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    Verão 2020: os desfiles e os momentos mais marcantes da temporada internacional
    Verão 2020: os desfiles e os momentos mais marcantes da temporada internacional
    POR Redação

    Por Lucas Dias, em colaboração para o FFW 

    A temporada internacional de Verão 2020 trouxe, além das propostas das coleções, inúmeras ideias, reflexões e momentos marcantes. Fizemos uma revisão do que rolou nas quatro capitais: 

    Nova York 

    Da esquerda para a direita: Marc Jacobs, Prabal Gurung, Pyer Moss, Collina Strada e Eckhaus Latta / Reprodução

    Da esquerda para a direita: Marc Jacobs, Prabal Gurung, Collina Strada, Pyer Moss e Eckhaus Latta / Reprodução

    A primeira cidade do circuito veio com o calendário denso e repleto de novidades. A estréia de Tom Ford como diretor do CFDA mostrou uma diversidade que pode ser interpretada com a dualidade dos EUA sob o comando de Donald Trump. A semana tem se mostrado dividida entre as grifes que já dominam o mercado, como Michael Kors, Coach, Tory Burch e Carolina Herrera – e suas coleções de grande apelo comercial – e marcas jovens ou que se reinventaram e apostam na vanguarda com coleções que trazem narrativas e comentários de cunho sócio-políticos, como por exemplo menção da atual crise imigratória nos EUA, movimentos de resistência LGBTQ+ e questões que dizem respeito a comunidades negras, latinas e feministas. Nesta turma, destacamos: Marc Jacobs (veja mais aqui), Pyer Moss, Prabal Gurung, Collina Strada, Puppets and Puppets, Christian Siriano, Area, Batsheva e Eckhaus Latta. 

    Londres

    Burberry, Christopher Kane, Ashish, Matty Bovan e Dilara Findikoglu / Reprodução

    Burberry, Christopher Kane, Ashish, Matty Bovan e Dilara Findikoglu / Reprodução

    Já associada a algum tempo como a cidade de origem dos jovens talentos que exportam ideias revolucionárias e onde marcas menores possuem rara relevância equivalente às mais estabelecidas, a semana de moda de Londres foi marcada, mais uma vez, pelo Brexit e o momento político turbulento que o Reino Unido enfrenta. De acordo com Boris Johnson, o recentemente nomeado primeiro-ministro, essa teria sido a última semana de moda britânica como parte da UE. Nas coleções, a falta de segurança quanto ao futuro e críticas ao governo foram nítidas. Nomes como Burberry, Matty Bovan, Richard Quinn, Dilara Findikoglu e Ashish desfilaram coleções que são ao mesmo tempo complexas tecnicamente, inovadoras e carregadas de insatisfação quanto ao estado político atual no Reino Unido e no mundo. 

    Vale destacar também Christopher Kane que, em uma de suas melhores coleções, olhou para o meio ambiente e o espaço como inspiração e mostrou uma coleção fluída com shapes futuristas, caimento impecável e a frases de efeito como Eco Sex e Make Love With The Wind estampando moletons e vestidos. Riccardo Tisci escapou do caos e rebeldia mas ainda assim focou no realismo e na transformação e diversidade da sociedade britânica, continuando sua evolução do estilo preppy da Burberry inserindo seus hits de street style, um toque de sensualidade e misturando logos, franjas,  alfaiataria, rendas, mangas bufantes (tendência da temporada) e shapes de sportswear. 

    Milão

    Prada, Gucci, Bottega Veneta, Marni e Versace / Cortesia e Reprodução

    Prada, Gucci, Bottega Veneta, Marni e Versace / Cortesia e Reprodução

    Enquanto Nova York e Londres refletem o momento atual, a moda italiana aposta em escapismo e revê seus dias de glória enquanto mira o futuro. As maiores marcas de moda do país assinaram um acordo proposto pela Camera Della Moda Italiana, onde prometem permanecer mostrando suas coleções na cidade, garantindo que a semana de moda de Milão continue a ser uma parada essencial no circuito internacional.

