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    A Moda pela Água: nova plataforma quer unir o setor em busca de soluções para a crise hídrica
    Foto: Reprodução
    A Moda pela Água: nova plataforma quer unir o setor em busca de soluções para a crise hídrica
    POR Camila Yahn

    Em meio a semana do meio ambiente, aproveitamos para divulgar uma iniciativa importante do Movimento Ecoera, a plataforma A Moda pela Água.

    A indústria da moda gasta 80 bi de m3 de água (unidade de medida de volume equivalente a mil litros) por ano e não precisa ser um expert para saber que água é um assunto urgente. Todas as vezes que vestimos nossa calça jeans, o fazemos sem imaginar o quanto de água foi necessário até aquela peça chegar na loja. E depois tem ainda o nosso consumo, que pode ser medido por quantas vezes escolhemos lavar a roupa, muitas vezes sem necessidade.

    A Moda pela Água é uma iniciativa inovadora no Brasil porque, pela primeira vez, há um espaço dedicado a reunir indústria e sociedade civil para conversar, compartilhar questões, mostrar propostas e encontrar soluções. Essa é uma questão que só tem condição de mudança se trabalhada em grupo e, como não podemos escolher se queremos ou não mudar – temos que mudar – a união em torno desse propósito se faz necessária. Em 20 dias de plataforma aberta, o AMPA teve mais de oito mil visualizações, conta com quase 500 cadastros de consumidor final e tem nove empresas cadastradas como Guardiões da Água, entre elas Vicunha, Marisa, Grupo Lunelli e Farm.

    Além de extensa pesquisa e um trabalho lado a lado com terceiro setor e empresas especializadas, como a H2O Company, o projeto conseguiu medir pela primeira vez na história da moda nacional, o consumo médio de água na produção de uma calça jeans no Brasil. “Não existia pesquisa científica nem metodologia aqui para padronizar e gerar um número pro mercado inteiro. Usávamos o modelo da Levi’s para trazer esses dados, mas nossa bacia hídrica é diferente. Como vamos diminuir a partir de um número americano?, questiona Chiara Gadaleta, idealizadora do Ecoera.

    Aqui no Brasil, a Vicunha foi a primeira empresa que topou abrir sua cadeia de valor e receber os especialistas em um trabalho de sete meses para calcular sua *pegada hídrica. Os números resultantes de cada parte do processo, desde o plantio, estão abertos para que outras empresas possam usar como base (gasta-se 5.196 litros de água para fazer apenas 1 calça jeans). “Nós trabalhamos com sustentabilidade de forma egoísta e marqueteira. Você quer mudar só o seu umbigo? Essa é uma nova maneira e tenho tentado convencer as empresas a trabalhar dessa forma. O problema não pertence a uma única empresa e sim a sociedade de uma forma geral”, diz Chiara.

    Infográfico da Pegada Hídrica feita pela Vicunha / Cortesia

    Infográfico da Pegada Hídrica feita pela Vicunha / Cortesia

    A equipe saiu em pesquisa de campo para entender como as empresas de moda estavam tratando o recurso hídrico e ninguém sabia dizer o quanto gastava em água. “Visitei lugares onde os rios estão mortos há muito tempo. Não tem água no Nordeste, só que há muitas empresas que estão lá por incentivo fiscal, então é uma questão muito complexa”.

    Para Chiara, abrir sua cadeia de valor é abrir também uma verdade inconveniente, parafraseando Al Gore, “mas é necessário entregar esse impacto e mostrar, com um olhar científico, como é possível fazer a diferença”.

    Uma das dificuldades que ela encontra é a concorrência entre as marcas e a necessidade de bater metas. Como colocar esses atores todos num lugar onde as pessoas confiem umas nas outras? Como fazer isso de uma forma correta e concreta? “No nosso entendimento, é criar essa associação e colocar todo mundo junto pra encontrar a solução junto. E tem que estabelecer meta de redução, é uma engrenagem enorme que precisa ser mexida”.

    O Moda pela Água segue um processo de etapas. A primeira delas e que acabou de ser lançada, é a abertura para empresas e pessoas. Há encontros presenciais mensais onde essas empresas se olham e falam sobre suas práticas ao lado de especialistas e professores da USP. Esse momento termina no próximo dia mundial da água, em março 2020, com um summit em que serão apresentados os resultados de um ano de trabalho colaborativo na questão do recurso hídrico.

    Nós, cidadãos e consumidores, também podemos exercer nosso papel. Com um simples cadastro na plataforma, passamos a receber um report com informações, avanços e dicas de como usar melhor a máquina de lavar, por exemplo. “Não adianta você comprar uma peça que usou menos água na produção e lavar em casa quatro vezes mais”.

    O Moda pela Água funciona como um rico espaço neutro para que as empresas do setor possam conviver não através da concorrência, mas por um ponto em comum e urgente. Como diz Chiara, “o ‘eu’ não tem voz. O ‘nós’ tem”.

    Pegada hídrica é o rastro que deixamos ao consumir água direta e indiretamente. O consumo de água está ligado às diversas funções da água, tanto no cotidiano das pessoas, como na produção de roupas, alimentos, entre outros. Como comparação, para produzir 1kg de carne bovina são gastos 15,5 mil litros de água, um pouco mais que os 10 mil litros de água usados para fazer 1kg de algodão. Dados da Water Footprint, ong que promove estudos relacionados ao consumo de água.

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