Por Elis Martini
Se para muitas pessoas fazer trinta anos é uma espécie de drama pessoal, época de rever prioridades e rumos profissionais, para quem segue uma carreira efêmera o dilema geralmente é ainda maior. Como as modelos lidam com a chegada da idade? Por que marcas e estilistas estão apostando em tops veteranas para seus desfiles e campanhas? O FFW conversou com quatro tops brasileiras para entender os anseios das profissionais.
“Quando eu estava para fazer trinta anos comecei com aqueles questionamentos pensando o que ia fazer da minha vida depois de ser modelo. Nada me chamava muito a atenção, mas desde pequena eu tinha um sonho de ser médica. Meu terapeuta na época falou que se era meu sonho eu deveria ir atrás e levar um dia de cada vez. Estou adorando”, explica Ana Claudia Michels, nascida em 1981, que hoje concilia a carreira de modelo com o quarto período da faculdade de Medicina.
“Essa profissão é cruel porque a gente começa muito nova, não tem uma personalidade forte ainda, não tem segurança suficiente e está envolvida num meio que tem muita crítica e cobrança. Minha autoestima é muito melhor hoje”, afirma a top.
Carol Ribeiro, nascida em 1979, concorda que as incertezas sobre o sucesso na carreira, que afligem as modelos mais novas, desaparecem com o passar do tempo. “Eu comecei a trabalhar com quinze para dezesseis anos e a gente escuta muito que a carreira de modelo é curta, que tem que aproveitar ao máximo. Mas quando você tem um cuidado com a imagem desde o começo eu acho que ela pode se prolongar. É uma carreira que é um ponto de interrogação do início ao fim. Você não sabe quando começa, quando acaba. Quando dá uma aquietada e você acha que não vai mais trabalhar começam a aparecer novos convites”, explica Carol, que está envolvida no projeto de um programa de TV que tem estreia prevista para julho de 2015.
Carol afirma que a retomada de modelos veteranas em campanhas e desfiles recentes faz parte dos ciclos da moda. “Eu não acho que a gente vai voltar para ficar, acho que é um momento em que os estilistas querem relembrar momentos deles mesmos. A gente está bem, está na ativa, tem um conhecimento corporal, sabe fotografar. É legal uma modelo mais velha para passar essa segurança. E também tem a nostalgia, a saudade dessa turma antiga. Nós nos divertimos, o clima é bom, não tem aquela obrigatoriedade, a gente já sabe onde chegou e até onde pode ir”, explica.
Esse apreço que o mundo da moda está tendo pelas modelos veteranas surpreende até as próprias tops. “É engraçado porque se há dez anos atrás me perguntassem se eu seria modelo aos trinta e dois anos eu responderia que não. Mas a verdade é que amo trabalhar e ser modelo até hoje”, confessa Talytha Pugliesi, nascida em 1982. “Quando comecei havia menos modelos dessa idade no mercado – e elas não trabalhavam tanto. Não havia espaço para modelos mais velhas, nem mesmo as super models tinham tanta evidência. As coisas mudaram de pouco tempo pra cá, principalmente lá fora. Aqui no Brasil ainda há um pouco de resistência em usarem mulheres mais velhas. Acho que até um pouco de preconceito”, diz Talytha, que também está investindo em uma carreira na televisão. “É uma nova paixão, quero muito ter uma carreira bem sucedida na TV, assim como tive na moda”, afirma.
Bom exemplo de top que trocou as passarelas pela telinha, Mariana Weickert afirma que não teve nenhuma crise quando chegou aos trinta. “Quando fiz trinta anos o mundo da moda não era mais minha prioridade. A maioria das mulheres teme essa idade, mas para mim foi muito esperado e festejado. Tu perde aquela ansiedade de adolescente, aceita melhor os teus defeitos e qualidades”, explica a modelo e apresentadora, também nascida em 1982.
“Não acho um paradoxo fazer trinta e continuar como modelo. É só um número, tudo depende de você estar cuidada, de querer continuar trabalhando. Como é uma carreira muito concentrada e intensa, aos trinta geralmente a menina já cansou. Não é que o mundo da moda cansou dela, ela é que cansou desse mundo. No meu caso eu parei porque aquilo não me fazia mais bem, eu precisava de outros desafios. Não era mais uma pessoa completa e feliz, então fui atrás de outras coisas”, completa Mariana, que hoje apresenta programas nos canais GNT e Band.