    Donatella Versace fez um golpe de mestre e quebrou a internet ao fechar seu desfile com Jennifer Lopez usando uma versão atualizada do icônico “jungle dress”, usado por ela no tapete vermelho do Grammy em 2000. Na época ele “viralizou”, inspirando os engenheiros do Google a adicionarem a busca por imagens na plataforma.

    A ideia da Gucci era fazer comentário sobre a submissão do planeta a valores da sociedade atual e ao sistema capitalista na coleção intitulada Gucci Orgasmique. Alessandro Michele conectou elementos de fetiche, remetentes da época em que Tom Ford comandava a direção criativa da Gucci, e camisas de força – que geraram polêmica quando a modelo e artista Ayesha Tan-Jones desfilou com um dos trajes e escreveu nas palmas das mãos “mental health is not fashion” (problemas mentais não são algo fashion).

    Já a Prada, que se recupera com força de um baque em vendas, focou em uma coleção intelectual e cheia de pequenos elementos que foram hits da marca no passado. Miuccia Prada sempre mostrou coleções que podem ser interpretadas conforme o olhar de quem vê. Uns acham lindas, outros estranhas ou até feias. Na Prada, a beleza esta nos detalhes e num olhar mais aprofundado sobre o trabalho da marca. Desta vez, ela fincou os dois pés numa elegância com perfume 50’s, especialmente bonita e chic, com peças decoradas e cheias de textura. O FFW esteve lá e fez uma matéria especial sobre isso.

    Daniel Lee apresentou sua segunda coleção no comando da Bottega Veneta e no mesmo caminho de Miuccia Prada, refletiu sobre os grandes hits e a vasta herança da Bottega, elevando a marca para um patamar cool, contemporâneo e bastante desejável. Lee vem fazendo um excelente trabalho, especialmente ao que diz respeito ao produto, e está criando um renascimento para a marca italiana. 

    Francesco Risso na Marni, marca que nasceu em 1994 e ainda não possui uma herança tão vasta, decidiu olhar para o futuro e focar na sustentabilidade. Assim como em seu desfile masculino em junho, o cenário da Marni levou convidados à assistir o desfile debaixo de uma floresta feita de plástico reciclado. A coleção, que partiu da ideia de que um virus em uma ilha tropical tivesse infectado seus habitantes e os deixado alucinando (um jeito divertido de alarmar o público sobre as consequências do aquecimento global), trouxe estampas florais multi-coloridas, neons, em peças com construções largas e desestruturadas, bordados em crochê e materiais como couro, algodão e seda. 

    + Marcas deixam streetwear de lado e apostam na volta do chic

    Paris

    Balenciaga, Y-Project, Dries Van Noten, Dior e Telfar / Reprodução

    Balenciaga, Y-Project, Dries Van Noten x Lacroix, Dior e Telfar / Reprodução

    Logo no primeiro dia da semana de Paris, que encerrou a maratona internacional, o arrepiante discurso da jovem ativista Sueca Greta Thunberg fez Bernard Arnault, CEO do LVMH, a soltar a infeliz declaração de que as opiniões de Greta seriam “desmoralizadoras para os jovens” e que a ativista “está se rendendo completamente ao catastrofismo”.

    Nas passarelas na Dior, Maria Grazia Chuiri apresentou apresentou uma coleção leve e inspirada na natureza. Inspirada por Catherine Dior, irmã de Christian, que era jardineira, a marca anunciou que seu desfile seria waste-free e que todas as árvores trazidas de diferentes partes do globo para o desfile seriam replantadas em jardins comunitários da cidade (prática que levou a tona a discussão sobre a real necessidade de se transportar as árvores para o cenário em primeiro lugar).

    Givenchy, Celine, Chanel e Saint Laurent também apostaram em coleções leves, inspiradas em diferentes versões da mulher parisiense, esteticamente belas e focadas no produto final. Na Valentino, Pierpaolo Piccioli mostrou uma coleção descomplicada e moderna, intitulada “The ordinary becomes extraordinary”. Foi mais uma sequência de looks lindos e leves que têm encantado cada vez mais a clientela da marca. 

