O estilista Conrado Segreto ©Divulgação
“Quando Conrado Segreto apareceu pela primeira vez na minha sala e na minha vida, meu olho arregalou, meu coração acelerou, tudo porque… ah, enfim, até que enfim algo emocionante estava me acontecendo: aquele menino topetudo, olho vivo, gesto ansioso, tão ansioso que sem querer deixou que todos os seus desenhos escapassem de sua pasta e fossem parar no chão. Eu, mais ansiosa ainda, acabei de joelhos, na pressa de poder ver logo tudo”.
São as palavras de Regina Guerreiro que abrem o livro “Moda e Paixão”, que será lançado dia 10 de dezembro pela Luste Editores, e que mostra o talento deste estilista brasileiro, nos 20 anos de sua morte.
Croquis desenhados por Conrado Segreto que estão no livro “Moda e Paixão” ©Reprodução
Adjetivos como ousado, provocador, inventivo, inquieto, exigente, curioso e corajoso são normalmente ligados ao nome de Conrado, jovem que conquistou o mundo da moda no Brasil a partir dos anos 80 e que morreu precocemente, vítima da HIV, aos 32 anos, em 1992. Os croquis exibidos nesta página são apenas uma das maneiras de traduzir o espírito do estilista: independente do estilo de moda que mostram, seus traços passeiam entre o universo pop e o glamour, são belos, gostosos de olhar, divertidos, nunca entediantes ou insossos. O que já vale o livro, que tem direção de arte de Graziela Peres, diretora da revista “Mag!”.
“O seu fascínio pela moda vinha da alta-costura, da elegância, dos grandes bailes dos anos 50, da influência dos grandes criadores internacionais, como Yves Saint Laurent, Christian Dior e Balenciaga”, diz Tufi Duek em texto publicado no livro. “Ele era um jovem criativo, ousado e bastante moderno”. No mesmo texto, Tufi ainda conta: “Lembro-me de uma entrevista em que ele perguntava, indignado, como todo mundo queria usar uma calça jeans com um `F´ na bunda?”, referindo-se à Forum, marca que criou.
Croquis desenhados por Conrado Segreto que estão no livro “Moda e Paixão” ©Reprodução
Segreto fez desfiles memoráveis (Casa Rhodia, Faap, Museu do Ipiranga e Casa Manchete), mas também era um ilustrador talentoso, cujos desenhos eram publicados na revista “Vogue”. Como disse João Braga no prefácio, “ele não media suas palavras para e com quer que fosse, sempre fiel a sua visão de mundo, ao seu próprio sonho e a sua vontade de imprimir um bom, refinado e sofisticado gosto à moda no Brasil”.
Rita Segreto, irmã do estilista e idealizadora do livro junto à jornalista Eva Joory, falou ao FFW sobre o processo.
Quando surgiu a ideia de fazer o livro?
Há dois anos a revista “RG” me pediu uns croquis do Conrado para uma matéria e a Eva Joory era a jornalista que escreveria o artigo. A partir disso, a Eva e eu resolvemos fazer o livro e tudo foi se encaixando e acontecendo.
Como foi o processo de criação do livro? Quanto tempo durou da ideia até a realização?
Foi tudo muito sincronizado! O material era extenso e precioso; a equipe experiente, madura e talentosa. Fizemos o livro em menos de um ano.
Pessoalmente, como irmã, como foi mergulhar na história do Conrado para contar essa história?
Muito familiar. O Conrado está sempre por perto. Já fazem 20 anos? O tempo é brincalhão. Eu olho o trabalho dele e acho que ele fez tudo ontem.
De seu legado, o que é mais importante para a moda hoje?
A coragem de bancar o seu desejo, de não se domesticar em relação à estética vigente, e portanto imprimir uma identidade diferenciada e singular. E possível.
Como você gostaria de apresentar o Conrado para os jovens de hoje, que ainda não são familiares com o trabalho dele?
Gostaria de apresenta-lo como o “Marc Jacobs” do Brasil. Como disse o Tufi Duek: o Conrado teria tido uma vibrante carreira internacional, sem nenhuma dúvida. E por que não trazer Conrado Segreto de volta ao mercado.
“Conrado Segreto – Moda e Paixão” (200 páginas; R$ 80)
Lançamento: 10 de dezembro
Livraria da Vila no shopping JK Iguatemi, a partir das 19h