Oxfords”. Payton é um jovem impecavelmente apresentado, com nenhum fio de cabelo fora do lugar, que usa ternos coloridos e tênis Gucci. O quarto de Payton, por exemplo, formal e adornado, foi inspirado no quarto de John F. Kennedy Jr.
“Payton quer que as pessoas o vejam como acessível”, diz Parkinson. “Mas, na cena do debate, seu oponente River tem as mangas arregaçadas e Payton parece muito arrumadinho. Ele já está vestido para o sucesso, pensando no futuro, enquanto River está vestido para o momento e isso o torna acessível”.
Infinity
Para Infinity, interpretada por Zoey Deutch, a ideia era que sua avó a vestia um pouco como se ela fosse uma boneca. A direção que Murphy deu especificamente à figurinista foi de um “estilo algodão doce”, o que levou a uma coleção de roupas de tamanho maior e costuradas a mão, além de peças que sugeriam algo que passou de uma pessoa a outra. “Compramos muitas coisas e, então, nós mesmos as adornamos para que parecesse que ela havia feito algo como arte e artesanato com suas roupas”, conta Parkinson. “E então também a vestimos com várias coisas que achamos em brechós, coisas de alguém que realmente não está sintonizado com a época”.
Alice
“Fiz muitas roupas para alguns personagens, especialmente Alice”, diz a figurinista Parkinson sobre Alice, a menina do meio que integra o trio de melhores amigos e conselheiros políticos de Payton, James e McAfee. Alice é também a namorada e, ela espera, futura primeira dama. “Ela tinha um visual característico, Chanel, muito conservador – tipo mocassins com meias altas. Também fiz vários laços e tiaras para ela compor os looks.”
Mas um figurino que vai conquistando a gente ao longo do primeiro episódio é o de McAfee, vibrante, moderno, mas com um toque clássico e mais contido. “Era algo Gloria Steinham encontra David Bowie, com terninhos e cores pasteis”, diz Parkinson.
Gloria Steinem é uma jornalista americana, conhecida por seu engajamento com o feminismo e sua trabalho como escritora e palestrante, especialmente durante a década de 1960.