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    Conheça a BRIFW, plataforma imersiva que quer apontar caminhos para a moda do futuro
    Identidade do BRIFW de Rodrigo Barja sobre arte de Gabriel Massan
    Conheça a BRIFW, plataforma imersiva que quer apontar caminhos para a moda do futuro
    POR Augusto Mariotti

    Uma das consequências da pandemia foi a aceleração no processo de digitalização da moda após uma longa resistência de algumas marcas, entre elas as gigantes do luxo. A quarentena fez com que o mercado de moda enfrentasse o desafio de repensar a integração de suas coleções com o meio digital. No mundo todo, semanas de moda se organizam para criar novas soluções para desfiles e showrooms diante da possibilidade de confinamentos intermitentes.

    Enquanto muitas marcas se digitalizam como forma de sobrevivência em novos tempos, outras cabeças já estão à frente trabalhando no que virá. E as tecnologias imersivas tem se mostrado o próximo grande passo nesse sentido.

    Um dos projetos mais interessantes nessa seara é a plataforma recém lançada Brazil Immersive Fashion Week, ou BRIFW, um ambiente online multicanal pensado para a interação entre designers, marcas e consumidores por meio de uma narrativa imersiva. A plataforma pretende reunir uma rede de jovens criadores, profissionais experientes e grandes empresas interessadas em construir oportunidades inéditas a partir dos impactos radicais que vivemos hoje.

    O projeto se estrutura em três pilares principais: entretenimento, serviços comerciais e educação e tem como objetivo criar pontes entre o design criado e produzido na América Latina e o mundo, promover o que está acontecendo de mais inovador e experimentar caminhos para o futuro da moda.

    O FFW conversou com Olivia Merquior, uma das fundadoras da plataforma ao lado de Lara Azevedo (Agência Noix), sobre o BRIFW e o que podemos esperar das novas tecnologias imersivas aplicadas à moda.

    Em que momento e porque você decidiu criar a plataforma imersiva?

    O primeiro insight aconteceu em 2017. Participei de uma edição do SXSW onde as empresas de tecnologia se aproximavam da indústria da moda. Foi a edição de lançamento da jaqueta conectada da parceria entre Google e Levis, teve Marc Jacobs no painel do Instagram, eventos da Vogue internacional, etc. Para mim ficou claro que o movimento de integração entre todas aquelas experiências de AR, VR e AI era caminho sem volta. Voltei ao Brasil, montei um projeto e comecei a conversar com as pessoas, mas não houve interesse. Mesmo propondo ações simples com QR code (algo tão comum hoje) há 3 anos atrás parecia assunto extra-terrestre para as empresas de moda. O assunto acabou ficando mais na teoria, permeando muitas das apresentações de prospecção de mercado da Dacri Deviati – todo mundo achava interessante como discurso de futuro, mas colocar na prática, ninguém animava.

    Em fevereiro desde ano, eu estava na Europa para as apresentações internacionais do Premiere Vision, onde eu continuava reforçando o tema da necessidade de maior integração entre tecnologias imersivas e conteúdos de moda. Em 3 anos muita coisa já havia evoluído e eu rascunhava cenários sobre os impactos do 5G na forma que contamos nossas histórias na sociedade. Foi quando o caso italiano tomou as manchetes e o mundo percebeu que aquela não seria apenas uma questão asiática. No inicio de março eu ainda estava por lá, a quarentena foi imposta na Itália, os desfiles começaram a ser cancelados, aquele desespero; e eu só pensava que talvez as pessoas estariam mais abertas a conversar sobre essas experiencias imersivas. Voltei, conversei com algumas pessoas, senti que era a hora certa e encontrei uma parceira perfeita para atualizar as ideias de 2017, a Lara Azevedo. Montamos uma equipe que ama o assunto e descemos para o fronte.

    “A principal transformação que vivemos hoje é o deslocamento da tecnologia para uma interação invisível.”

    Qual a diferença entre digital e imersivo?

