Na quarta (04.09), o designer sul-africano Thebe Magugu recebeu o Prêmio LVMH para jovens designers da Fundação Louis Vuitton, em Paris (mais de 19 mil candidatos se inscreveram no prêmio). Magugu receberá cerca de US$ 435 mil e também terá um suporte personalizado do grupo LVMH pelos próximos 12 meses. Alicia Vikander, vencedora do Oscar e estrela de campanhas da Vuitton, entregou o prêmio ao estilista de 26 anos.
Nascido em Kimberley em 1993 (um ano antes da abolição do regime opressivo do apartheid), Magugu mudou-se para Joanesburgo para estudar moda e fotografia, e lá ficou até que, em 2015, abriu a marca de moda feminina que leva seu nome.
Desde então, Thebe vem ampliando sua visão criativa e explorando o que significa ser um estilista jovem na África do Sul hoje. Suas coleções são inspiradas em temas como a condição atual da mulher, estudos de gêneros e tópicos relacionados à África e sua riqueza cultural, mas que passam longe de estereótipos que possam nos vir à mente, como estampas animais, bordados de miçangas e referências tribais.
“Quero criar roupas que misturem minha herança sul-africana com formas e proporções contemporâneas. Venho de uma cultura muito rica, com muito artesanato. Quero mesclar essas referências à minha perspectiva global. É um projeto que reflete uma África mais autêntica, que reconhece que estamos olhando para o futuro, abertos ao mundo”.
Magugu cria roupas lindas e contemporâneas, inclusive uma delas já entrou para o acervo do Fashion Institute of Technology (o casaco rosa que imita pele de avestruz), mas sua peça preferida é a que ele chama de Vestido Girl Seeks Girl, feito em 2018. “Uma mulher sul-africana chamada Karabo Mokoena foi assassinada pelo namorado e sua morte provocou uma conversa mais ampla sobre o status das mulheres no país”, conta à CNN. O vestido é ilustrado com a estampa de uma mulher chorando nos braços de outra. “Foi minha maneira de dizer que as mulheres precisam umas das outras mais do que nunca, porque realmente parecia que havia uma guerra entre elas”.
Vestido Girl Seeks Girl / Reprodução
Thebe desfila na South Africa Fashion Week e sua coleção mais recente, mostrada em fevereiro, foi ovacionada. Após 25 anos desde o fim do apartheid, muitos ainda veem a África do Sul através das lentes da violência e da desigualdade. Os projetos do estilista tentam mudar a perspectiva negativa das pessoas sobre seu país, trazendo uma visão mais liberal, moderna e para cima.
“Quando as pessoas ouvem falar da África do Sul, atribuem certos estereótipos a ela e isso faz parte de uma questão maior, que ignora as vastas contribuições que os sul-africanos deram à cultura global, seja ela médica, tecnológica ou artística”.
Com o propósito de mudar as percepções globais sobre a África do Sul, Magugu cavou seu espaço, mas quer levar com ele muitos outros jovens criativos, ampliando também a voz de seus colegas nesse renascimento cultural em seu país. Ele criou uma publicação anual chamada Faculty Press, com belos trabalhos de moda e fotografia criados por diversos jovens talentos. “Realmente não é sobre mim; trata-se de todos no país unindo-se para mostrar às pessoas a verdadeira face da África do Sul contemporânea”, diz à Vogue UK. A fusão dos pontos de vista da revista mostra uma cultura com visão de futuro, queer, criativa e inclusiva.
Este ano ele também foi descrito como líder de sua geração pelo corpo de jurados do International Fashion Showcase, em Londres, de onde saiu com o prêmio principal. Se 2019 foi o ano em que Thebe se destacou, esses prêmios e reconhecimentos parecem ser apenas o começo de uma longa jornada para uma pessoa que tem muito o que dizer e usa a moda para se expressar. “A moda pode ser um veículo de mudança muito poderoso para falar sobre questões urgentes. Portanto, com minhas próprias coleções, eu sempre tento ter uma estética, sim, mas também mostrar algo um pouco mais inteligente”. Vamos juntos.
