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    Poderoso chefão
    Poderoso chefão
    POR Augusto Mariotti

    Por Raisa Carlos de Andrade, em colaboração para o FFW

    O diretor de desfiles e fotógrafo Zee Nunes ©Felipe Abe

    O diretor de desfiles e fotógrafo Zee Nunes é o nome por trás de boa parte dos desfiles das temporadas brasileiras de moda. Neste Fashion Rio Verão 2013/14, 10 marcas atravessaram a passarela sob seu olhar minucioso. O trabalho, que alcança cerca de 18 horas diárias, é capaz de afastar qualquer questão de sua vida pessoal durante os cinco dias em que as coleções são apresentadas. De tudo, ele só não cuida da confecção. Todo o resto é passado por sua equipe, que trabalha por dois meses para que a coleção seja apresentada. Seu nome é um dos mais temidos nos backstages, mas por trás do timbre de voz há o encantamento pela moda.

    Cada vez mais apaixonado pela fotografia, Zee aos poucos designa a parte técnica dos desfiles a Bill Macintyre, com quem trabalha há mais de uma década. Ainda assim, admite estar longe de abrir mão do desgaste físico dos desfiles: a criação do conceito é seu grande interesse e razão pela qual pretende trabalhar no mínimo mais 20 anos. “Meu maior medo é parar de ser criativo e virar preguiçoso. Chego em casa,  ligo o computador, vejo o desfile de todo mundo, vejo as modelos, faço pesquisas de imagens. Estou pesquisando constantemente”, conta.

    Como explica o interesse de tantos clientes pelo seu trabalho?

    Sou uma pessoa muito séria e apaixonada pelo que faço. Estou passando meu cargo para o Bill, que já trabalha comigo há muitos anos e é meu agente. Não fiz a coleção passada e me deu quase uma tristeza. Sou completamente apaixonado por moda, por imagem de moda. A fotografia é a minha paixão principal. Na verdade, cinema é uma coisa que eu amo, fiz New York Film Academy, mas senti muita falta de ter feito os desfiles. Acho que todos me procuram por essa paixão.

    Em que momento a moda entrou na sua vida?

    Me lembro que queria ser diretor de cinema aos 12, 13 anos. Sempre quis dirigir, desde que vi “A Noviça Rebelde”. As imagens e o poder de criá-las para serem apreciadas pelos outros sempre foi uma coisa minha. Depois fui ser surfista, fiz biologia, me chamaram para ser modelo, mas sempre fui um modelo que se interessava por tudo. Ia fazer um desfile e olhava a roupa. Sempre apreciava ou não o que estava vestindo, a fotografia… Sempre queria saber quem era o fotógrafo, se eu admirava ou não o trabalho dele. Sempre gostei, não sei explicar.

    E seu trabalho com a fotografia foi resultado disso?

    Uns seis anos atrás eu fiz NY Film Academy e quando voltei, vi que não teria tempo de fazer cinema. Vi que teria que parar tudo para começar uma nova história. Fiz dois ou três curtas e resolvi fazer um projeto pessoal. Sempre fotografei com luz contínua, mas fiz uma exposição com luz natural, me apaixonei completamente e aí foi crescendo. Fui fazendo coisas pequenas, especiais; a princípio não queria fazer moda, fui fazer artes e concluí que estava quase mentindo – para mim e para as outras pessoas – porque eu tinha um olhar de moda sobre aquilo. Então vi que não era vergonha, que era algo que eu era apaixonado e a cada coleção mais pessoas me chamavam para fotografar.

    Moda é arte?

    Para algumas pessoas o pensamento de uma coleção é artístico, completamente artístico. Para outras, não. Mas arte também é comércio, né? Todo artista quer comercializar e ser aceito, entendido, gostado. Acho que na moda tem pessoas incríveis.

    Existe alguma marca que tenha interesse em fotografar?

    Tem marcas que não são conhecidas ou comerciais e eu tenho o maior prazer em fazê-las também. Existem também as que eu ache a imagem ruim ou defasada e gosto de pegar aquilo, entender o DNA da marca e refazer. Aí chamo pessoas com quem eu gosto de trabalhar, coisa que é muito importante no que faço. Trabalho só com stylists que eu gosto, gente que faz cabelo e maquiagem que eu gosto. Para mim, a equipe é o sucesso para construir uma marca. E sempre pergunto se vendeu bem, como foi aceita. Gosto muito de entender. Não faz sentido de outra forma. É ficar fazendo portfólio e ganhando dinheiro, o que não é o meu interesse.

    De onde vem a imagem temida nos backstages?

    Hoje em dia não, mas sou uma pessoa meio explosiva às vezes. Falo alto, acho que é um pouco isso, mas sou super carinhoso com as meninas. Tenho um carinho absurdo pela minha equipe, ninguém toca nela. Respeito todo mundo, tenho o maior cuidado para não desrespeitar as pessoas. Mas tem isso de ser explosivo, de falar o que vem na cabeça na hora porque é muita pressão.

    Dá para conciliar tanto trabalho à vida pessoal?

    Mais ou menos. Sou casado há oito anos e trabalho todos os dias. Saio pouco, no máximo para jantar com meus amigos. Tenho só a noite para sentar junto com ele, assistir televisão. No meu tempo livre estou em casa, nunca fui baladeiro.

    Mas durante a semana de moda não…

    Não. Não dá para nada. Mal dá para dormir. Tenho dormido duas, três horas por noite…

    Sua profissão é vista com certo glamour.

    Que bom que acham que tem glamour. A gente precisa de gente nova, sangue novo. Tem tudo isso se você ama, vai continuar tendo essa sofisticação, mas é algo que dá muito trabalho. É bom que as pessoas achem isso, desde que percebam o quão duro e difícil é ter realmente essa paixão para continuar.

    Como é a sua rotina por aqui?

    Tenho que vir, olhar, ver a montagem, bater o ponto para que tudo seja impecável. Aprendi que se você não tem esses cuidados, o próximo dia é muito mais estressante, muito mais cansativo. Prefiro dormir menos e ter menos stress do que dormir bem e acordar com um pepino gigante. Acho que fiz 10 desfiles nesta temporada, trabalhando no mínimo 18 horas por dia.

    Pretende deixar a direção de lado pela fotografia?

    Quero mudar. Não quero parar de trabalhar na imagem da marca. Algumas marcas eu faço a campanha e outras não, mas gosto muito de amarrar. Tem trabalho que é meio esquizofrênico, que o desfile é uma coisa, a campanha é outra. Eu sempre tento juntar a música, o cenário. Isso eu ainda tenho paixão. Eu não tenho mais paixão pela coisa mais básica, como soltar modelo. Gosto do pensamento da luz, de ver acontecer, criar o conceito. Hoje em dia, com 50 anos de idade, posso me dar ao luxo de ficar com essa parte.

    Pensa em parar?

    Não tenho vontade de me aposentar. Estou longe disso. Espero trabalhar até os 70. Meu maior medo é parar de ser criativo e virar preguiçoso. Chego em casa,  ligo o computador, vejo o desfile de todo mundo, vejo as modelos, faço pesquisas de imagens. Estou pesquisando constantemente.

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