Coluna POTENCIALIDADES por Jal Vieira
Você já deve ter ouvido falar sobre o movimento afrofuturista. Se não ouviu, pelo menos já se deparou com referências estéticas desse movimento em clipes como os de Erykah Badu, Janelle Monaè e Missy Elliott.
O afrofuturismo teve seu pontapé inicial na década de 30 pelo músico e poeta Sun Ra. Mas só passou a ser conhecido e empregado com esse nome nos anos 90, a partir da publicação de um ensaio intitulado Black to the Future, de Mark Dery, um teórico branco. Trata-se de um resgate cultural, filosófico e artístico combinados com ficção científica e histórica da cultura e diáspora africanas.
A estética afrofuturista se pauta no vislumbre de um futuro preto estruturado e enraizado em sua potência ancestral. Ou seja, olhando para o seu passado para que só então seja possível construir um futuro. Esse pensamento converge com um símbolo Adinkra chamado Sankofa, que é representado por um pássaro que sempre olha para trás a fim de que consiga construir um caminho pela frente.
Um dos exemplos atuais mais fortes desse movimento pode ser visto na obra cinematográfica Pantera Negra com a representação da cidade fictícia de Wakanda, em que o futuro e estética da sociedade se baseiam em diversas tribos africanas.
Na moda, a estética afrofuturista se faz muito presente não só nos figurinos de grandes filmes, mas, também, em produções musicais como as da cantora Beyoncé, por exemplo, que em Black Is King – seu mais recente trabalho – resgata inúmeras referências ancestrais aplicadas em um material audiovisual potente e que se tornou um grande divisor de águas na música e na moda atuais.
Já no Brasil, temos grandes nomes que representam o movimento, como é o caso das cantoras Xênia França – baiana cujo primeiro disco é uma ode à diáspora preta – e de Ellen Oléria – brasiliense que tem um dos álbuns intitulado “Afrofuturista”, onde galga um caminho musical de ligação entre o passado e o futuro.
O Afrofuturismo tem papel fundamental na colaboração da disseminação e desmistificação da história e cultura pretas a partir do olhar do próprio povo preto, cujas vivências são respeitadas e perpetuadas a partir deste. Mais do que uma estética, o afrofuturismo é um rompedor de barreiras sociais e raciais impostas historicamente ao povo preto que, a partir deste, têm sua história contada por e tão somente por meio de seu próprio intelecto e voz.
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