    A estreia de Guillaume Henry para a Patou, que havia caído no esquecimento e foi recentemente adquirida pela LVMH, também segue a mesma linha escapista: feminina, bonita, contemporânea mas sem muita inovação. 

    Porém, um dos momentos mais marcantes da temporada foi desfile de Dries Van Noten, que ao olhar os arquivos do estilista Christian Lacroix (já aposentado das passarelas), decidiu convidar o próprio à colaborar na criação. Juntos apresentaram uma coleção extraordinária focada na arte do Dressing Up, misturando a construção maximalista e elementos-chave como plumas, bordados barrocos e animal prints das coleções de Lacroix que deixaram saudade. Tudo (des)combinado com o jacquard, florais e o manejo de cores e e tecidos nobres que são especialidades de Dries.

    Contudo (e ainda bem), nem tudo foram flores em Paris. Telfar fez sua estréia na capital francesa e abriu semana de moda com um desfile repleto de energia em uma coleção jovem, audaciosa, inegavelmente cool e cheia de propósito.

    Marine Serre desfilou uma coleção focada no preto e visão de um futuro pós-apocalíptico, exercitando ainda melhor sua linguagem tão contemporânea e mostrando cada vez mais inteligência na maneira como usa seu próprio logo. Leia nosso artigo sobre a coleção de Marine.

    Marine Serre / Reprodução

    Marine Serre / Reprodução

    Demna Gvasalia apostou na subversão do realismo cru dos personagens do dia-a-dia para a Balenciaga em um desfile denso, surpreendente, cheio de hits e com cenário que lembrava o parlamento europeu. Ele se inspirou no uniforme profissional do homem comum, levando para a passarela um casting diverso composto por médicos, advogados, stylists, galeristas, etc. O final foi uma ode ao glamour e à extravagância, com os maxi vestidos de noite que apontam para uma outra paixão de Gvasalia: o dress up. A gente conta tudo sobre esse desfile aqui.

    Glenn Martens levou convidados para debaixo da ponte Alexandre III no centro de Paris onde apresentou uma coleção para a Y/Project inspirada pelo período da Belle Époque e misturou elementos históricos com modernidade pura.

    Satoshi Kondo, na Issey Miyake, e John Galliano na Maison Margiela mostraram coleções inovadoras e ainda assim condizentes com o DNA das marcas – ambos os shows transcenderam as passarelas, viralizaram nas redes e chegaram a virar memes. Miyake com sua linda perfomance envolvendo drones e vestidos plissados; e Margiela com sua coleção inspirada na cientista Marie Curie e na enfermeira da Segunda Guerra Mundial Edith Cavell. “Essas pessoas lutaram por você para que você possa votar, então faça-se ouvir. Testemunhando o próprio colapso da fibra moral da sociedade, a banalização da democracia e da União Europeia … Não foi por isso que eles lutaram pela paz? Eu amo esse espírito de ativismo”, disse Galliano em seu podcast. E quem incorporou essa atitude foi o modelo Leon Dame, que fechou o desfile com “aquela caminhada” e olhar matador.

    Leon Dame na Margiela / Reprodução

    Leon Dame na Margiela / Reprodução

    Nicolas Ghesquière também se inspirou na Belle Époque e injetou mais uma vez uma bela dose de construções futuristas e arquitetônicas para o desfile da Louis Vuitton. Ele fechou a temporada com uma imagem linda que, certamente, apareceu no seu feed:  o cenário era um gigante telão que exibia o videoclipe da emocionante música “It’s Okay To Cry”, da cantora transgênero Sophie.

    E por falar em memes, não podemos esquecer o desfile da Chanel, que ficou marcado pela aparição surpresa da comediante francesa Marie Benoliel – mais conhecida como Marie S’Infiltre – que invadiu o final do desfile e foi escoltada para fora da passarela por ninguém menos que Gigi Hadid. 

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