    Digital vem de dedo, ou seja, algo que é digitado em um teclado ou mesmo acessado pelo toque. O mundo digital tem como característica a intermediação pela tela, seja ela, do computador, celular, relógio, etc. A principal transformação que vivemos hoje é o deslocamento da tecnologia para uma interação invisível. No mundo digital, o lugar da tecnologia é “aparentemente” claro: está nos produtos conectados com a internet e são acessados pelos nossos dedos. Esse mundo, me parece, se torna obsoleto junto com a velocidade 4G. Quando o acionamento da tecnologia dispensa digitais e passa a acontecer via reconhecimento facial ou voz, quanto a internet transborda do celular ou do desktop e passa aos móveis da sua casa, quando a Amazon dispensa caixas de pagamento em suas lojas, quando experimentamos a realidade aumentada via inofensivos óculos de grau, podemos dizer que estamos imersos. Não precisamos dos nossos dedos para acionar a tecnologia, nosso corpo se encarrega disso. Nesse momento, viveremos a tecnologia como se estivéssemos imersos em uma grande banheira de comunicação. O interessante é pensar qual foi o papel do “vestir” na década do 4G e vislumbrar o que será na década do 5G. (PS: A Korea do Sul já está avançada no 6G).

    “Se vivemos num mundo de personas híbridas, porque a moda deveria se limitar ao eu ‘real’ ?”

    O que você acredita que essas tecnologias podem possibilitar para a moda?

    Novas formas de contar histórias e expressar desejos individuais e coletivos. A tecnologia nos abre possibilidades inéditas de afetarmos as pessoas e criarmos caminhos de conexão. A moda para mim é sobre construir personagens e símbolos  A cada coleção estilistas e marcas narram um conto com personagens, cenários, diálogos. A partir dessas historias decidimos incorporar certas personas nas nossas interações sociais. Organizamos nossas estética todos os dias com a intenção de contar ao mundo o que somos e o que acreditamos. Assim como um personagem de um filme que faz sucesso e de repente um grupo de pessoas se reconhece e passa a adotar o mesmo visual. Nesse sentido, as tecnologias imersivas nos habilitam a contar nossas histórias de uma maneira mais integrada com a maneira que nos comunicamos todos o dias. A moda tem o poder de interpretar desejos e mudanças latentes na sociedade, oferecer novos personagens que nos inspiram a mudar e enfrentar o dia-a-dia. Criamos símbolos que uniformizam e diferenciam, que incluem e excluem, que agregam e segregam, e usamos os meios de comunicação para isso. Portanto, se a comunicação entra em um momento tectônico de realinhamento de linguagem, precisamos entender como serão construídas essas subjetividades e principalmente a abertura de experimentação na construção desses novos personagens. Por exemplo, a ideia de “avatar”  é muito mais do que um boneco de video-game, essa expressão atinge toda e qualquer representação do eu real, no virtual. Se vivemos num mundo de personas híbridas, porque a moda deveria se limitar ao eu “real” ?

    O que você tem visto acontecendo pelo mundo em termos de experiências imersivas e que podem transformar a forma como se comunica e se vende moda?

    Se quisermos, temos a possibilidade de tornar a moda um lugar mais democrático, inclusivo, divertido e principalmente sustentável. Democrático pois abre seu conteúdo para um número muito maior de pessoas; inclusivo pois cria subjetividades que extrapolam as restrições estruturais do fisico, divertido pois transforma a roupa em mídia interativa com milhões de novas oportunidades criativas e principalmente sustentável pois desmaterializa os descartes das produções físicas e deslocamentos excessivos.

    Tenho extrema curiosidade sobre o entrelaçamento do mundo real com o virtual, e isso também me faz consciente dos seus dilemas, principalmente quando pensamos em brain control para fins de marketing e hiper consumo. A tecnologia nos abre portas para amplificarmos nossa criatividade e experimentarmos novas formas de experiência humana, mas precisamos manter um estado de vigilância permanente para não nos transformamos em meros “consumidores de dados”. Dito isso, vi na semana de moda de Xangai, em abril, exemplos incríveis do uso de tecnologias imersivas para apresentação e venda de coleções, destacaria a da Angel Chen, Reality Check, e as ações comerciais do TMall. 

    Além disso, uma das partes mais prazeirosas desse novo projeto é interagir com um grupo de artistas digitais, muitos auto-ditadas, que vem oferecendo propostas estéticas libertas das amarras do mundo real. São novos corpos possíveis, novos mundos a serem desbravados, estéticas que podem “assustar” muitas pessoas hoje, mas tudo o que é realmente novo é por definição, estranho. Acredito que a juventude tem esse papel, questionar o que foi estabelecido como normal. E moda é sobre isso, abrir caminhos.

     

     

     

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